Em última sessão plenária, Fachin disse que atuou em prol da democracia; levantamento mostra caráter golpista de atos bolsonaristas
“A democracia se verga, mas não se dobra, e nem quebra com as fake news.” Com esta mensagem o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin, encerrou a última sessão de julgamento da gestão dele à frente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Fachin deixa o comando da Corte Eleitoral na próxima semana e vai ser sucedido pelo ministro Alexandre de Moraes, que assume o cargo na próxima terça-feira (16).
O ministro agradeceu a oportunidade de servir à República na condução da Justiça Eleitoral ao longo dos últimos 175 dias. Segundo ele, os afazeres da Corte foram sempre direcionados na busca por paz e segurança nas eleições gerais de 2022, cujo caminho foi pautado pelo diálogo, pela estruturação do combate à desinformação e pela eficiência na gestão do processo eleitoral, “impulsionando a Justiça Eleitoral à defesa intransigente, peremptória e impávida da democracia”.
O presidente da Corte Eleitoral reconheceu enfaticamente os esforços dos colegas ministros, do Ministério Público Eleitoral, dos servidores e dos colaboradores da Justiça Eleitoral, que se dedicaram em dividir a missão de aperfeiçoar o processo das eleições nas diversas funções.
“CERTEZAS INABALÁVEIS”
“Na condição de presidente do TSE, saio com duas certezas inabaláveis: a primeira delas é que a democracia é inabalável às fake news, e que o povo brasileiro elegerá, com paz, segurança e transparência, um presidente da República”, disse.
“A segunda é que Helena Kolody tinha razão ao dizer que quem pinta estrelas no muro tem o céu ao alcance das mãos. Quem defende a democracia a toca diariamente e vive num país melhor”, afirmou.
CONVOCAÇÕES PARA 7 DE SETEMBRO
A circulação de mensagens com menções ao 7 de Setembro em grupos de WhatsApp explodiu na última semana de julho, com crescimento de 290% em comparação com o mesmo período de junho, aponta levantamento do Monitor de WhatsApp da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Segundo a sondagem, feita a pedido do jornal Folha de S.Paulo, as 10 mensagens mais compartilhadas citam convocações de Jair Bolsonaro (PL) a apoiadores com cunho golpista, referências à intervenção militar e destituição de juízes do STF e afirmações falsas sobre as urnas eletrônicas.
Foram 4.184 mensagens, 69% das quais circularam em grupos de direita, 25,9% em grupos indefinidos — de temática política, mas não alinhados claramente à alguma ideologia — e 5,1% em grupos de esquerda.
“Bolsonaro convocou apoiadores a se unirem a ele no 7 de Setembro, e isso se refletiu, naturalmente, em grupos de WhatsApp e Telegram, que têm apresentado uma grande mobilização, com a organização de caravanas ou conversas sobre o 7 de Setembro como a última vez em que vão às ruas”, afirmou Fabrício Benevenuto, professor de ciência da computação da UFMG e coordenador do projeto Eleições sem Fake, à Folha de S.Paulo.
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
Pela primeira vez, em 3 anos e meio de mandato de Bolsonaro, a sociedade civil reagiu à altura à espiral golpista do chefe do Poder Executivo, em particular depois da reunião com os embaixadores estrangeiros.
Múltiplas entidades, tendo à frente a Faculdade de Direito da USP, tiveram a iniciativa de conclamar, por meio de cartas, a defesa do Estado Democrático de Direito.
A carta da USP conta com a adesão de mais de 800 mil pessoas e entidades. E ainda recebe novos apoios. A da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) recebeu o apoio das Centrais Sindicais e da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que também assinam a carta dos juristas.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) também elaborou carta em defesa do Estado Democrático de Direito.
Nesta quinta-feira (11), essas cartas serão lidas em atos políticos em todo o Brasil, contra o golpismo de Bolsonaro, e em defesa das instituições republicanas e do Estado Democrático de Direito, do sistema eleitoral e das urnas eletrônicas, atacados frequente e sistematicamente pelo bolsonarismo.
M. V.