O fotógrafo Sebastião Salgado organizou um manifesto com dezenas de personalidades nacionais e internacionais para cobrar das autoridades brasileiras a proteção das comunidades indígenas contra o novo coronavírus e contra invasões de terras.
O receio é que a contaminação provoque um número muito grande de mortes e dizime os povos originários do país. O aumento do número de invasões em terras indígenas durante a pandemia também é denunciado no texto.
A ideia de Sebastião Salgado de lançar um manifesto, uma carta aberta para cobrar das autoridades do governo, do Congresso e do Judiciário que ajam para frear o contágio nas aldeias. Esse pedido de ajuda já conquistou o apoio de 67 personalidades do mundo inteiro.
Assinaram o texto o Príncipe Albert II de Mônaco, Presidente da Fundação Príncipe Albert II, a atriz francesa Juliette Binoche, os cineastas, o espanhol Pedro Almodovar e os mexicanos Alejandro González Iñarritu e Alfonso Cuarón, os atores americanas Meryl Streep, Glenn Close e Richard Gere, os músicos brasileiros Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, dentre outros.
O documento já conta com apoio de mais de 200 mil pessoas.
O texto alerta para a ameaça de sobrevivência dos indígenas por conta da pandemia, e lembra o passado desses povos.
“Há cinco séculos, esses grupos étnicos foram dizimados por doenças trazidas pelos colonizadores europeus. Ao longo do tempo, sucessivas crises epidemiológicas exterminaram a maioria de suas populações. Hoje, com esse novo flagelo se disseminando rapidamente por todo o Brasil, comunidades nativas, algumas vivendo de forma isolada na Bacia Amazônica, poderão ser completamente eliminadas, desprovidas de qualquer defesa contra o coronavírus”.
Para contar em imagens a história de etnias indígenas da Amazônia, foram sete anos de contato. E foi pelas próprias comunidades que o fotógrafo Sebastião Salgado soube da situação de risco até de extinção de algumas etnias pela Covid-19.
“Eles são muito vulneráveis às doenças de fora da floresta, às doenças de branco, às doenças trazidas de outros países. Eles não têm defesa imunológica, então estão altamente preocupados, hoje com a invasão dos territórios indígenas por garimpeiros, por grileiros por exploradores de madeira e por seitas religiosas, que estão entrando sem nenhuma autorização da Funai, o Brasil ficou sem filtro de proteção aos territórios indígenas. Então, existe uma possibilidade real de exterminação dessas populações indígenas”, destaca o fotógrafo.
O Ministério Público Federal também já tinha feito o alerta de que em diversos momentos da nossa história doenças provocaram a morte em massa de indígenas.
Para Sebastião Salgado, só a pressão internacional, como a que foi feita, no ano passado, durante as queimadas fora de controle na Amazônia, pode forçar uma mudança na política indigenista: “eu espero que todas as pessoas de boa vontade assinem para que o nosso corpo legislativo veja a importância do número de pessoas preocupadas com o que está acontecendo hoje na Amazônia”, disse.