Depois de descartar, na última campanha eleitoral, voltar a estar coligado com Ângela Merkel, garantir que “ia para a oposição” e outras juras de comício, o presidente da social-democracia alemã, Martin Schulz, fez meia volta, volver, e aprovou em cúpula partidária no final de semana “retomar as conversações” para restauração da “grande coalizão”. Desde setembro passado, Merkel vem tentando, em vão, constituir novo governo.
Para aplacar a ira do eleitorado e a desconfiança de parte do partido – como a juventude (Jusos) de que, se continuarem sob a asa de Merkel, o partido vai sumir do mapa, Schulz aprovou que o acordo com a primeira-ministra irá a referendo dos 440 mil filiados.
Segundo a ala jovem, o SPD precisa ir “para a esquerda” (ou pelo menos aparentar que vai) sob risco de virar “irrelevante”, mas não é isso que acontecerá nessa seresta de Schulz para Merkel. Aos jovens, Schulz advertiu que era a “grande coalizão ou novas eleições”. E como se sabe, tanto Merkel quanto o SPD tiveram os piores resultados eleitorais desde a II Guerra.
Talvez alguém devesse contar ao pessoal dos Jusos que o SPD não ganha uma eleição nacional há mais de uma década porque seu líder Gerhard Schroeder, quando primeiro-ministro, traiu as promessas de campanha e aprovou a “reforma trabalhista” conhecida como “Leis Volkswagen” que arrochou os trabalhadores em 2004, bem antes de Berlim estender aos outros europeus seu “austericídio”.
Já Merkel anda dizendo que a Democracia-Cristã precisa ir mais para a direita, para reconquistar os eleitores que desertaram seu partido pelo AfD contra a imigração, após a guerra dos americanos na Síria empurrar 1 milhão de refugiados para a Europa, e Merkel ter de segurar o tranco.
Conforme o dueto de neoliberais de direita e de “esquerda”, é preciso assegurar a “coesão social” da Europa e a rédea curta sobre os demais europeus, nesses tempos bicudos em que o chefe da ocupação canta a ária da “America First”. (Não era “Deutschland”?)
As conversas “exploratórias” SPD-Merkel no início do mês concordaram em limitar a 200 mil por ano as chegadas de solicitantes de asilo – o que a iminente vitória de Assad deve tornar possível. As partes também teriam acertado reprimir a evasão fiscal praticada na União Europeia pelos gigantes tecnológicos dos EUA. Até aqui, Berlim segue sustentando o acordo nuclear com o Irã, apesar das pressões de Trump.