Pela terceira vez em sete dias, Bolsonaro abriu sua boca para expelir a palavra “cocô”.
Alguém notou, no Congresso, que ele é o primeiro presidente do Brasil a usar essa palavra em público.
Provavelmente, deve ser verdade. Mas não é isso, sobretudo, o que chama atenção, mas a insistência com que essa palavra vêm-lhe a boca – ou ao cérebro.
No último dia nove, em Brasília, perguntado sobre a possibilidade da convivência de desenvolvimento com preservação ambiental, Bolsonaro declarou:
“Quando se fala em poluição ambiental, é só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também, está certo?”
Três dias depois, em Pelotas, no Rio Grande do Sul, Bolsonaro revelou a grande dificuldade do licenciamento ambiental no país:
“O cara vai lá, se encontrar, já que está na moda, um cocozinho petrificado de um índio, já era. Não pode fazer mais nada ali. Tem que acabar com isso no Brasil. Tem que integrar o índio na sociedade e buscar projeto para nosso país.”
Finalmente sabemos por que o governo não faz obras: por causa das necessidades fisiológicas dos índios de 500 anos atrás. Aplicando a mesma lógica da declaração anterior: se os índios da época em que Cabral chegou ao Brasil não fizessem as suas necessidades em lugares impróprios – isto é, nos lugares em que o Bolsonaro iria passar cinco séculos depois, e se eles fizessem essas necessidades dia sim dia não, ao invés de evacuarem todo dia e (que absurdo!) até mais de uma vez ao dia – esse problema não existiria.
Dois dias depois, em Parnaíba, no Piauí, disse ele: “Nós vamos acabar com o cocô no Brasil. O cocô é essa raça de corruptos e comunistas”.
Os comunistas, evidentemente, somente se ofenderiam se Bolsonaro dissesse que eles são o sal da terra.
Quanto aos corruptos, basta ver o que ele fez para que seu filho Flávio escapasse das investigações de seus ilícitos. E isso é somente uma amostra da corrupção da camarilha bolsonarista.
Portanto, o que chama atenção, mesmo, é a adicção de Bolsonaro por matéria excrementícia.
Há muito, na época da II Guerra Mundial, em 1943, o psiquiatra e psicanalista norte-americano Walter C. Langer identificou em Adolf Hitler um coprofílico, um aficionado sexualmente a fezes – um sujeito que obtinha prazer sexual da manipulação de excrementos (cf. o seu estudo “A Psychological Analysis of Adolf Hitler: His Life and Legend”, depois publicado no livro “The Mind of Adolf Hitler: The Secret Wartime Report”, Basic Books, 1972).
O trabalho de Langer foi realizado a pedido do serviço secreto norte-americano. Por isso, somente foi publicado em 1972.
Porém, é interessante que a inteligência norte-americana tivesse encomendado outro estudo ao mesmo tempo, dessa vez ao psicólogo Henry Murray, que, sem ter conhecimento do estudo de Langer, chegou à mesma conclusão quanto à coprofilia – a ligação sexual com as fezes – de Adolf Hitler (cf. Henry Murray, “Analysis of the Personality of Adolph Hitler: With Predictions of His Future Behavior and Suggestions for Dealing with Him Now and After Germany’s Surrender”).
Em suma, parece que essa fixação nas fezes não é uma novidade no fascismo.
Mas o grande Freud, como sempre, matou a charada, ao notar a origem anal do caráter de certos indivíduos obstinados e demasiado apegados à ordem e ao dinheiro:
“É fácil inferir da história da primeira infância desses indivíduos que os mesmos despenderam um tempo relativamente longo para superar sua incontinencia alvi [incontinência fecal] infantil, e que na infância posterior sofreram falhas isoladas nessa função. Quando bebês, parecem ter pertencido ao grupo que se recusa a esvaziar os intestinos ao ser colocado no urinol, porque obtém um prazer suplementar do ato de defecar, pois nos revelam que em anos posteriores gostavam de reter as fezes, e se lembram – embora atribuam o fato mais facilmente em relação a irmãos e irmãs do que a si mesmos – de ter feito toda uma série de coisas indecorosas com suas fezes. Deduzimos de tais indicações que essas pessoas nasceram com uma constituição sexual na qual o caráter erógeno da zona anal é excepcionalmente forte” (cf. Sigmund Freud, “Caráter e erotismo anal”, 1908, Ed. St. Bras., Vol. IX).
Freud lembra ainda a relação desse problema com os castigos que certos pais ou mães infligiam às crianças (“é costume bastante difundido na educação da criança administrar estímulos dolorosos à pele das nádegas – ligada à zona erógena anal – para quebrar a obstinação da criança e torná-la submissa“).
Nem todo mundo, é claro, que passou por essas coisas terminou como o Bolsonaro. E, claro, a fase anal existe no desenvolvimento psíquico de qualquer indivíduo.
Na verdade, e isso é óbvio, só o Bolsonaro acabou como o Bolsonaro.
Mas o diabo é o Brasil ter de aguentar as consequências desses problemas mal resolvidos.
C.L.