“Quanto menor a taxa de investimento do país, maior a dificuldade do país em crescer de forma sustentada. Para a construção crescer, o Brasil precisa fortalecer a sua taxa de investimento”, disse Ieda Vasconcelos, economista da CBIC
Sob a influência dos juros altos, o setor da construção civil esta vendo suas expectativas de crescimento do início de 2023 em 2,5% desabarem para uma taxa negativa de 0,5%. Essa situação ocorre pela manutenção da política da diretoria do Banco Central (BC) de conter o crescimento econômico com a Selic, taxa básica de economia, nas alturas, no momento em 12,25% ao ano.
A previsão da entidade é que o setor crescerá 1,3% em 2024. Os dados foram divulgados durante coletiva de imprensa da Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC), realizada na sexta-feira (8).
A economista da CBIC Ieda Vasconcelos aponta que o resultado deste ano é atribuído ao impacto negativo dos juros altos. “Quando a economia de um país apresenta taxas de juros elevadas, é inevitável que isso tenha um custo, manifestando-se na desaceleração de diversos setores produtivos. A conta dos juros altos na economia chegou para a construção civil”, disse.
No terceiro trimestre deste ano o Produto Interno Bruto (PIB) ficou estagnado, variando apenas 0,1% em relação ao segundo trimestre. O PIB da construção recuou 3,8%, em relação ao trimestre anterior. O resultado é considerado o pior registrado pelo setor desde 2020. Segundo levantamento da CBIC, no acumulado de quatro trimestres, a construção desacelerou suas atividades em relação aos últimos dois anos. Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF), recuaram 2,5% no período.
Ieda Vasconcelos alerta que a baixa taxa de investimentos (FBCF/PIB) no Brasil, de 16,6% no terceiro trimestre deste ano, causa preocupação. A queda das atividades reflete a taxa de investimentos do país. “Quanto menor a taxa de investimento do país, maior a dificuldade do país em crescer de forma sustentada. Para a construção crescer, o Brasil precisa fortalecer a sua taxa de investimento”, disse. A taxa de investimentos do Brasil é inferior à média mundial.
“Quando nossa taxa está baixa, nossa população está desassistida”, arremata Renato Correios, presidente da CBIC. As carências do país em habitação, saneamento e infraestrutura ficam ainda maiores sem novas obras para atender essas necessidades.
A queda no poder aquisitivo da população impactou sobremaneira a caderneta de poupança (SBPE), uma das maiores fontes de financiamento da construção civil. De janeiro a outubro de 2023, o SBPE já perdeu cerca de R$ 81 bilhões. Neste ano, o registro foi maior do que o ano de 2022 e 2021. “Mantendo o mesmo ritmo de perda de recursos observada de janeiro a outubro de 2023, a caderneta de poupança deverá encerrar o ano com perda de quase R$ 100 bilhões”, alertou Ieda.
A CBIC indica, ainda, sobre os resultados de 2023, que desaceleração de pequenas obras e reformas como fator negativo para as atividades do setor. As vendas para esse segmento que estavam em alta desde a pandemia, não se repetiram neste ano. A perda de poder de compra das famílias de baixa renda pode ter sido um impedimento para esse fraco desempenho, pela importância desse segmento nesse tipo de obra. A demora no anúncio das novas condições do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, a incerteza do cenário macroeconômico também pesaram como fatores desfavoráveis.
A CBIC projeta um crescimento positivo para 2024, mesmo que modestos em de 1,3%. Mais uma vez vai encontrar nas altas taxas de juros um forte obstáculo. As projeções do BC para a Selic em 2024 são de até o final do ano pode chegar a 9,25% ao ano. Pelo boletim Focus depois de 11 semanas seguidas em 9% após última reunião do Copom.
Além do tormento de esperar até o final desse ano, uma taxa de 9,25% não é lá tão animadora, traduz um custo de capital ainda muito alto, e possível de ser menor pelas estimativas de inflação. Já tivemos, ainda que em curtos períodos, taxa de juros mais civilizadas, mas a realidade já demonstrou que sem investimento combinado não há crescimento sustentado.
Em relação ao número de trabalhadores na construção, em outubro de 2023, o número de empregados no setor com carteira assinada foi de 2,675 milhões, o maior desde julho de 2015 (2,693 milhões). O estudo, disponibilizado pela CBIC, ainda mostrou crescimento de 10,49% no número de empregos formais criados de janeiro a outubro de 2023, enquanto nos últimos 12 meses encerrados em outubro, o aumento foi de 6,21%.
Os dados do emprego formal sinalizam que o setor continua produzindo, apontou a economista da CBIC. Segundo Ieda, a construção gerou nos primeiros 10 meses deste ano quase 254 mil novas vagas. O número, apesar de ser menor aos últimos três anos, é o terceiro maior desde 2012.
“O ritmo das atividades do setor e da abertura de vagas demonstram a enorme contribuição da construção para a economia brasileira”. No entanto, “é importante lembrar que as vendas de ontem, refletem no emprego de hoje. Estamos sentindo o impacto de obras que iniciamos nos últimos dois anos, devido ao processo produtivo longo, característica básica do setor”, reforçou o presidente da Renato Correa.