“Bolsonaro se transformou no mensageiro da morte” ao desrespeitar a quarentena e as orientações da OMS, afirmou em entrevista ao HP o deputado federal e ex-ministro do Esporte
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que “a apologia que Jair Bolsonaro faz do AI-5 e da intervenção militar é, ao mesmo tempo, expressão do viés autoritário que ele tem e a tentativa de tirar o foco da realidade, na qual começam a ser contados na casa dos milhares o número de mortos pelo coronavírus no Brasil”.
Orlando Silva disse que Bolsonaro participou da manifestação golpista em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, para “confundir a população brasileira e insinuar que existe um apoio das Forças Armadas às sandices dele”.
“As Forças Armadas não estão do lado dele, e nós não podemos morder essa isca. Elas compõem uma das principais instituições nacionais, com papel constitucional previsto – e tenta cumpri-lo à risca”, continuou Orlando Silva na entrevista ao HP.
“Bolsonaro não representa as Forças Armadas. Aliás, ele foi um péssimo militar”, disse o deputado do PCdoB, referindo-se ao episódio em que Bolsonaro, em 1987, na época cursando a Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), apresentou um plano para explodir bombas em vários quartéis se o reajuste dos militares, naquele ano, ficasse abaixo de 60%. Era uma tentativa de coagir o alto comando das Forças Armadas por reajuste salarial.
Bolsonaro foi submetido a um “conselho de justificação” no Superior Tribunal Militar. Não foi expulso, mas acabou indo para a reserva. Leia aqui Terrorismo de baixa potência
“Ele só usa a alcunha de capitão para iludir alguns”, lembrou.
“Ele tenta fragilizar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) porque são instituições, poderes autônomos, que podem conter seus ímpetos autoritários”. “Seu intuito é instaurar o caos no Brasil”, continuou.
Ao participar da manifestação, durante a qual discursou, interrompido várias vezes por uma tosse, Jair Bolsonaro ignorou todas as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a contenção do coronavírus, que são de fazer quarentena.
“Bolsonaro se transformou no mensageiro da morte, porque quando ele vai para rua e estimula aglomeração de pessoas, ele assume o risco de transmitir coronavírus nas atividades que realiza”, apontou Orlando Silva.
“Ao descumprir as orientações da OMS, ele se transformou no líder mundial que ameaça o seu próprio povo, um líder político que ameaça seu próprio povo. A atitude dele é de um genocida”, reforçou.
“Esses ataques que ele tem feito contra o Congresso Nacional, particularmente contra Rodrigo Maia [DEM-RJ, presidente da Câmara dos Deputados], são tentativas de tirar do foco a incapacidade que ele tem de governar o Brasil diante de uma crise desse tamanho”, afirmou Orlando.
Depois da aparição na manifestação pró-AI-5, “ele foi pressionado por todo mundo, por toda a sociedade brasileira, lideranças não só políticas”, avaliou o deputado.
“Seguramente, as Forças Armadas ficaram incomodadas por eles terem usado um dia importante, que é o Dia do Exército, para fazer aquela palhaçada. Agentes econômicos devem ter pressionado eles porque o Brasil hoje vive uma evasão de capitais, também por conta da desmoralização do governo federal”, avaliou.
“Ele vai agredindo a democracia, aí quando toma uns cascudos, toma pressão, diz que não é bem assim. Ele não tem uma personalidade que dignifique a Presidência e mereça a nossa confiança. Vai chegar a hora que ele vai ter que pagar pelas coisas que tem feito contra o povo brasileiro”.
RESPOSTA DO CONGRESSO NACIONAL
Para Orlando, o Congresso Nacional deve se comportar com o Bolsonaro investido do “exercício do poder legislativo”. “Se ele manda propostas, como as Medidas Provisórias que tem mandado, que atingem os direitos dos trabalhadores, o Congresso Nacional deve fazer com que essas propostas passem a beneficiar, e não dificultar a vida dos trabalhadores”, defendeu o ex-ministro do Esporte.
“Não precisamos apenas publicar nas redes sociais, precisamos exercer o poder legislativo para impedir que avance essa sanha do Bolsonaro”, afirmou.
O deputado também indicou que essa atitude de Bolsonaro pode ser interpretada como “crime de responsabilidade”. “Aí ele será cobrado. A questão é que com o afastamento do presidente: primeiro que não é uma operação simples, segundo que se exige a construção de uma saída política. Mas essa saída não está dada”, observou.
DEMISSÃO DE MANDETTA
“Acredito que foi mais uma na equipe do Bolsonaro: demitiram o comandante no meio da guerra. Isso vai dificultar ainda mais a ação do Ministério da Saúde”, analisou Orlando.
“O crime de Mandetta [ex-ministro da Saúde] foi acreditar que existe a ciência, achar que a Organização Mundial de Saúde tem razão ao orientar que o isolamento social seja feito no Brasil”.
Segundo o deputado, “Bolsonaro não suportou, porque é um ególatra, que o ministro tivesse um prestígio político maior do que o dele”.
Para Orlando Silva, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, está se mostrando “ser omisso” na defesa da ciência. “Quando o presidente da República fere a orientação internacional de confinamento e de isolamento social e o ministro da Saúde não faz nada, ele já mostra que é um boneco manipulado pelo Bolsonaro”.
“Ele não foi indicado para implementar uma política efetiva no combate ao coronavírus”. “[Teich] é empresário da Saúde, não conhece o SUS [Sistema Único de Saúde], nunca geriu nenhum serviço público de saúde, não sabe o que é saúde pública. Até o cara entender o que é a saúde pública já acabou a crise do coronavírus”, ironizou.
Orlando acredita que o dissenso entre Mandetta e Bolsonaro fez com que a população brasileira ficasse confusa sobre o que fazer. “Tenho ouvido que na periferia de São Paulo muita gente continua circulando nas ruas porque não sabe quem ouvir. O presidente fala uma coisa, o ministro falava outra”.
“O líder nacional deve ser o líder para preservar as vidas, a economia e o desenvolvimento do Brasil. Mas nessa fase de garantir o distanciamento social o Bolsonaro não faz nada disso. Portanto, ele não tem nenhum tipo de compromisso com a preservação das vidas no Brasil”.
BOLSONARO PERSEGUE GOVERNADORES
Para conseguir importar respiradores da China para seu estado, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), teve que levá-los primeiro para a Etiópia e depois trazer para o Brasil. Jair Bolsonaro mandou a Receita Federal processar Dino.
“Ora, o Flávio Dino deu um drible de Garrincha no imperialismo e no governo federal, fazendo com que os respiradores saíssem da China e passassem na Etiópia para chegar ao Brasil. Dino está defendendo seu povo, a saúde do seu povo”, disse Orlando.
“Bolsonaro está querendo fazer luta política porque o cara [Dino] quer defender o povo”.
“Essa atitude belicista do Bolsonaro para com os governadores e prefeitos serve apenas para os intentos genocidas dele, e não ajuda em nada ao combate do coronavírus e à preservação da vida de nosso povo”, concluiu o parlamentar.
PEDRO BIANCO