Segundo a Agência Reuters, o objetivo é fazer da Embraer uma subsidiária da múlti norte-americana
A norte-americana Boeing pretende apresentar uma nova proposta para assumir o controle acionário da Embraer. Segundo divulgado pela agência de notícias Reuters, no último dia 18, a multinacional pode oferecer até US$ 6 bilhões pela empresa e estaria disposta a manter a “golden share” do governo brasileiro (ação com poder de veto).
De acordo com o material divulgado pela agência de notícias, o plano inicial da Boeing é transformar a Embraer em sua subsidiária na América Latina. Ou seja, transformar a terceira maior empresa do setor, numa montadora de aviões projetados pela Boeing.
Ainda segundo a Reuters, um assessor de Temer disse que “a Força Aérea é a principal fonte de resistência” aos planos da múlti e “os militares se opõem a qualquer separação da Embraer”. O assessor disse que o ministro da Defesa, Raul Jungmann, ainda não fez uma recomendação sobre o acordo da Boeing para Temer. Ele se reuniu com executivos da empresa, no último dia 12, e disse estar tratando de “parcerias”.
Em um comentário enviado à agência de notícias, a Força Aérea Brasileira (FAB) disse que “considera a Embraer uma empresa estratégica que é fundamental para nossa soberania nacional, então uma possível parceria com a Boeing também deve ser estudada deste ponto de vista”.
Nascida na década de 60, a Embraer foi criada com o objetivo de implementar uma indústria aeronáutica nacional em um contexto de políticas de substituição de importações. A empresa foi privatizada em 1994, pelo governo Itamar Franco, mas ainda assim, o governo mantinha uma parcela significativa das ações, cerca de 40%, por meio dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil) e Sistel (Telebrás).
Em 2006, com o aval do governo Lula, foi aprovada a pulverização do controle da empresa. Desde então, a participação acionária do governo na empresa têm diminuído. O Previ, que ficou com maior fatia de ações na reestruturação de capital em 2006 (16,42%), hoje tem apenas 4,75%. O Sistel, que ficou com 7,35% na época, se desfez de todas as suas ações.
Apesar disso, a Embraer ainda trabalha em estreita colaboração com a Força Aérea, e os militares temem que este acordo termine com uma intervenção dos Estados Unidos sobre os programas brasileiros de defesa.
ALCÂNTARA
A participação da Embraer em operações na base de Alcântara é discutida com o governo há pelo menos um ano. A empresa tem interesse em expandir seus negócios no setor espacial e participar do VLM (Veículo Lançador de Microssatélites).
O vice-presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial, José Monserrat Filho, disse ter muitas ressalvas quanto a um possível acordo entre o Brasil e os Estados Unidos nos setores de defesa e aeroespacial, principalmente com relação à concessão da base de Alcântara e a venda da Embraer.
“No mínimo teríamos que preservar os interesses do país, a soberania nacional. O problema é que o Governo Temer e o Congresso não têm nenhum compromisso com os interesses nacionais”, disse Monserrat.
Ele acredita que se a Boeing comprar a Embraer a transformará em uma subsidiária e o país perderá o controle estratégico da empresa, que passará a atender demandas do governo norte-americano. “Ela [Boeing] é uma sucursal do Pentágono, no sentido que ela está permanentemente atendendo às solicitações e necessidades do governo dos Estados Unidos”, ressaltou.
CAÇAS
Se a compra da Embraer pela Boeing for efetuada, a fabricante sueca Saab pode rever seu contrato para fornecer caças Gripen à Força Aérea Brasileira (FAB). A Boeing é concorrente direta da Saab, e a compra coloca em risco os segredos tecnológicos de seu produto. O presidente da empresa, Hakan Buskhe, tem uma reunião marcada com Raul Jungman, nesta quinta-feira (25).
Em 2013, o avião sueco venceu a concorrência internacional, para o fornecimento dos caças, contra o francês Dassault Rafale e o americano F/A-18, da Boeing. O contrato de R$ 15,7 bilhões, para a entrega de 36 aviões até 2024, foi assinado em 2014. Segundo contrato firmado a Saab fará a transferência de sua tecnologia para a FAB e empresas nacionais, principalmente para a Embraer, que produzirá 15 aeronaves.