Ex-auxiliar de Bolsonaro defende o fim das estatais e critica as Forças Armadas por elas terem participado da República, da Abolição e da industrialização do país
O Brasil achou que tinha se livrado das idiotices do ex-ministro da Educação de Bolsonaro, Abraham Weintraub, mas, mesmo sendo obrigado a morar nos EUA – sonho de consumo de todo bolsonarista de carteirinha – ele continua a dizer besteiras. Achou que ofende os militares ao acusá-los de admirar empresas estatais e terem sido influenciados pelo positivismo.
Vamos lembrar que isso tem alguma lógica. Weintraub não é só imbecil. Ele é também um reacionário de marca maior, um monarquista, praticamente um homem das cavernas. Defende que a terra é plana e outras bizarrices. Daí a achar que o positivismo e o socialismo são a mesma coisa não espanta ninguém. Qualquer ser pensante, para essa gente, é um socialista. Por isso, eles procuram por eles até embaixo da cama.
DELFIM NETO DE ESQUERDA
Só para se ter uma ideia do grau de loucura do cidadão, Weintraub também disse, na mesma manifestação, num evento de direita, realizado em Santa Catarina, que os militares cometeram erros durante o “regime militar” ao priorizar “a esquerda em detrimento da ala conservadora”. Ele diz (pasmem!) que Delfim Netto, ministro da Fazenda durante a ditadura, “é um cara alinhado com a esquerda”. Para o alucinado, até Joaquim Murtinho, certamente, deve ter confabulado com Karl Marx e Friedrich Engels.
Ou seja, o Brasil não devia ter abolido a escravidão, construído a República e se industrializado. A monocultura escravista era o suprassumo da modernidade, na visão de Weintraub e outros bolsonaristas. Como os militares tiveram um papel destacado em todas essas mudanças progressistas, ele resolveu atacá-los. “Eu nunca tinha trabalhado em Brasília, e pra mim foi uma surpresa o Exército brasileiro, principalmente no topo dele, tem muitos positivistas”, disse.
“[O positivista] é uma pessoa que acredita na concentração de poder no topo da hierarquia, e aí tem uma simbiose com a própria estrutura do Exército, aonde lá no topo decide-se o que vai ser feito para toda a população, e aí vem o positivismo, [Émile] Durkheim, Augusto Comte, como se fosse um organismo vivo, o cérebro dizendo pro resto do corpo o que tem que ser feito”, continuou.
A indignação dele em relação a esses aspectos do positivismo é perfeitamente compreensível, afinal, uma pessoa sem cérebro não pode admitir que seja esse o órgão a comandar a vida. Seria um sacrilégio insuportável para um descerebrado como Weintraub que isso pudesse acontecer.
INDIVIDUALISMO DOENTIO
“Isso está muito mais perto do socialismo, do totalitarismo, não que eles sejam, mas eles olham para nós conservadores, aonde o poder está no indivíduo… Os meus direitos, os direitos da minha família, não podem ser suprimidos, em hipótese alguma, pela decisão de algum ‘sábio’ na capital em nome de um bem comum”, prosseguiu o reacinário.
Deve ser por conta desse tipo de individualismo doentio que tanto ele quanto o outro idiota, Jair Bolsonaro, defenderam e defendem até hoje o direito deles espalharem o vírus da Covid para os outros e provocarem a morte de centenas de milhares de pessoas. O “meu direito individual” de matar os outros está acima de tudo, dizem eles e Bolsonaro.
“[O Exército] Não é um inimigo. Circunstancialmente, os positivistas que estão principalmente no topo do Exército, não é nem na Aeronáutica, nem na Marinha, é no Exército mesmo… A gente precisa ter cuidado quando for fazer alguma aliança com eles, porque o que a gente prega não bate com o que eles querem. Eles gostam de uma estatal. Gostam de interferência central, planejamento central”, prosseguiu o ex-ministro foragido.
Aí, ele escancarou o jogo, pois estatais como a Petrobrás, a Eletrobrás, a CSN e outras empresas públicas foram fundamentais para o processo de industrialização e desenvolvimento do país, algo que essa gente foi e é histericamente contra. Eles preferiam, como dissemos, manter o Brasil exportando café e minério de ferro. De preferência com mão-de-obra escrava. O II PND do Geisel, então, para eles, deve ter sido um “plano quinquenal” comandado diretamente de Moscou.
MILITARES E O NACIONAL DESENVOLVIMENTISMO
Nada mais ridículo. Os militares, apesar de terem implantado um regime antidemocrático em 1964, mantiveram, e até desenvolveram, vários eixos do nacional-desenvolvimentismo iniciado por Getúlio e pelo tenentismo na década de 30. É isso o que irrita figuras como Weintraub e Bolsonaro, que não chegaram nem no período do iluminismo ainda.
É verdade que o positivismo teve grande influência entre os militares brasileiros, principalmente nos aspectos progressistas desta filosofia do século XIX, que depois perdeu força e acabou tornando-se reacionária.
Augusto Comte, seu idealizador, foi durante sete anos secretário do socialista utópico francês Saint Simon, de quem aprendeu duas coisas muito importantes antes de romper com ele. A primeira, que a sociedade não é estática, ela se move em direção ao progresso. Do menos para o mais desenvolvido. E, segundo, que há leis que regem essas mudanças, sendo necessário o desenvolvimento da ciência para conhecê-las.
Esses aspectos foram os que mais influenciaram os brasileiros. Tanto civis, como Júlio de Castilhos e seu discípulo Getúlio Vargas, como o líder militar da República, Benjamin Constant, que influenciou diretamente Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
São esses fatos que irritaram profundamente o monarquista reacionário Abraham Weintraub. Ele foi defenestrado do governo e, praticamente, saiu fugido do país após ser pego em flagrante defendendo o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e a prisão de seus ministros depois de tirá-los “a tapa” de dentro da Corte. Deveria estar, portanto, calado, mas, infelizmente, voltou a dizer besteiras, razão pela qual precisamos colocá-lo novamente na sua caverna.
SÉRGIO CRUZ