
Os EUA estão em profunda crise, fruto do parasitismo de uma economia monopolizada que não produz mais nada a não ser bolhas de especulação. Atrelar o Brasil a este navio à deriva e prestes a afundar seria desastroso
O ataque de Trump ao Brasil e sua chantagem para garantir impunidade a Jair Bolsonaro escancarou que seu objetivo é prender o país na condição de colônia americana.
Quando os EUA tinham uma economia forte, alguns achavam e defendiam que acoplar o Brasil a eles traria vantagens aos brasileiros. A vida mostrou o contrário. Os 40 anos de “adesão” ao Consenso de Washington arrasaram a indústria brasileira, reprimarizaram a produção, precarizaram as relações de trabalho e empobreceram o país.
OUTRO CAMINHO
Agora, que os EUA estão em profunda crise, fruto do parasitismo de uma economia dominada por monopólios financeiros que não produzem mais nada a não ser bolhas de especulação, atrelar o Brasil a este navio à deriva e prestes a afundar seria desastroso. O caminho é outro. É a ampliação das relações econômicas e a busca de um desenvolvimento sustentado soberano e autônomo. As portas estão abertas para esse caminho como nunca antes, com o fortalecimento do BRICS e a multipolaridade que vem se estabelecendo no mundo, a despeito do esperneio de Trump.
Poucas vezes na história se evidenciou tão fortemente a contradição principal de classes do Brasil, entre as classes que defendem a nação por um lado e os que se conluiam com os interesses do imperialismo e servem de vassalos, por outro.
Essa contradição não só está evidente para muitos que não conseguiam enxergá-la, como está se explicitando de uma forma extremamente aguda e intensa. Trump quer o Brasil de joelhos, submisso e rendido. O país inteiro, à exceção dos bolsonaristas, traidores da pátria, respondeu à chantagem com um sonoro não e se uniu para defender sua soberania.
TRAIDORES DA PÁTRIA
O bolsonarismo não apenas traiu o Brasil ao se render aos EUA. Eles se prestaram a serem agentes internos dos interesses estrangeiros. Se sujeitaram a conspirar abertamente contra o Brasil.
No mesmo dia em que Trump apresentou sua carta chantageando o país e exigindo a rendição do governo brasileiro, Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA conspirando contra a economia brasileira, comemorou as tarifas impostas pelo bufão da Casa Branca contra os produtos fabricados no Brasil e disse que elas eram fruto de seu trabalho junto ao governo americano. Ou seja, os agentes da chantagem de Trump são os integrantes do clã bolsonaro.

O Brasil é um país muito grande. Tem capacidade, recursos humanos, materiais e naturais, além de força para romper a dominação econômica exercida pelos monopólios e o governo americano. Esse domínio e influência, apesar dos arroubos trumpianos, nunca esteve tão debilitado como agora. Quando os de cima estão em crise, abrem-se os caminhos para derrotá-los.
Os dogmas neoliberais, as privatizações, o desmonte do Estado, a ditadura fiscal, a submissão ao dólar e as políticas monetárias restritivas, o arrocho salarial, tudo isso se espatifou com a crise financeira mundial de 2007/9. A conversa fiada da globalização e do fim das nações se desmoralizou completamente. As nações estão se unindo e se defendendo contra a ditadura do capital financeiro.
BRICS E O FUTURO
Economias que não aderiram ao Consenso de Washington conseguiram desenvolver aceleradamente as suas forças produtivas e resolveram grandes problemas sociais. A China, por exemplo, que não só não aderiu ao “casino” neoliberal, como avançou na direção de uma economia socialista, planejada, consciente, coletivista e produtiva, está na vanguarda da revolução tecnológica no mundo. Hoje é a maior economia do mundo em paridade de poder de compra.
O bloco liderado pelo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), no qual o Brasil está plenamente integrado, abre uma grande perspectiva para um outro tipo de globalização. Uma “globalização” produtiva, solidária, consciente e com vistas a um futuro compartilhado por todos, ou seja, sem domínio e exploração imperialista.
A histeria de Trump é exatamente a expressão de sua fraqueza. Ele esperneia porque o Brasil está integrando este novo mundo multipolar que está nascendo e saindo de sua órbita de dominação. A radicalização do chefe da Casa Branca contra o Brasil poderá ser um tiro no pé e acelerar a decisão do Brasil de seguir o seu próprio caminho de forma autônoma e soberana. Para que isto ocorra é necessário decisão política e a urgente derrota de seus representantes internos, o bolsonarismo.
ROMPER A DEPENDÊNCIA
Além de enfrentar as ameaças de Trump e desmoralizar os seus agentes internos, a crise tarifária está forçando o governo a romper mais rapidamente com as amarras neoliberais ao desenvolvimento econômico do país. Anúncios de fundos e programas de emergência em defesa das empresas e dos empregos afetados pelas chantagens econômicas dos EUA apontam nessa direção. Também é positivo que se vislumbrem fundos e programas que passem por fora dos limites impostos pelo arcabouço fiscal, assim como ocorreu na pandemia e nas enchentes do Rio Grande do Sul.
O Brasil construiu uma frente ampla vitoriosa pela democracia e contra o fascismo, agora, está sendo possível e necessário uma outra frente ampla, tão ampla quanto a democrática, mas não apenas pela defesa da democracia política, mas principalmente pelo desenvolvimento independente, pela libertação econômica do Brasil e contra o domínio do imperialismo americano. Essa frente pode e deve reunir os trabalhadores, os empresários produtivos do campo e da cidade e a inteligência nacional. Ou seja, uma frente com a esquerda, o centro e a direita contra a extrema-direita sabuja, entreguista e pró-Trump.
SÉRGIO CRUZ