ISO SENDACZ (*)
O Ministro da Economia constatou que a maioria dos brasileiros está com a geladeira vazia! Mas suas declarações indicam que não quer tirar do seu próprio estoque para distribuir renda no país.
Não que Paulo Guedes não acerte nunca. Tem sido exemplar em aparecer sempre de máscara e tirar os sapatos antes de adentrar ao estúdio televiso presidencial. Admite, inclusive abrir mão de parte das reservas internacionais (até a sexta parte, ou uns R$ 350-400 bilhões) do país para promover a retomada da atividade econômica.
Tem ele razão também que para assegurar o isolamento social, vencer a pandemia e salvar mais vidas as geladeiras do povo precisam estar cheias. Só que em vez de encher a geladeira de quem não precisa sair para trabalhar quer tirar uma parte dos gêneros de quem está em campo para, nas ruas e mesmo de casa, enfrentar o vírus de frente!
Os servidores públicos – médicos, policiais, especialistas do Banco Central, enfermeiros, portuários, motoristas – têm mantido o atendimento à sociedade em combate ao coronavírus, como lhes compete, em muitos casos colocando em risco a própria vida. São os seus salários e jornada que o governo primeiro queria reduzir e agora fala em congelar, em patamar com perdas acumuladas de 17 a 33% na União, conforme a carreira.
A proposta original de auxílio emergencial à “geladeira do povo”, cujo recebimento está se mostrando difícil pela fragilidade do aplicativo, era de R$ 200 por mês, insuficiente para encher ao menos uma prateleira. Só para comparar, o valor é inferior a um quinto do salário mínimo vigente que, por sua vez, é a quarta parte da necessidade básica de uma família. Foi a R$ 1.200 para um casal sem emprego ou mulher chefe de família.
Houve uma câmara frigorífica que foi fartamente abastecida logo de cara: R$ 1,2 trilhão de dinheiro entesourado foi liberado para os bancos aplicarem em mais títulos públicos e cobrarem juros adicionais do Brasil.
Já foram a óbito mais de 4,5 mil brasileiros infectados pelo vírus. Abastecer, rápido e bem, as geladeiras de quem pode e de quem precisa ficar em casa é dever primário de quem ama a vida e o Brasil.
(*) Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central e do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.