O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, do PSL, partido de Bolsonaro, afirmou que não é “mini-bolsonaro” e “tem suas próprias ideias”.
Ao contrário de Bolsonaro, Carlos Moisés acabou com o incentivo fiscal para agrotóxicos, conversou com assentados do Movimento Sem Terra (MST) e apoiou sua produção orgânica, recebeu grupos indígenas e movimento de mães que apoiam seus filhos que são LGBTs.
Logo que apresentou sua candidatura, Carlos Moisés da Silva deu uma entrevista falando que não era “mini-bolsonaro”. “Quando falei ‘não sou um mini-Bolsonaro’, causou um estresse. Porque achavam que podia prejudicar a campanha”.
“O que quis dizer é que o que a gente vê nas redes sociais são militâncias extremas, ou extrema-direita ou extrema-esquerda, o pessoal da arminha. Para mim é muita sandice essas coisas”.
“Cada um faz o que quer, enfim. Não preciso copiar comportamento. Tenho minhas próprias ideias”, assinalou, em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo.
CORRUPÇÃO
Indagado sobre Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente, Flávio, e se Bolsonaro já deveria ter demitido o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, investigado pelo desvio de dinheiro público do fundo eleitoral no esquema de candidaturas laranjas do PSL mineiro, Carlos Moisés declarou que “a lei é para todos”.
“Quem se corrompe tem que sofrer as penas da lei. Quanto ao tempo para demitir o ministro, se houver comprovação efetiva, é com o gestor. Não sei as provas que existem, eu governo Santa Catarina. Não acompanho esses processos. Uma vez comprovado, pode ser quem for, tem que sofrer as penas da lei. Ninguém está acima da lei, nem presidente, nem governador, nem ninguém”, observou.
Sobre a ofensa de Bolsonaro atingindo a memória de Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, o governador disse que “houve excesso dos dois lados”, mas “jamais tocaria nesse assunto”. “É uma pauta que não é minha, não é pauta boa mexer com uma ferida. Se o governo quiser continuar investigando, tem que tratar não por uma pessoa, mas por uma comissão da verdade”, comentou.
Fernando Santa Cruz foi preso pela ditadura em 23 de fevereiro de 1974, e assassinado após ser sequestrado pelo DOI-CODI. Bolsonaro mentiu dizendo que Fernando foi morto pelos próprios companheiros da Ação Popular, em que militava. Além disso, para provocar Felipe Santa Cruz falou que “um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”.
AGROTÓXICOS
O governo Bolsonaro liberou o uso de quase 240 agrotóxicos. Para Carlos, “aplicar isenção sobre agrotóxico é excrescência política, jurídica, é uma irresponsabilidade de gestão. Qualquer pessoa que raciocine um pouco, que saia do padrão mediano, vai entender que não pode incentivar o uso [de agrotóxicos]”.
“Quando isento de imposto ou quando reduzo tarifa estou dizendo ‘usem mais, isso é bom, é um produto essencial’. Agrotóxico não é bom. Jamais vou incentivar veneno que polui lençol freático, que deixa resíduos em hortaliças”, declarou.
“Não existe margem segura para resíduos. É comprovado que causam problemas de saúde e doenças”.
“Não estou proibindo agrotóxicos, mas não incentivo. Os críticos dizem que estamos taxando o agronegócio, que representa 30% do PIB do estado. Não é taxar o agronegócio, é o veneno. O Ministério Público já calculou que essa taxação repercute entre 2% e 3% no preço final. Esse é o meu compromisso com o meio ambiente, como cidadão, como pai de duas meninas”.
O governador vê vantagens na produção orgânica, muito presente em assentamentos, como os geridos pelo MST. “O pessoal que produz nesse sistema cuida da sua propriedade, do vizinho, do córrego da água”.
Quando recebeu representantes do MST, Carlos Moisés foi criticado por parte dos bolsonaristas.
“Não entendo quem raciocina que não devo receber. Assim como recebi as mães pela diversidade, com filhos homossexuais, que têm uma série de demandas de violência, o estado tem a obrigação de atendê-los”.
“Recebi um grupo de indígenas. Essas pautas pra mim são tranquilas”.
“Não podemos fazer gestão com pensamentos menores, com preconceitos. Quem tem preconceito tem que trabalhar a cabeça para se livrar deles, inclusive. O estado tem que se aproximar”, afirmou.
Ao ser questionado se é de centro-direita, o governador respondeu: “Não gosto de classificar. Não acredito nisso”. “Acredito que as pessoas têm que crescer, ter discernimento próprio, fazer uso da inteligência, da consciência e se reinventar, todos os dias”, acrescentou.
“É possível que eu seja mais conservador em alguns assuntos. Não sou a favor de não ter restrição de horário para programas violentos para crianças, por exemplo”.
O governador foi eleito em 2018 com 71% dos votos. Ele é coronel da reserva dos bombeiros, advogado e mestre em direito.