“Você tem na presidência do BNDES um desses jovens da Faria Lima, que tem uma dificuldade muito grande de enxergar o banco com essa função”, afirma Luiz Carlos Mendonça de Barros
O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afirma que a grande lição da crise do coronavírus é que os bancos públicos são fundamentais para a economia. E destacou: “outra lição que vai sair dessa crise: vai parar essa encheção de saco de fechar banco público”.
“É fundamental ter um sistema bancário público eficiente porque na hora do aperto são os bancos públicos que respondem ao que a sociedade precisa”, disse Mendonça de Barros, em live promovida pelo jornal Valor Econômico na semana passada.
Segundo ele, os bancos privados se retraem na crise. E citou como exemplo a doação do Banco Itaú para o combate à pandemia do coronavírus. “O banco Itaú dá um bilhão de reais de doação porque é mais barato para ele do que correr risco maior na sua operação de crédito”.
Segundo ele, não estava criticando, mas esse é o papel do banco privado, obter lucro.
“Na hora do aperto são os bancos públicos que respondem ao que a sociedade precisa”
“Uma economia tão insegura e cheia de problemas como a brasileira precisa de um sistema de bancos públicos eficiente, porque numa crise como a atual o sistema bancário do mundo todo se tranca e é da natureza dele fazer isso”, disse.
Sobre a atuação do BNDES na crise sob o governo de Jair Bolsonaro, Mendonça de Barros afirma que falta à direção da instituição entender o papel social do banco: “Você tem na presidência do BNDES um desses jovens da Faria Lima, que tem uma dificuldade muito grande de enxergar o banco com essa função”.
Ele citou como exemplo o fundo de aval do BNDES, anunciado pelo governo na semana passada para garantir ao menos uma parte do risco do crédito a ser concedido para as empresas, fazendo com que também os bancos privados entrem no sistema. Segundo ele, o fundo existe há 31 anos.
Para Mendonça de Barros, é fundamental entender o papel do Estado no estímulo à economia em momentos de crise, incorporando ideias do economista britânico John Maynard Keynes. “Eles nunca estudaram na faculdade a possibilidade de um apagão como o que estamos tendo”, afirmou.
Para o economista, o diagnóstico do problema econômico gerado pela pandemia foi preciso no mundo, ao entender que a questão era centrar o socorro na interrupção abrupta no fluxo de renda das pessoas, empresas e governos. “O problema real é manter fluxo de renda na sociedade”.
Segundo Mendonça, “o único ente de governo que tem condição de arrecadar recursos fora o normal da atividade econômica são os estados nacionais, via dívida pública, que foi o que está acontecendo”. Ele citou o governo inglês, um governo “ultraconservador, ultraliberal na economia, que foi o primeiro país a cobrir 80% dos salários das empresas”. “Foi a medida mais radical que eu já vi na minha vida”, ressaltou.
“Não tem jeito, tem que dar dinheiro aos estados e jogar o ônus para a União”
Sobre a queda na arrecadação dos estados com a quarentena, Mendonça de Barros afirma que “os estados são responsáveis importantes por serviços públicos, então, não tem jeito, tem que dar dinheiro aos estados e jogar o ônus para a União”.
Mendonça destaca que o auxílio emergencial de R$ 600 aos trabalhadores informais é essencial, assim como o crédito para que as pequenas e médias empresa não demitam e mantenham seu quadro de funcionários.
Para ele, é a melhor forma de passar por essa transição para que a economia saia da crise.
Como previsão, Mendonça de Barros estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do país deve cair em torno de 4% em 2020, reafirmando que para a recuperação a partir de 2020 será necessário papel ativo do Estado.