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O infectologista Júlio Croda, que pediu demissão do Ministério da Saúde há algumas semanas, reforçou a necessidade de quarentena para conter o avanço do coronavírus no país.
“O que realmente funciona é isolamento social, testagem em massa e leito de UTI. Importante existir um discurso unificado e não politizar o debate. Essa medida é a mais efetiva para ter capacidade de resposta à epidemia”, afirmou ao Estadão o ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.
Croda é pesquisador da Fiocruz e membro do Centro de Contingência contra Coronavírus de SP.
Ele explicou que seu pedido de demissão não teve nada a ver com ministro Luiz Henrique Mandetta, mas sim com as falas de Bolsonaro que apontam contra a direção dada pelo Ministério da Saúde e que enfraquecem a quarentena. Ele diz que não aceitou responsabilizar-se por mortes decorrentes do discurso bolsonarista contra o isolamento social.
“Eu não quis ser responsável por essa recomendação que é equivocada contra o isolamento social. E responsável por um número de óbitos importante. A gente sabe que, se não tiver isolamento, vai aumentar o número de casos. Vai superar nossa capacidade. Principalmente de atendimento na população mais pobre”, frisou.
“Não tem nada a ver com o ministro, ele apoia essas medidas de isolamento. Isso é claro e evidente. Mas existe um ruído entre o que o ministério fala e o que o presidente fala”, completou.
Para o infectologista, com a saída de Mandetta, o combate à Covid-19 vai sofrer um impacto negativo muito grande.
“O que a gente vai ter, se o ministro ficar ou não, é a consequência de uma orientação do presidente. Muito difícil acreditar que só o ministro teria capacidade de reforçar a mensagem de isolamento e isso ser efetivo. O que a gente está vendo, com troca ou não de ministro, que pode se concretizar nas próximas horas, dias, é que isso é um enredo final da nossa derrota em relação à resposta à Covid-19.”