A arrogância e agressão de Trump na América Latina e Caribe, por Daniel Dalmao

Agressão à América Latina e Caribe (reprodução)

“A questão é a perda da hegemonia global dos Estados Unidos, o fato iminente de que deixarão de ser a principal economia do mundo”, diz o autor

Temos o prazer de reproduzir o artigo de Daniel Dalmao, do PC do Uruguai, que nos foi enviado pelo historiador gaúcho Raul Carrion, e que desmascara a verborreia “anti-narcotráfico” do desqualificado presidente dos EUA.

O autor destaca que o Trump acaba de anunciar o indulto do ex-presidente de Honduras, Juan Hernandez – esse sim condenado a 45 anos de prisão por tráfico de drogas para os EUA! E, enquanto isso acusa o Presidente Nicolas Maduro, sem qualquer prova, de liderar um cartel de drogas que não existe e nunca existiu, que supostamente estaria enviando para os EUA drogas que não são produzidas na Venezuela.

Com base nessas mentiras evidentes, Trump cercou a Venezuela por mar, fechou o seu espaço aéreo, ameaça diariamente invadi-la por terra e já assassinou mais de 80 venezuelano,, acusando-os sem qualquer prova e qualquer julgamento! Até quando os povos do mundo vão aceitar o imperialismo descarado dos Estados Unidos?”, indaga Daniel Dalmao.
Confira o artigo na íntegra!

DANIEL DALMAO (*)



Desde que Donald Trump assumiu seu segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos, em 25 de janeiro deste ano, o mundo tem testemunhado um curso intensivo de como opera um império em declínio. Não se trata de que outras administrações americanas tenham tido políticas externas muito diferentes ao longo da história, ou que tenham sido menos agressivas, ou menos perigosas para os povos do mundo.

Tampouco é que o fator mais significativo, ou diferente, seja a personalidade de Trump. A questão é a perda da hegemonia global dos Estados Unidos, o fato iminente de que deixarão de ser a principal economia do mundo, seu desespero por serem superados em muitos aspectos e a emergência no cenário mundial de outras economias e blocos de países mais bem-sucedidos, com uma visão alternativa de como o mundo deve ser governado e como as diferentes nações devem se relacionar umas com as outras.

Essas “circunstâncias do momento” obrigam o poder econômico global a agir com mais decisão, a tomar medidas para manter os seus privilégios, a continuar acumulando e concentrando capital, em suma, a permanecer “o poder”. E essas necessidades encontram ou criam a pessoa certa para liderar “sua luta”. Temos então esse “herói” do establishment global, uma figura grotesca que exibe descaradamente sua arrogância, sua ignorância, seus argumentos flagrantemente falaciosos, seus delírios — em suma, um “fanfarrão” no comando da “Casa Branca”.

Os assessores de Trump forneceram a ele — para “alimentar” seus argumentos — manuais contendo a “Doutrina Monroe”, que tem dois séculos (“América para os americanos”), a “Política do Grande Porrete” do presidente Theodore Roosevelt, de 1900 (“Fale manso, mas carregue um grande porrete, e você irá longe”), e o “Destino Manifesto”, com o qual O’Sullivan justificou a expansão por toda a América do Norte e que o presidente Wilson (1913-1921) atualizou, argumentando que “era dever dos Estados Unidos liderar o mundo livre e garantir a democracia em todo o mundo”.

A tudo isso, Trump acrescenta a sua própria marca de brutalidade. Ele também incorpora à sua “bagagem ideológica” o conceito – cunhado pelo chefe de propaganda nazista Joseph Goebbels – “minta, minta, e alguma coisa vai colar”.

Nesse contexto, e com a decisão dos EUA de fortalecer a sua posição no hemisfério, temos vivido sob uma constante ameaça de guerra nos últimos meses. Poderíamos quase dizer que “Trump ataca tudo que se move”: ele desqualifica Lula e o sistema judiciário brasileiro e impõe tarifas absurdamente altas; ameaça bombardear o México; sanciona e insulta o presidente colombiano Petro; interfere descaradamente nas eleições argentinas em favor de seu “acólito” Milei; fez o mesmo recentemente com Honduras; e, o mais perigoso, mobiliza enormes forças militares no Caribe, sitiando a Venezuela e ameaçando invadi-la, quase diariamente.

Enquanto isso, preparando o terreno, ele bombardeia 22 embarcações, matando mais de 80 pessoas. Tudo isso sob o pretexto de combater o narcotráfico, ou, como o presidente chama, o “narcoterrorismo”, porque esse termo é mais conveniente para as ações que ele quer realizar. O presidente dos EUA não hesita em não apresentar nenhuma prova de que essas embarcações transportavam drogas, embora as mortes sejam reais.

Ele também não tem provas de que as drogas que chegam aos EUA sejam originárias da Venezuela. Não há evidências de que Maduro lidere um cartel de drogas, nem de que tal organização exista na Venezuela. Está comprovado que o fentanil, a droga que causa maior devastação entre os consumidores americanos, não é produzido nem passa pela Venezuela. Não há justificativa para sua interferência ou agressão, mas ele prossegue mesmo assim. Não basta ameaçar invadir a Venezuela; ele estende essa ameaça a qualquer outro país. Ele simplesmente decide que um país representa um perigo para sua luta contra o narcotráfico e, por isso, decide atacá-lo.

Um exemplo da hipocrisia inerente à conduta do presidente americano é o indulto concedido ao ex-presidente hondurenho Juan O. Hernández (2014-2022), que estava preso nos EUA desde o ano passado, cumprindo uma pena de 45 anos por narcotráfico. “Por que perdoaríamos esse cara e depois iríamos atrás de Maduro por narcotráfico nos EUA?”, questionou o senador republicano Bill Cassidy (BBC News, 12/03).

Quanto a mentir para justificar uma guerra, Trump não é um presidente original nos EUA. George W. Bush fez isso em 2003 para justificar a invasão do Iraque. Naquele caso, a mentira era que aquele país, então liderado por Saddam Hussein, possuía armas de destruição em massa, as infames “armas químicas” que nunca se materializaram.

A América Latina e o Caribe são uma zona de paz e devem permanecer assim. Todo democrata que se preze deveria defender essa reivindicação.

(*) Daniel Dalmao é membro do PC do Uruguai

Artigo publicado originalmente no Diario Cambio

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