Um epidemiologista da Universidade de Yale, Gregg Gonsalves, afirmou que a resposta do governo Trump à pandemia de coronavírus está “próxima a genocídio por omissão”. “Quantas pessoas morrerão neste verão, antes do Dia da Eleição?”, acrescentou o cientista, que é co-diretor da Parceria Global de Justiça de Saúde de Yale, uma das principais universidades norte-americanas.
“O que mais você chamaria de uma política pública de morte em massa?”, questionou, após as declarações que vieram a público de que a força-tarefa anticoronavírus seria dissolvida até o final do mês.
Com mais de 72 mil mortos e mais de 1,2 milhão de casos confirmados, sob pressão de Trump e de bandos de arruaceiros antiquarentena, metade dos Estados norte-americanos anunciaram a suspensão das medidas de distanciamento social e fechamento das atividades não essenciais, apesar de a curva de contágio estar na ascendente e nenhum atender às próprias normas prévias mínimas definidas pela força-tarefa anticoronavírus da Casa Branca.
“Que proporção das mortes será de afro-americanos, latinos, outras pessoas de cor?”, alertou o epidemiologista, em referência à incidência muito maior de mortes de Covid-19 entre negros e ‘chicanos’, isto é, entre os mais pobres e mais desassistidos.
Na quarta-feira, após a forte repercussão negativa da notícia de demissão dos epidemiologistas, para dar lugar a uma comissão encabeçada pelo genro Jared Kurshner, Trump recuou dizendo que a força-tarefa continuaria “indefinidamente”, mas teria que mudar de foco para a “segurança” e “abertura dos EUA novamente” – ou seja, deixar de estar centrada em evitar mortes.
O vice-presidente Mike Pence, que lidera a força-tarefa, chegou a dizer na terça-feira que a Casa Branca estava olhando para o Memorial Day – que cai em 25 de maio – como uma possível “janela” para o encerramento do único instrumento federal centralizado de combate à pandemia.
“Acho que estamos conversando sobre isso e sobre qual é o momento adequado para a força-tarefa concluir seu trabalho e para os esforços contínuos que ocorrem em um nível de agência por agência”, disse Pence a repórteres, acrescentando que as conversas estavam em andamento sobre um plano de transição com a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (FEMA).
Mais tarde, Gonsalves reiterou que estava “falando sério”: “o que está acontecendo nos EUA é proposital, considerado negligência, omissão, falha de nossos líderes em agir”. E concluiu indagando: “De acordo com o direito internacional, eles poderiam ser [criminalmente] responsabilizados?”
Citando um documento interno da FEMA vazado, o New York Times informou anteriormente que as mortes diárias relacionadas ao coronavírus no país poderiam quase dobrar para cerca de 3.000 até 1º de junho. Também previu que os novos casos provavelmente chegarão a 200.000 por dia até o final de maio, oito vezes a taxa atual de cerca de 25.000. A Casa Branca asseverou que o documento sequer havia sido apresentado à força-tarefa ou passado por verificação interagências.