Rolim perdeu o pai vítima da Covid-19: “Talvez ele [Bolsonaro] diga isso [E daí?] porque não perdeu ninguém muito próximo para o vírus”
O dentista Guilherme Rolim, que perdeu o pai vítima da Covid-19, votou em Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, mas relata ter ficado indignado com a postura do presidente no combate ao novo coronavírus.
Ele afirma que não se arrepende de ter votado em Bolsonaro no segundo turno e classifica o voto como um “mal necessário” para não ter a volta do PT. Disse que já votou no PT, mas não vota mais.
Porém, admite estar extremamente decepcionado. “A mudança era importante, mas o presidente é muito despreparado”, disse em entrevista à BBC Brasil.
Segundo o dentista, o motivo mais recente para a revolta é a declaração dada à imprensa na noite da última terça-feira (28). “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, disse Bolsonaro a jornalistas, ao comentar sobre o número de mortos pela doença no Brasil.
“O Bolsonaro é um cara inconsequente. Essa declaração beira a irresponsabilidade e é um desserviço. O presidente está brincando com uma coisa muito séria”, afirmou Guilherme Rolim.
Guilherme perdeu o pai em 1º de abril, por complicações causadas pela Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. “Como filho que perdeu o pai para o vírus, temo as consequências das coisas que o presidente fala. Talvez ele diga isso porque não perdeu ninguém muito próximo para o vírus, não sentiu como isso causa uma dor muito grande”, acrescentou o dentista.
“O meu pai não tinha nenhum problema prévio de saúde. Ele fazia caminhada e academia. Ainda é um vírus muito incerto e os especialistas estão descobrindo mais sobre ele aos poucos. Por isso é importante termos muitos cuidados”, diz Guilherme, que também teve a covid-19, ficou isolado por mais de duas semanas e se recuperou.
Bolsonaro deu a declaração ao ser questionado sobre o fato das mortes pelo novo coronavírus no Brasil terem ultrapassado naquele momento os registros da China, que registrou 4.637 mortos desde 11 de janeiro, quando foi confirmado o primeiro óbito em decorrência do vírus no país.
“Ele começou a falar besteiras desde o primeiro discurso sobre o coronavírus, quando disse que era uma gripezinha. Com essas declarações, demonstra falta de compaixão ao próximo”, afirma Rolim.
Para Guilherme Rolim, não é o momento para relaxar as medidas de distanciamento social, embora espera que o país cresça economicamente. “Espero que o país tenha um crescimento econômico dentro do possível, mas a prioridade neste momento deve ser o enfrentamento ao coronavírus”, diz.