O Tratado INF foi assinado em 1987 pelos EUA e a então URSS e retirou milhares de mísseis dos dois lados. Putin declarou que quer manter o Tratado mas se Washington romper o acordo, a Rússia dará a resposta adequada
A chanceler da União Europeia, Federica Mogherini, pediu nesta quarta-feira que os EUA e a Rússia façam de tudo para salvar o acordo e anunciou seu compromisso em trabalhar nesse sentido. “Há muito tempo a Europa tem sido um campo de batalha na Guerra Fria, por isso valorizamos a arquitetura de segurança, que por tantos anos garantiu paz e segurança no continente europeu, e o Tratado INF garantiu paz e segurança na Europa por 30 anos”. Declarações nesse sentido já foram feitas pela França, Alemanha e Itália.
O presidente russo Vladimir Putin respondeu ao “ultimato de 60 dias” do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, sobre o Tratado INF (de Proibição de mísseis nucleares de alcance intermediário), lembrando que partiu de Washington o anúncio de saída – o que já haviam feito com o Tratado ATM (Antimíssil) -, e voltando a alertar que se os EUA passarem a fabricar os mísseis proibidos “a nossa resposta será simples: faremos isso também”.
O Tratado INF foi assinado em 1987 pelos EUA e a então União Soviética e eliminou milhares de mísseis dos dois lados, no teatro europeu, afastando enormemente o risco de uma guerra nuclear, já que o disparo levaria apenas alguns minutos até o alvo. O risco iminente de uma guerra nuclear levou milhões de pessoas às ruas na Europa, na época.
A declaração de Pompeo foi particularmente cínica ao tentar jogar a culpa da saída do tratado de controle de armas na Rússia, quando é Washington que acha que pode ganhar tornando a Europa de novo refém de suas armas nucleares. E teve um caráter de provocação, ao ser feita numa reunião da Otan. Além disso, o governo a que serve, Trump, já é notório por rasgar acordos, como fez com o Irã-Membros Permanentes do Conselho de Segurança +1.
O presidente Putin considerou a declaração de Pompeo “meio tardia”, já que foi o “lado americano que declarou que pretendia retirar-se do tratado de mísseis intermediários, e então começou a procurar por razões porque deveriam fazê-lo”.
Apesar de agora dizerem que a Rússia “está violando alguma coisa”, ao mesmo tempo – o que sempre acontece – “nenhuma evidência de violações de nossa parte é fornecida”, afirmou o presidente russo.
Putin afirmou que a decisão de Washington de se retirar do tratado INF foi tomada há muito tempo, mas só foi anunciada abertamente agora. “Eles pensaram que não iríamos notar, mas isso já está no orçamento do Pentágono – o desenvolvimento desses mísseis. Mas somente depois disso eles anunciaram publicamente que estavam saindo”, ressaltou.
“O próximo passo foi procurar alguém para culpar. Bem, o mais simples e familiar para o público ocidental – “a Rússia é a culpada”. Isso não é verdade, somos contra a destruição deste tratado, mas se isso acontecer, reagiremos de acordo”, disse Putin
Enquanto os EUA ameaçam sair do Tratado INF, já fizeram algo semelhante no passado recente, assinalou o líder russo. Em 2002, sob George W. Bush, Washington se retirou do Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM), “uma das pedras angulares da segurança internacional”.
“Eles não foram tímidos, calmamente saíram [do ABM] – a propósito, sem qualquer referência a qualquer coisa”, lembrou Putin. Ele comparou isso com o que está acontecendo agora, quando Washington está sentindo a necessidade de achar a quem culpar “por esse movimento imprudente”.
“Muitos outros países (provavelmente uma dúzia deles) produzem essas armas, e a Rússia e os Estados Unidos se limitaram bilateralmente. Nossos parceiros americanos acreditam que a situação mudou tanto que os Estados Unidos também deveriam ter essas armas. Qual é a resposta do nosso lado? É simples: vamos fazer isso também”, advertiu.
Também em Moscou, em recepção anual a adidos militares, o chefe do Estado-Maior das forças armadas russas, general Valery Gerasimov, chamou o desejo de Washington de se retirar do Tratado INF de “passo muito perigoso capaz de afetar negativamente não apenas a segurança europeia, mas também a estabilidade estratégica como um todo”.
Ele voltou a advertir que não é o território dos Estados Unidos, mas os países que implementarem complexos americanos com mísseis de alcance médio e curto, que serão o alvo da resposta da Rússia”. Questão que já havia sido abordada por Putin: “é É realmente necessário levar a Europa a tal estado de tão alto grau de risco?”, questionou, acrescentando “não ver qualquer razão para isso, mas, repito, não é nossa escolha”.
São os EUA que vêm sistematicamente violando o Tratado INF, ao instalar lançadores MK-41 na Romênia, capazes de lançar mísseis de cruzeiro de alcance intermediário e ao planejar instalá-los na Polônia, afirmou o general Gerasimov.
Ao receber o conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, no mês passado, que fora comunicar oficialmente a saída do Tratado INF, Putin havia ido ao cerne do problema: “Tanto quanto eu me lembro, no brasão de armas dos Estados Unidos está representada uma águia: por um lado, segura 13 flechas e, por outro lado, um ramo de oliveira como sinal de uma política pacífica – com 13 azeitonas. Pergunta: sua águia já comeu todas as azeitonas, só restam flechas?” No encontro, Putin também alertou que praticamente só resta um acordo de contenção nuclear, o Start – que expira em 2021 –, do que já foi uma arquitetura mundial de segurança mútua e preven&cced il;ão da hecatombe nuclear.
A.P.