O biólogo Atila Iamarino, uma das principais vozes na divulgação científica durante a pandemia de coronavírus no Brasil, afirmou em uma live nas redes sociais que o número de mortos no Brasil pela Covid-19 pode ultrapassar 1 milhão, com a política defendida pelo presidente Jair Bolsonaro.
Ele se baseou em estudos realizados fora do país, como em Nova York, nos Estados Unidos, Londres, na Inglaterra e a ideia encampada por Bolsonaro, de que 70% da população brasileira vai se contaminar com o novo vírus. Segundo a projeção de Átila, a Covid-19 pode matar 1.029.000 pessoas.
“A taxa de letalidade por infecção é de 0,7%. Isso diz pra gente que esses 0,7% de 149 milhões de pessoas (no Brasil) vão morrer de Covid, o que, por baixo, dá esse número de 1.029.000 pessoas, muito próximo do que a gente falou lá em março que poderia acontecer”, explicou o biólogo. A taxa de letalidade usada por ele para fazer a conta é a que foi observada nos estudos realizados, em ambiente controlado de Nova York, e considerando que aqui no país somos cerca de 213 milhões de brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Se 70% dos brasileiros se infectarem, que é o que algumas pessoas propõem que seria o teto do problema, sendo que a gente não tem provas e evidências de que vai acontecer dessa forma, o mínimo de vidas que a gente perderia seria isso (1 milhão), agora que a gente sabe qual é a fatalidade real da Covid-19”, completou.
Átila criticou a inércia do governo Bolsonaro em não testar em massa e defender o fim do isolamento social fazendo com que o estrago causado pelo coronavírus no Brasil seja ainda maior. “Então, quem assume que a gente pode continuar normal e pode sair tocando a vida (fim do isolamento social) porque 70% dos brasileiros vão pegar isso, está tudo bem, está achando normal que a gente perca esse tanto de vidas”, afirmou.
Veja o vídeo:
SUBNOTIFICAÇÃO
O cientista ainda considera que o número de pessoas mortas deve ser muito maior do que o divulgado oficialmente, pelo Ministério da Saúde por causa da subnotificação dos casos. “O Brasil está perdendo 90% dos seus casos. Se não é o pior país, é o segundo pior. A gente retomou a um crescimento que parece o começo da pandemia, com entre dois e três infectados por pessoa infectada e estamos com um caso de subnotificação seríssimo de 90%”, disse com base no estudo do Imperial College.
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O que o biólogo aponta que a subnotificação, se evidência, inclusive nos relatórios oficiais do Ministério da Saúde, de que o Brasil tem quatro vezes mais internação por falta de ar do que o esperado para esta época do ano, além dos casos do novo coronavírus e também a falta de testagem e massa da população, como adotado nos países que conseguiram interromper o crescimento de casos.
“Isso pode aumentar de quatro a cinco vezes o número de casos confirmados que temos até agora”, disse o pesquisador. “Se estamos registrando 100 mil casos de covid, a gente tem, tranquilamente, meio milhão de casos — ou até mais”, salientou.
QUARENTENA
Iamarino voltou a defender o isolamento social como a nossa melhor estratégia para barrar o coronavírus e lembrou que mesmo longe do pico da Covid-19 no Brasil, o sistema de saúde do país está com cerca de 80% dos leitos ocupados (em algumas cidades já chegou em 100%), a escalada das mortes é inevitável.
“Sem ter colapso do sistema de saúde, isso (1 milhão) é o que a gente espera que se morra de pessoas se 70% do Brasil pegar. Se o sistema de saúde colapsa e as pessoas deixam de ter atendimento, vou usar as palavras do Mandetta (ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta) aqui, colapso do sistema de saúde quer dizer que não tem hospital, não tem leito, não tem UTI pra ninguém. Você pode ter mandato de juiz, pode ter o dinheiro que for pra pagar, mas não existe leito para ser atendido. Só com a Covid essa mortalidade dobra ou aumenta consideravelmente”, frisou.
Ele acredita que o Brasil começou bem, com as medidas de isolamento social e quarentena imposta no país inteiro. No entanto, com afrouxamento em diversos estados, a situação pode piorar. Com isso, está se aproximando dos países mais atingidos, como os Estados Unidos, que têm mais de um milhão de infectados e é, atualmente, o epicentro da doença. “O Brasil estava crescendo de forma contida e, se a gente tivesse continuado a seguir bem a quarentena, mantendo todo mundo em casa e com o isolamento social, estaríamos seguindo a tendência de contenção”, disse.
“Se o Brasil estivesse caindo em número de óbitos por dia, a gente podia conversar sobre possíveis saídas da quarentena. Mas, a nossa tendência atual é de subida. A gente quase conseguiu segurar as coisas, retomou uma tendência de crescida e estamos seguindo a tendência de morte dos Estados Unidos. É simplesmente a consequência das nossas atitudes”, garantiu.
O biólogo ressalta ainda que apesar dos estudos realizados até aqui, não é 100% garantido que esses números estejam corretos, afinal, o vírus ainda é recente, a situação pode ser ainda pior.
MAÍRA CAMPOS