
Publicamos, a seguir, artigo de Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
À luta contra os juros altos, pelo bem estar social e pelo desenvolvimento nacional
ADILSON ARAÚJO
O pagamento de juros consumiu cerca de 1 trilhão de reais do orçamento do setor público consolidado em 2024, valor 32% superior ao registrado em 2023 e que também é de longe o maior desde o da série do Banco Central do Brasil iniciada em 2002, ou seja, um recorde histórico.
Trata-se de dinheiro do povo que vai encher as burras de rentistas e banqueiros ociosos, que são os grandes credores do Estado.
A contrapartida disto é o sacrifício dos investimentos governamentais em saúde, educação, seguridade, ciência, tecnologia, habitação, saneamento, infraestrutura. O resultado, lógico e inevitável, é o avanço da concentração da renda e da polarização social.
CAMPEÃO DOS JUROS ALTOS
A causa maior deste descalabro, que origina a dívida e o déficit público, é a taxa de juros administrada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, a Selic.
Vigora no Brasil a maior taxa de juros reais do mundo, o que faz do nosso país uma espécie de paraíso do rentismo.
É preciso destacar que a mídia burguesa, amplamente hegemônica, promove uma nefasta conspiração do silêncio em torno deste tema, de forma que a maioria do povo brasileiro não tem plena consciência dos males decorrentes dos juros altos.
CANTO DA SEREIRA
Desprovidos desta consciência, muitos são fatalmente atraídos pelo canto da sereia neoliberal que atribui os males da nação à “gastança” do governo e aponta como solução o corte nos investimentos públicos para o desenvolvimento e o bem estar social.
Também contribui para a criação de uma falsa consciência neste sentido, além do moralismo lavajatista, a clivagem artificial entre orçamento primário e nominal, instituída pelo FMI, que subtrai as despesas financeiras do orçamento, situando-as numa outra conta e tornando invisível a indecorosa transferência de renda do povo brasileiro para os grandes credores do Estado. Nada menos que 1 trintão de reais em 2024. O Estado age neste caso como um Robin Hood às avessas, tirando dinheiro dos pobres para entregar aos ricos, ou melhor, ricaços.
Como porta-voz do mercado financeiro, a mídia burguesa nada diz sobre o impacto dos juros no orçamento enquanto esbraveja por cortes drásticos nos investimentos públicos mirando as aposentadorias, a política de valorização do salário mínimo, a saúde, a educação, a ciência, a seguridade social e o desenvolvimento nacional.
LUTA DE CLASSES
Assim, de forma pouco notória, no entorno da política monetária e também da política fiscal, ocorre uma dura luta de classes (ou conflito distributivo, para quem prefere um elegante eufemismo) que opõem os trabalhadores e parte do empresariado do setor produtivo a um grupo restrito de grandes rentistas e banqueiros.
Na quarta-feira (19) o Copom deve definir um novo percentual para a Selic. Para deleite de uma minoria de ricaços, um aumento de 1 ponto percentual (elevando a taxa básica a 14,25%) é dado como favas contadas.
Na contramão dos interesses da classe dominante, nesta terça (18) a CTB estará ao lado das outras centrais sindicais protestando diante das sedes e agências do Banco Central e exigindo a redução substancial das taxas de juros, bem como o corte das escandalosas despesas financeiras para viabilizar investimentos mais robustos no bem estar social do nosso povo e no desenvolvimento nacional.