CARLOS LOPES
A partir de 1980 – com a eleição de Reagan – o imperialismo entra, na sua própria metrópole, em sua fase “neoliberal”.
Para nós, cidadãos de um país periférico do sistema, um país oprimido, que passamos pela experiência de uma ditadura tramada e sustentada pelos EUA, é difícil, às vezes, perceber o que significou a eleição de Reagan. Tentamos, em um trabalho já antigo, de 2007, traçar, de modo breve, o percurso que levou de Franklin Delano Roosevelt até Ronald Reagan (v. O “caso Hiss” e o macartismo: o golpismo fascista nos EUA).
Porém, para entender a questão, basta comparar Reagan com seu antecessor republicano, Richard Nixon, que proclamava: “agora, todos nós somos keynesianos”, quando impôs um tabelamento de preços e salários à toda a economia norte-americana.
Nixon também tentou um modus vivendi com a China e a URSS – é verdade que, ao mesmo tempo, promovia, na periferia, uma feroz política, com o sanguinário golpe contra o governo do presidente Salvador Allende, no Chile, a 11 de setembro de 1973, o bombardeio em massa de cidades vietnamitas e o apoio bélico maciço a Israel contra os árabes.
A política de Reagan seria, apesar disso, muito diferente, tanto internamente quanto em relação à URSS.
É verdade que, após o fracasso da política neoliberal (em 1982 o PIB dos EUA caiu -1,9%), Reagan transitou para uma política de gastos públicos – porém, gastos essencialmente bélicos, daí a classificação, por alguns economistas, dessa política como um “keynesianismo militar”.
Por mais que a trajetória dos EUA, desde o governo Truman, quando a CIA foi fundada, fosse cada vez mais imperialista, Reagan, além de multiplicar os gastos bélicos, coerente com isso, multiplicou a retórica belicista. Aquilo que horrorizava em Goldwater – quando concorreu contra Lyndon Johnson, em 1964 – a partir de 1980 passou a ser a linguagem oficial do governo dos EUA.
Com certeza, isso não teria o efeito que teve, se a liderança soviética não tivesse se intimidado. Mas, com Gorbachev, isso era – ou mostrou-se – impossível.
É necessário, então, localizar o fator determinante da derrocada soviética naquele momento. Ele não esteve na superioridade – bélica ou moral (Deus!) – dos EUA e de Reagan.
Aliás, do ponto de vista moral, os acontecimentos a partir de Watergate foram todos desfavoráveis ao imperialismo norte-americano, a começar pelos crimes revelados na Comissão Church, que vasculhou a atividade secreta da CIA e outras agências de terrorismo do establishment norte-americano (para o leitor interessado nos relatórios da Comissão Church, v. Church Committee Reports).
Mesmo antes de Watergate, o massacre de My Lai, no Vietnã, em 1968, onde 504 civis desarmados foram assassinados pelos americanos, inclusive 170 crianças, causou tal horror no mundo, inclusive nos EUA, que poderia servir de ponto final para a nossa descrição da situação moral do imperialismo, se os relatos sobre as operações encobertas da CIA no Irã, no Congo, na Guatemala, em Cuba, na Indonésia, no Chile, não tivessem seguido, como uma enxurrada quase infinita.
Mas não foi tudo – e aqui estamos nos referindo apenas aos pontos mais escandalosos: houve, também, em 1975, o escândalo do programa de “controle de mentes” da CIA, o MKULTRA, estabelecido em 1953, que fez milhares de vítimas, algo somente comparável às experiências “médicas” dos nazistas, investigado pela comissão que tinha como presidente o senador Edward Kennedy (v. MKULTRA: CIA mutila e assassina milhares atrás do ‘controle da mente’).
DERROTA
Não é nosso objetivo, aqui, analisar os motivos pelos quais Gorbachev se rendeu aos EUA (outra vez, remetemos o leitor para o livro de Claudio Campos, “A História Continua”, para uma abordagem dos problemas, na URSS, após a morte de Stalin).
O importante é que, com o recuo, e, posteriormente, queda da URSS, até mesmo forças que não eram socialistas ou comunistas, até mesmo algumas que, publicamente, eram antissoviéticas – o PT, por exemplo – viram-se sem referencial.
Tomemos um exemplo muito nosso conhecido. Após a ditadura, no Brasil, a Constituinte de 1988 elaborou um texto claramente nacionalista, claramente oposto ao saque e domínio imperialista em nosso país.
Com certeza, havia falhas. Mas a essência da Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, era a defesa do Brasil contra a pilhagem externa.
O que era coerente com a linha que a oposição manteve sob a ditadura, inclusive a oposição parlamentar.
Como lembrou, em livro recente, o ex-deputado e líder da oposição à ditadura na Câmara, Alencar Furtado, o primeiro ato a criar comoção no regime autoritário, após sua derrota nas eleições de 1974, foi a criação, no ano seguinte, da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as multinacionais (CPI das Multinacionais).
Antes das eleições de 1974, e depois da dissolução dos partidos existentes antes de 1964, a oposição nem ao menos conseguia criar uma CPI. Depois dessas eleições, por iniciativa do “grupo autêntico” do então MDB, o presidente do partido, Ulysses Guimarães, assinou o pedido para uma CPI das Multinacionais.
A oposição tinha, finalmente, as assinaturas suficientes para aprová-la e – ao contrário do que fez o PT, mais de 30 anos depois, em 2007, com a CPI para investigar a compra ilegal de órgãos de mídia pelo capital estrangeiro – a direção da Câmara, apesar de apoiar a ditadura, mandou instalá-la.
O nome completo dessa CPI era quase um programa de governo: “Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar o comportamento e as influências das empresas multinacionais e do capital estrangeiro no Brasil” (v. Alencar Furtado, “Um Pouco de Muitos: Memorizando”, Thesaurus, 2017, pp. 165 a 170, e a nossa resenha, Alencar Furtado, o homem e a história em suas reminiscências).
O presidente da CPI foi, precisamente, o deputado Alencar Furtado, cearense que fora eleito, pelo partido da oposição, no Paraná.
Foi esse o espírito que, depois, em 1988, prevaleceu na Constituinte.
Sintomaticamente, o PT recusou-se a assinar a Constituição – a mais democrática, popular e nacional das Constituições brasileiras.
Entretanto, apesar do grande apoio popular quando da aprovação da Constituição, dois anos depois o país estava às voltas com as privatizações, iniciadas por Collor, com a devastação de parte do patrimônio da Petrobrás e outras agruras inimagináveis apenas alguns meses antes – e até um confisco geral da poupança, algo absolutamente alucinado, foi realizado, e aprovado no Congresso, inclusive por parlamentares que, pouco antes, haviam aprovado e assinado a Constituição, em tudo oposta a esse desastre.
O que acontecera, então?
Acontecera que o grande exemplo que existia, no mundo, de ação coletiva, estatal, para o bem estar, independência nacional e combate às desigualdades, depois de anos de estagnação, devido aos erros de sua liderança, agora, com Gorbachev, se rendera aos seus inimigos, e, em seguida, deixara de existir.
Portanto, o elemento determinante dessa queda não foi a pressão do imperialismo. Ao contrário, foi a rendição da liderança soviética.
Momentaneamente, as forças do progresso e da liberdade haviam sofrido uma derrota.
Cumpria tirar as conclusões devidas para continuar o combate.
ESTELIONATO
Como era inevitável, muitos tiraram a conclusão de que era a hora de se arrumar… Nada existia senão o interesse pessoal – e o interesse pessoal mais abjeto, mais mesquinho, aquele que ambiciona alguns trocados deixados no chão por alguns magnatas, ou, até, pelos seus ocasionais intermediários…
Em seu relato sobre o apodrecimento de Daniel Ortega e sua entourage, publicado na HORA DO POVO, Maria Mercedes Salgado, do Coletivo de Nicaraguenses no Brasil pela Nicarágua, descreve que o primeiro movimento da traição orteguista foi em 1995 – precisamente, quatro anos após a dissolução da URSS.
Podemos dizer que tal aconteceu também em outros países.
Aqui, nos dispensamos de ser precisos quanto às datas, porque, para nossos objetivos, não é necessário.
Basta mencionar, por exemplo, que a nacionalização da indústria do cobre, feita pelo presidente Salvador Allende, do Partido Socialista do Chile, foi, provavelmente, o maior acontecimento da história econômica chilena. Como disse, então, Allende, o cobre, principal riqueza mineral do país, era “o salário do Chile” – a produção chilena é a maior do mundo, hoje, nada menos que cinco vezes a do segundo colocado, os EUA, e 1/3 da produção mundial.
Portanto, é evidente que o Chile necessitava controlar a sua própria riqueza – daí, a nacionalização da indústria do cobre, que, apesar de uma lei de Pinochet com vários favorecimentos ao capital estrangeiro, permaneceu, mesmo sob a ditadura.
Pois é esse feito de Allende e do povo chileno que Ricardo Lagos e Michele Bachelet, também do Partido Socialista, se dedicaram a acabar, após a queda de Pinochet, entregando a principal riqueza do Chile às multinacionais (Orlando Caputo, que, durante o governo Allende, foi presidente da estatal chilena de extração do cobre, denunciou detalhadamente esse crime. V., por exemplo, Orlando Caputo e Graciela Galarce, “La desnacionalización del cobre que nacionalizó Salvador Allende (I). ¿Sorpresas de Bachelet también en el cobre?” e “La desnacionalización del cobre que nacionalizó Salvador Allende (II). Lo que todos callan: Las ganancias de las empresas extranjeras en el cobre”).
Orlando Caputo lembra, nesses artigos, algo que nos é conhecido: a política de traição dos “socialistas” Bachelet e Lagos, em relação ao cobre, foi um estelionato eleitoral. Ambos foram eleitos com programas que diziam exatamente o contrário do que fizeram.
Se isso foi verdade dentro de forças que, em geral, tiveram uma história imensamente mais revolucionária que o PT, pode-se imaginar neste último o que ocorreu. Aliás, nem é preciso imaginar: com Lula e Vaccari – e seus aliados Sérgio Cabral, Geddel, Cunha – presos, e alguns mais, ninguém precisa de imaginação para constatar a bancarrota moral petista.
O estelionato eleitoral e o roubo tornaram-se a política real – ou principal – dessas tendências políticas que passaram para o neoliberalismo, ou seja, para o lado do imperialismo em sua fase mais antissocial e desumana.
Acima, citamos Alencar Furtado. Em seu livro, um impressionante apanhado de memórias e citações, ele transcreve uma frase:
“O PT é como macarrão: só é duro até entrar na panela.”
Segundo Alencar, a frase é do humorista José Simão.
Dificilmente seria possível outra síntese tão perfeita.
ORIGENS
O PT, ao contrário da Frente Sandinista ou do Partido Socialista do Chile, nasceu como negação de todo o movimento operário – e, de resto, político – anterior, liderado por trabalhistas e também pelos comunistas.
Daí aquela coisa ridícula que alguns apelidaram, muito justamente, de “concepção Cine-Hora da história”.
Cine-Hora foi um cinema do Rio de Janeiro que tinha como slogan “a sessão começa quando você chega”.
Assim, a História do Brasil, para o PT, começara depois da greve de 1978, em São Bernardo do Campo, quando Lula era presidente do sindicato local.
Nada existia antes disso. Quando algum ideólogo petista se referia ao período anterior, era apenas para dizer que o “populismo”, o “getulismo” – tratado como uma modalidade do fascismo – dominara aquele período anterior.
De modo geral, as massas no Brasil jamais haviam feito outra coisa, além de serem enganadas e usadas pelas elites. Só isso e nada mais.
É dessa concepção que deriva a retórica do “nunca antes na história deste país”, que marcou o discurso de Lula, quando presidente.
Como existem, hoje, muitos que não viveram aquela época, é preciso lembrar que o principal alvo do PT, sob a ditadura, jamais foi a ditadura. Era, antes, o PMDB de Ulysses Guimarães – de quem Lula recusou o apoio, no segundo turno das eleições de 1989 – e o PDT de Leonel Brizola – a quem ele, com a ajuda maciça da mídia reacionária, deslocou do mesmo segundo turno das mesmas eleições.
Os relatos sobre o conúbio de Lula com a direita – estamos falando das multinacionais – são inúmeros. Aqui, nos contentaremos em mencionar apenas as memórias de Wolfgang Sauer, então presidente da Volkswagen, intituladas “O Homem Volkswagen – 50 anos de Brasil”, Geração Editorial, 2012 (v., sobre isso, “O triplex não é meu” ou as provas que Lula garante que não existem).
Porém, melhor ainda é a entrevista de Lula à “Veja”, em 1989, onde defende a tese de que as multinacionais são melhores para o trabalhador brasileiro do que as empresas nacionais.
O PT – e, especialmente, Lula – serviu de sparring, na primeira eleição direta para presidente após a ditadura, para colocar um degenerado, desconhecido do conjunto do país, na Presidência. A reação jogou abertamente – inclusive através de pesquisas eleitorais enganosas – para inflar o eleitorado do PT contra os candidatos nacionalistas que se agrupavam no PMDB e no PDT.
No entanto, é verdade que, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o PT e Lula mantiveram-se na oposição – e não se pode dizer que suas posições, apesar de vacilantes em inúmeros pontos, fossem neoliberais.
Se isso aconteceu por razões meramente eleitorais – a disputa com o PSDB, que então ocupava o papel de Herodes neoliberal – não é um tema, aqui neste trabalho, que seja importante. O fato é que não houve uma adesão do PT ao neoliberalismo, nessa época.
Após a eleição de 2002, ainda antes da posse, no entanto, Lula anunciou que o presidente do Banco Central seria Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do BankBoston, recém-eleito deputado federal pelo PSDB.
Com isso, entregava a política monetária ao inimigo. O resultado foi a passagem, durante seus dois mandatos, de R$ 1 trilhão, 285 milhões e 62 milhões, sob a forma de juros, do setor público para o setor financeiro.
Com o agravante de que, quando foi descoberta a participação de Meirelles no caso Banestado, Lula, para conceder a ele “foro privilegiado”, elevou a presidência do BC – até então um departamento do Ministério da Fazenda – a Ministério. Foi isso que possibilitou a Meirelles fugir das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público – e, especialmente, de um juiz chamado Sérgio Moro.
Depois de quase derrubado, na crise do “mensalão” – o que foi somente possível devido à política econômica da dupla Palocci/Meirelles -, Lula percebeu que era necessário alguma modificação em seu segundo mandato, o que foi feito através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Com todas as limitações, tratava-se de algo positivo, apesar da recessão de 2009, quando os juros de Meirelles fizeram o país seguir a metrópole, em sua crise.
Mas é justamente aqui que começa a degeneração final do PT. O assalto à Petrobrás e aos fundos de pensão aumentou nessa época. Como disseram vários depoentes, foi a partir de 2006 que a corrupção tornou-se uma bacanal sem limites. Conforme um integrante do esquema do PT na Petrobrás (e, depois, na Sete Brasil):
“… indagado pelo Delegado de Polícia Federal sobre quanto João Vaccari Neto recebeu em nome do Partido dos Trabalhadores – PT, por conta dos aproximadamente 90 (noventa) contratos firmados com a Petrobrás, ao longo dos anos de 2003 a 2013, afirma que, considerando o valor que o declarante recebeu a título de propina, que foi de aproximadamente US$ 50 milhões de dólares, estima que foi pago o valor aproximado de US$ 150 a 200 milhões de dólares ao Partido dos Trabalhadores – PT, com a participação de João Vaccari Neto” (cf. Termo de Colaboração n° 03 de Pedro José Barusco Filho, 21/11/2014).
Esses contratos com cláusula de propina (!?) foram quase todos após 2005.
Mas isso é apenas uma parte do roubo – aquela que passou por Vaccari; e somente o que veio da Petrobrás.
DESLUMBRAMENTO
Mencionamos isso a título de ilustração da decadência moral do PT. Para uma história mais circunstanciada dos acontecimentos, remetemos o leitor ao nosso livro, “Os Crimes do Cartel do Bilhão contra o Brasil”, Fundação Instituto Claudio Campos, 2016 – e a inúmeras matérias que poderão ser encontradas no site da HORA DO POVO.
Em 2011, um frade dominicano fez as seguintes observações:
“No discurso da primeira convenção nacional do PT, em 1981, Lula afirmava que o partido então criado era ‘uma inovação histórica’ e vinha para livrar a classe trabalhadora da condição de ‘massa de manobra dos políticos da burguesia’. Dizia que o sindicato é a ferramenta adequada para melhorar as relações entre o capital e o trabalho, mas que o partido existe para ir além: ‘Queremos que os trabalhadores sejam os donos dos meios de produção e dos frutos de seu trabalho’. Afirmava que ‘o mundo caminha para o socialismo’ e que o PT, com sua mística radical, não tinha como objetivo ‘buscar paliativos para as desigualdades do capitalismo’.”
Frei Marcos Sassatelli, autor desse artigo, pelo visto, acreditara no que Lula dizia em 1981. Por isso, mostrava-se, 30 anos depois, perplexo:
“Em fevereiro, escrevi um artigo com o título ‘Lula, um ex-operário deslumbrado pelo poder’ (Cf. Diário da Manhã, Opinião Pública, 07/02/11, p. 18). Hoje acrescento que Lula é também um ex-presidente – ex-sindicalista e ex-operário – obcecado pela fama. Como o ex-presidente Lula pode ser tão oportunista e renegar sua própria história; como pode ser tão ambicioso e tão ganancioso, até o ponto de – como palestrante de luxo a serviço dos interesses dos banqueiros e das multinacionais – vender sua própria dignidade humana, traindo seus ex-companheiros? É realmente um comportamento repugnante e totalmente antiético.
“Vejam só que absurdo: Lula, o novo empresário e o novo rico, tornou-se o palestrante mais caro do Brasil. Segundo noticiou a imprensa, o ex-presidente cobra por uma palestra cachê que vai de R$ 200 mil a cerca de R$ 790 mil (por enquanto!). Em março, a multinacional LG foi a primeira a contratar o Lula para uma palestra no Brasil, com cachê de R$ 200 mil. A multinacional Telefónica convidou o Lula para uma palestra em Londres, com cachê de cerca US$ 300 mil. Lula foi também a Washington, a convite da Microsoft, e a Acapulco, a convite da Associação dos Bancos do México. No dia 4 de maio, em palestra em São Paulo, a convite do Bank of América Merril Lynch.
“Reparem: quando Lula vai ao exterior, viaja quase sempre em jatinho particular. Como custa caro o ex-operário, ex-sindicalista e ex-presidente Lula! Parece o mais valioso mascote dos detentores do poder econômico mundial! É inacreditável que ainda existam pessoas dispostas a ouvir as baboseiras do Lula, falando de si mesmo (se auto-elogiando), dos feitos de seu governo e do aumento da presença (que tipo de presença?) do Brasil no cenário dos “donos” do mundo.
“Sempre segundo notícias da imprensa, Lula aceitou também o convite da multinacional LG para fazer palestra na Coreia do Sul, com cachê de US$ 500 mil (cerca de R$ 790 mil). Se confirmado o evento na Coreia do Sul, em três ou quatro meses, a receita do Lula em moeda estrangeira chegará a US$ 1,2 milhão. Trata-se realmente de uma afronta aos trabalhadores (ex-companheiros de Lula) e de um pontapé na cara dos pobres. Trata-se de um dinheiro que é fruto da exploração dos trabalhadores pelas multinacionais e, portanto, de um roubo legalizado. O pior é que Lula sabe disso.
“A assessoria de Lula não confirma o valor do cachê das palestras do ex-presidente e Paulo Okamoto – sócio do novo empresário petista Lula na empresa LILS – diz cinicamente que ‘é segredo de Estado’ (cf. Folha de S. Paulo, 04/05/11, p. A9). Que desrespeito para com o povo, que vergonha!
“Esses fatos são mais que suficientes para provar que Lula – como diz o sociólogo Leo Lince – é ‘a metamorfose que ambula’. Pessoalmente acho que, desde a campanha para o primeiro mandato de presidente da República, quando quis ganhar as eleições a qualquer custo e com qualquer meio, Lula traiu os trabalhadores, seus ex-companheiros, aliou-se aos detentores do poder econômico mundial e usou sua popularidade (melhor seria dizer, seu populismo) a serviço dos interesses deles.
“Permito-me sonhar! Como seria diferente se Lula, em suas palestras, fosse aliado e porta-voz dos trabalhadores, denunciando a exploração das multinacionais e dos banqueiros (que, diga-se de passagem, no governo Lula tiveram o maior lucro já conseguido até o presente), as estruturas de injustiça e a iniquidade do atual sistema econômico mundial. Nesse caso, seriam os movimentos populares e os sindicatos autênticos dos trabalhadores a convidar Lula para proferir palestras, e não os banqueiros e as multinacionais. Lula não ganharia cachês milionários, mas ganharia um cachê muito mais valioso que seria a felicidade de servir gratuitamente. Nada vale mais que a felicidade e a alegria da missão cumprida.
“Em todo esse contexto, é mais do que oportuna a advertência do apóstolo Tiago, também para os novos ricos como Lula: ‘E agora vocês, ricos: comecem a chorar e gritar por causa das desgraças que estão para cair sobre vocês. Suas riquezas estão podres, suas roupas estão roídas pela traça; o ouro e a prata de vocês estão enferrujados; e a ferrugem deles será testemunha contra vocês, e como fogo lhes devorará a carne. Vocês amontoaram tesouros para o fim dos tempos. Vejam o salário dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês: retido por vocês, esse salário clama, e os protestos dos cortadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos‘ (Tg 5, 1-4).
“Lembremos: não são os milhões de dólares que fazem o ser humano feliz e realizado!”
(Frei Marcos Sassatelli, “Lula, o palestrante de luxo dos banqueiros e das multinacionais”, Correio da Cidadania, 17/05/2011)
Fizemos essa longa citação porque ela nos economiza muita argumentação – e porque vem de um religioso, não de um dirigente partidário.
Resta dizer, aqui, duas coisas: se confiarmos no Instituto Lula, seu patrono recebeu US$ 14 milhões e 400 mil (quatorze milhões e 400 mil dólares) por palestras, entre 2011 e 2015. Foi o próprio Lula que declarou que seu cachê era de US$ 200 mil.
Todas essas palestras tiveram todas as desepesas inteiramente pagas pelos patrocinadores – sempre gente muito interessada nas ideias de Lula, como a Microsoft, o Bank of America Merrill Lynch, a Nestlé, a Pirelli e as empreiteiras do cartel do bilhão, que lhe pagaram, por palestras, US$ 6 milhões (seis milhões de dólares).
A segunda questão é que nem Frei Marcos Sassatelli – prior do Convento São Judas Tadeu, administrador da Paróquia Nossa Senhora da Terra e Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia – e nem nós, sabíamos ainda do assalto à Petrobrás e aos fundos de pensão.
Essa questão somente apareceu em 2014, com a Operação Lava Jato.
Nos dispensamos, aqui, de detalhar o total desprezo pela verdade que Lula e o PT, hoje, exibem – o estelionato eleitoral de Dilma foi apenas um episódio dessa carreira de mentiras.
Mas é evidente, moralmente, eticamente, o que representa essa adesão total à mentira.
FIM
Não é a primeira vez, na História da Humanidade, que forças que se alinhavam – ainda que com vacilações – no campo progressista, se bandearam para o lado inimigo.
Nosso objetivo, neste trabalho, foi demonstrar, exatamente, isso. Lenin tinha inteira razão ao dizer que não existe uma luta verdadeiramente grande sem os seus heróis e os seus traidores (Ou: “São exatamente as grandes lutas que produzem os heróis – os que conseguem superar todas as adversidades a elas inerentes – e os traidores – aqueles para quem o desafio foi grande demais, e se deixaram esmagar por ele”, Claudio Campos, A História Continua, 2ª ed., Fundação Instituto Claudio Campos, 2015, p. 138).
A debacle dessa pseudo-esquerda desatravanca, desobstrui, o caminho para que a Humanidade possa avançar – em suma, para que possa recuperar e desenvolver a sua humanidade, tão vilipendiada pela opressão imperialista em sua fase mais degenerada.
Não é simples – a luta pelo progresso, pela liberdade e desenvolvimento dos povos e nações, nos quais se organizam os seres humanos, exige esforço, estudo e combate a debilidades que são, em geral, efeitos da ação do inimigo entre as forças do progresso.
Mas a verdade é que não existe alternativa para o ser humano, exceto a extinção da espécie, na submissão ao imperialismo.
GRATO
Gostaria, ao finalizar este trabalho, de agradecer a alguns amigos, sem os quais seria impossível levar a cabo, numa situação política tão difícil quanto a atual, este trabalho.
Agradeço a Nílson Araújo de Souza a sua sempre fraterna acolhida – e, em especial, algumas ideias e sugestões de seu livro “Ascensão e Queda do Império Americano” (ed. CPC-UMES/Mandacaru, S. Paulo, 2001).
Dois juristas foram muito importantes, para o conteúdo deste trabalho: Enoque Feitosa, autor de “Direito e Humanismo no Jovem Marx”, (ed. UFPB, 2015) foi, indiretamente, responsável por esse escrito, pois este começou como uma tentativa de resenhar o seu livro. A resenha não saiu. Em vez dela… Confesso aqui a minha vergonha pelo fato de não ter conseguido escrever um prefácio para o livro de Enoque Feitosa, apesar de convidado por ele. O máximo que posso dizer é que não declinei dessa honra. Apenas, em meio ao tumulto diário, não consegui estar à sua altura.
Izaac Dutra, autor de “Sociedade, Poder Punitivo e Direito Penal” (ed. Página 8, 2015), tem sido um leitor atento do que escrevo, e decisivo para a abordagem da prática concreta nos tribunais e sua relação com as teorias propriamente jurídicas – até porque não sou formado em Direito. Sou, em geral, um curioso no assunto, que vê a teoria e os acontecimentos jurídicos sob o ângulo político e ideológico.
Sérgio Rubens de Araújo Torres, meu amigo de tantos anos, é sempre um crítico daquilo que escrevo. Para surpresa minha, quanto a este trabalho, ele mais elogiou do que criticou. A verdade é que tanto seus elogios quanto suas críticas são inestimáveis.
Por fim, mas talvez mais importante, meu agradecimento profundo e eterno (se algo no mundo é eterno) à minha mulher, Sandra, não somente pelo estímulo, mas, sobretudo, por suportar dentro de casa um escritor muito turbulento – pelo menos, quando está escrevendo.