O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi acometido, segundo várias testemunhas, de um ataque no Maracanã, diante das vaias que Bolsonaro amealhou naquele templo do futebol.
Guedes, provavelmente, queria que Bolsonaro fosse aplaudido pelo serviço dos dois, ao destruir a economia brasileira.
Pois, o que está acontecendo é uma devastação deliberada das empresas, dos empregos, das forças produtivas, dos recursos naturais, isto é, do próprio país.
Nas palavras do sr. Augusto Heleno, o objetivo do governo é “desfazer” o que foi feito em outros governos.
Ou, nas do próprio Bolsonaro, “nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa”.
Somente existe uma coisa que esse governo é capaz de criar: crises políticas imbecis, uma atrás da outra. O que, do ponto de vista econômico, significa a incerteza permanente sobre tudo.
Principalmente quando há uma coleção de gênios no governo. Alguém já disse que na Alemanha nazista todo inspetor de quarteirão era um hitlerzinho.
No governo Bolsonaro, todos procuram ser tão imbecis quanto o chefe – e tão reacionários quanto, o que, em geral, é a mesma coisa.
Há poucos dias, durante um debate promovido pelo “Correio Braziliense”, um diretor do Banco Central declarou que “o setor privado no Brasil já está ocupando o espaço deixado pela queda do crédito”.
Segundo ele, o estrangulamento do BNDES teve como efeito a procura de crédito, pelas empresas, no mercado de capitais – isto é, nos bancos. E ainda frisou: “uma manifestação disso são os aumentos das emissões de debêntures”.
Debêntures são títulos de dívida cuja garantia é a própria empresa, mais especificamente, as ações da empresa, nas quais esses títulos podem ser convertidos.
Uma maior emissão de debêntures significa um maior endividamento das empresas, com a peculiaridade de que o empresário transfere parte (ou todo) o controle da empresa ao credor, se não conseguir pagar a dívida.
Substituir o BNDES pelas debêntures no mercado de capitais significa colocar as empresas à beira da apropriação pelo setor financeiro – até porque, com 28 milhões de desempregados e subempregados, e uma queda violenta do salário real, para quem as empresas vão vender os seus produtos?
Este seria o grande efeito da política econômica, segundo o membro da equipe do sr. Bob Fields Neto – até há pouco um funcionário do Santander -, que estava comemorando tal feito no seminário do “Correio Braziliense”.
Mas, toda essa conversa sobre o “mercado de capitais” é, apenas, conversa ociosa, para não usar outro qualificativo.
Depois que o próprio Banco Central e os próprios bancos derrubaram a previsão de crescimento da economia pela 19ª vez seguida, na última segunda-feira, não há dúvida de que Guedes e Bolsonaro jogaram o país em um abismo, e ninguém sabe quando se chegará ao fundo.
O próprio BC, em documento recente, afirmou: “observa-se arrefecimento nas emissões realizadas no mercado de capitais doméstico nos primeiros quatro meses do ano, quando comparadas ao mesmo período do ano anterior” (cf. BCB, Relatório de Inflação, junho/2019, p. 21).
Portanto, até no “mercado de capitais” está havendo um encolhimento.
Esse é o belo panorama para as empresas: lançar títulos de dívida para os bancos comprarem – e, mesmo assim, com recuo do “mercado” desses papéis – sem ter a quem vender o que produzem.
GARROTE
O abismo – não há como evitar a palavra – em que Guedes e Bolsonaro lançaram a economia do país, em boa parte, encontra-se no trecho abaixo do mesmo Relatório de Inflação, o último publicado pelo Banco Central:
“As concessões [de crédito] com recursos direcionados recuaram 5,8% no trimestre, impactadas pelo recuo de 26,1% nas novas operações às empresas” (cf. BCB, Rel. cit., p. 20).
“Crédito com recursos direcionados” são as linhas de crédito do BNDES e outros bancos para financiamento às empresas.
No primeiro trimestre do ano (ainda não temos os dados do segundo trimestre), a soma dos financiamentos do BNDES às indústrias foi apenas R$ 2 bilhões e 589 milhões, uma queda de -79,27%, em relação a 2014, último ano antes que a dupla Dilma e Levy quebrassem o país.
Quanto ao financiamento para infraestrutura, no mesmo período foram liberados somente R$ 6 bilhões e 963 milhões, uma queda de -55,17% em relação a 2014.
A previsão do BC para 2019 é uma queda de 7% nos financiamentos direcionados a empresas (cf. Rel. cit., p. 43).
Segundo outro relatório do BC – a Nota sobre Estatísticas Monetárias e de Crédito do último dia 26, referente a maio:
– desde janeiro o total do crédito direcionado às empresas caiu 5,5%;
– os empréstimos para capital de giro do BNDES, no mesmo período, caíram 14,5%;
– o financiamento para investimentos das empresas, do BNDES, caiu 4,6% (em cima – ou por baixo – do, até então, pior desempenho do BNDES, em 2018);
– o financiamento imobiliário para empresas, de janeiro a maio, caiu 9,9%;
– e, inacreditavelmente, o crédito rural caiu 12,6% (todos os dados estão na Tabela 7 da nota citada acima).
Somente para frisar: esses são dados de janeiro a maio deste ano, comparados aos dados do mesmo período do ano passado.
MOVIMENTO
Até o sr. Affonso Celso Pastore, presidente do BC durante a ditadura, e apoiador, via de regra, de tudo que é medida reacionária em economia, acha que a reforma da Previdência é inútil para tirar o país do atual abismo.
Realmente, a reforma da Previdência de Bolsonaro, se aprovada, iria piorar a situação.
É óbvio que retirar dinheiro da Previdência para lançá-lo na esterilidade do mercado financeiro – portanto, diminuindo ainda mais a capacidade aquisitiva da população – somente pode ter o efeito de estrangular ainda mais o mercado das empresas produtivas, e, por consequência, o emprego.
A reforma da Previdência de Guedes e Bolsonaro é, exatamente, uma tentativa de transferir gigantescos recursos dos mais pobres para os mais ricos; dos que trabalham para os que não trabalham; dos que produzem para os que nada produzem.
Porém, ainda existe algo de mais patético nas escroquerias de Guedes: não foi a Previdência, não foram os aposentados, que lançaram o país no abismo. Então, por que a solução do problema seria tirar dinheiro deles?
Aqui, não se trata de uma questão de justiça (que também existe), mas de lógica.
O que provocou a atual catástrofe foi, além do desequilíbrio psíquico de Bolsonaro, o garroteamento do crédito às empresas.
O BC, em seu Relatório de Inflação, além do que acima registramos, diz:
“Destaca-se, na evolução recente, a dinâmica de crédito pessoal que continua dando suporte à expansão do consumo das famílias. (…) No âmbito do crédito a pessoas físicas, as modalidades cartão de crédito parcelado e crédito pessoal não consignado têm mostrado maior dinamismo” (cf. Rel. cit., pp. 19-20).
Em suma, enquanto secou o crédito às empresas, uma parcela da população está se endividando para consumir – inclusive no extorsivo cartão de crédito.
Esse é o movimento do crédito sob Guedes e Bolsonaro.
C.L.
Serio? Vcs acreditam realmente no que escrevem? Em que país vcs estavam vivendo?
Não. Quem acredita é o Banco Central e o IBGE – pois a matéria é apenas uma exposição dos dados divulgados pelo BC e pelo IBGE, que, por sinal, têm presidentes nomeados pelo Bolsonaro. Temos a impressão de que você é quem viajou para outro planeta.
Fico abismado mesmo como em tão pouco tempo alguém consegue colocar um país no abismo. Afinal, gestões anteriores de nada de 4 anos ou mais de nada influência o estado atual? Texto bacana, fala sobre debêntures para quem é leigo, mas fica uma pouco tendencioso quando apenas fala de uma gestão que tem 6 meses.
Leitor, o governo Bolsonaro tem seis meses. E já conduziu o Brasil a essa catástrofe. Não há nada de tendencioso em registrá-la, com dados do próprio governo. E não é verdade que o texto não fale de governos passados. Mas não foram eles que provocaram a derrocada atual. Ela deve-se, exclusivamente, a Guedes e Bolsonaro.