“Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma ‘peladinha'”, disse o presidente
O presidente Jair Bolsonaro anunciou que vai realizar no sábado (09) um churrasco para trinta pessoas no Palácio do Alvorada. Ele disse que haverá também uma “peladinha”.
“Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma ‘peladinha’. Alguns ministros, alguns servidores mais humildes que estão do meu lado”, disse ele, ironizando que estaria cometendo um crime.
“Estou cometendo um crime”, admitiu ele, dando risada. Ele riu porque, no fundo, o presidente sabe perfeitamente que está cometendo um crime. E este crime é contra a saúde e a vida das pessoas.
Esta “comemoração” de Bolsonaro é um misto de escárnio, desprezo e indiferença para com as famílias dos mais de 9 mil mortos pelo coronavírus em todo o Brasil e uma afronta ao restante do país que está se sacrificando, perdendo renda, tendo que permanecer em casa, deixando de ver os amigos e os parentes para colaborar com a luta contra a pandemia da Covid-19.
É uma bofetada que Bolsonaro dá em todas as centenas de pessoas que estão nas filas por um leito de UTI para poderem sobreviver e que não estão conseguindo. O presidente não demonstra nenhum sentimento para com essas pessoas e seus familiares que se desesperam sem conseguir nem mesmo ver seus entes queridos.
Enquanto o governo de São Paulo faz uma verdadeira operação de guerra para acelerar a produção local e para trazer respiradores da China antes que o sistema de saúde do estado entre em colapso, enquanto Manaus já não tem mais leitos e as pessoas estão morrendo em casa e nas portas dos hospitais, enquanto o Rio de Janeiro está às portas de decretar o lockdown, ou seja, o isolamento radical, para tentar parar o vírus assassino, Bolsonaro prepara um churrasco e uma peladinha para trinta pessoas no palácio.
Um contraste brutal. Como diz Valdo Cruz, comentarista da GloboNews, “é difícil até falar sobre esse comportamento do presidente.” É difícil até compreender o que ele pretende com isso. Há quem diga que o genocídio que poderá advir de tudo isso não o impressiona e nem provoca sentimento algum de solidariedade. Uma frieza impressionante.
E este é só mais um capítulo da campanha de Bolsonaro em prol da expansão do coronavírus. Diariamente ele minimiza a importância da pandemia e ataca as orientações de distanciamento social preconizadas por todas as autoridades médicas e científicas do mundo, inclusive do Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde do Brasil.
Sempre que pode ele promove tumultos e aglomerações, esfrega a mão no nariz e cumprimenta as pessoas, como se fizesse questão de espalhar o vírus. Na quinta-feira (07), Bolsonaro fez uma caminhada macabra até o Supremo Tribunal Federal (STF) para pressionar a Corte a interromper as medidas de proteção à população. Chegou até a manipular empresários que foram pedir apoio, levando-os ao STF para reforçar seu sinistro intento.
Se isso vai significar um genocídio da população não importa nem um pouco para o presidente da República. Bolsonaro está determinado a aumentar rapidamente o número de mortos pelo coronavírus no Brasil.
Com esse comportamento irresponsável, e até certo ponto criminoso, ele tornou-se a maior ameaça à vida dos brasileiros.
A ponto da revista científica britânica “The Lancet”, uma das mais sérias revistas médicas do mundo, alertar a população brasileira, com um editorial intitulado “Covid-19 no Brasil: E daí?”, de que Jair Bolsonaro “é o maior fator de risco aos brasileiros”. No mundo hoje, somente ele e mais três chefes de estado defendem essas posições estapafúrdias.
Como diz Carlos Lopes, um amigo e psiquiatra contemporâneo de faculdade, “há um um consenso – um consenso geral, se assim podemos dizer, um consenso nacional – de que temos um desequilibrado mental na Presidência da República”.
O jurista Miguel Reale Jr., um dos signatários do pedido de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), chegou até a defender que médicos avaliem a saúde mental de Jair Bolsonaro para o exercício do cargo. “Seria o caso de submetê-lo a uma junta médica para saber onde o está o juízo dele”, defendeu.
“O Ministério Publico pode requerer um exame de sanidade mental para o exercício da profissão. Bolsonaro também está sujeito a medidas administrativas e eventualmente criminais. Assumir o risco de expor pessoas a contágio é crime”, afirmou o jurista.
Se há um consenso geral de que estamos com um “perturbado” na Presidência da República, é fato que há uma pequena diferença de opinião quando se procura fechar o diagnóstico mais preciso de qual é exatamente o transtorno levantado pelo jurista Reele Jr.
Uns acham que Bolsonaro é portador de uma doença chamada “Transtorno de Personalidade Limítrofe é”. Esta patologia, entre outras coisas se caracteriza por um padrão generalizado de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, e impulsividade acentuada”. Como diz o citado colega psiquiatra, “parece, realmente, a cara de Bolsonaro”.
Mas há também os que acham que os distúrbios apresentados pelo presidente, e que caracterizam um “padrão generalizado de desrespeito e violação dos direitos de outras pessoas”, se encaixariam mais num outro tipo de transtorno. O nome desse “transtorno”, é “Transtorno de Personalidade Antissocial”.
Para reforçar essa última opinião, defendida pelo psiquiatra Carlos Lopes, há a descrição dos clássicos de que “os pacientes com ‘Transtorno de Personalidade Limítrofe’ são, antes de tudo, sofredores que, geralmente, ferem a si próprios, têm a si próprios como vítimas”.
Já os que apresentam “Transtorno de Personalidade Antissocial” são, como diz Carlos Lopes, antes de tudo causadores de sofrimento em outras pessoas. Essa realmente parece ser uma característica que se encaixa muito mais a Bolsonaro.
São também característicos desse transtorno, “esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário”; “um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado por alternância entre extremos de idealização e desvalorização”; “perturbação da identidade: auto-imagem acentuada e persistentemente instável”; “instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor”; “raiva inadequada e intensa ou dificuldade para controlar a raiva”; “ideação paranoide transitória relacionada ao estresse”.
O jurista Reale Jr levantou o problema, chegou a sugerir medidas a serem tomadas, e os médicos procuram precisar o diagnóstico. Mas, o consenso que fica de toda essa discussão, e principalmente do comportamento mais recente de Bolsonaro, é de que há, sem dúvida, um desequilibrado ocupando a Presidência da República do Brasil.
SÉRGIO CRUZ