Falamos sobre o momento crítico que vivemos: permitir ou impedir a exploração da Margem Equatorial no contexto da desigualdade entre os brasileiros
O texto, a seguir, é do professor universitário, engenheiro elétrico e presidente da Companhia Maranhense de Gás (Gasmar), Allan Kardec. O artigo foi publicado em sua coluna no portal Imirante (https://imirante.com/) do Maranhão.
ALLAN KARDEC (*)
“Liberdade, Igualdade, Fraternidade” é o conhecido lema da República Francesa e tem origens profundas na história do país, particularmente no período da Revolução Francesa no final do século XVIII. Foi em pleno solo francês que o Presidente Lula deu uma declaração na Cúpula sobre Novo Pacto de Financiamento Global, em Paris. Ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, Lula disse não ser “possível” que, “em uma reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça”.
“Eu vim aqui para falar que, junto com a questão climática, presidente Macron, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é possível que numa reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça. Estamos no mundo cada vez mais desiguais. os ricos são mais ricos e pobres são mais pobres”, disse.
Importante que o Presidente da República paute o dessa forma, justamente no momento em que há um debate internacional que envolve a exploração de petróleo da Margem Equatorial. Esta é talvez a nossa grande oportunidade em séculos!
A desigualdade é um fenômeno global que permeia as sociedades em vários aspectos, seja na distribuição de renda, acesso a oportunidades, direitos civis ou sociais. Essa desigualdade se manifesta em várias dimensões e é influenciada por uma variedade de fatores, incluindo gênero, raça, etnia, religião, idade, orientação sexual, e localização geográfica.
A desigualdade de renda é talvez a forma mais tangível e mensurável de desigualdade. Ela se refere à disparidade na distribuição de recursos econômicos entre indivíduos ou grupos dentro da sociedade. Essa desigualdade é frequentemente representada por indicadores como o coeficiente de Gini, que mede a distribuição de renda ou consumo de uma população. Veja abaixo o retrato do Brasil de hoje.
A desigualdade regional no Brasil é um tema complexo e multifacetado, fruto de um longo processo histórico, político e econômico. No centro dessa discussão, encontra-se a Amazônia, uma região que, apesar de ser rica em recursos naturais, enfrenta desafios significativos quando se trata de desenvolvimento socioeconômico.
A Amazônia cobre nove países, mas a maior parte (cerca de 60%) está no Brasil. Abrange a totalidade de oito estados brasileiros, além do Maranhão. Nossa região é notória por sua rica biodiversidade, imensos rios, cultura única e povos indígenas. No entanto, apesar de sua riqueza em recursos naturais, a Amazônia enfrenta desafios significativos em termos de desigualdade socioeconômica. Esta desigualdade é evidente em várias áreas, incluindo saúde, educação, infraestrutura e oportunidades econômicas.
Em termos de saúde, a Amazônia tem lutado contra o acesso insuficiente a cuidados médicos de qualidade, particularmente nas áreas mais remotas. A logística para levar os serviços de saúde a estas regiões é complexa e os recursos são limitados. Esta situação foi agravada durante a pandemia de COVID-19, quando as deficiências no sistema de saúde da região foram postas em evidência.
Na educação, muitas áreas da Amazônia também sofrem com a falta de acesso a uma educação de qualidade. As escolas muitas vezes são mal equipadas e os professores enfrentam dificuldades devido à falta de recursos. Além disso, a distância entre as comunidades e as escolas, especialmente nas áreas rurais, pode representar um obstáculo significativo para a educação.
A infraestrutura na Amazônia é outro grande desafio. A região é marcada por estradas precárias, falta de saneamento básico e acesso limitado à energia elétrica. Isso contribui para a manutenção da pobreza e da desigualdade. O desmatamento ilegal e a exploração predatória de recursos naturais também contribuem para a deterioração da qualidade de vida e perpetuam a pobreza.
Vale lembrar que a igualdade não significa que todos devem ser iguais em todos os aspectos, mas sim que todos devem ter as mesmas oportunidades para alcançar seu potencial, independentemente de sua origem, gênero, raça, religião ou qualquer outra característica pessoal.
Combater a desigualdade exige uma abordagem multifacetada que inclui reformas políticas, a promoção de oportunidades econômicas, a proteção dos direitos civis e sociais, e a promoção da inclusão e diversidade em todos os aspectos da sociedade.
A hora é de juntar as mãos, no espírito da fraternidade do lema francês. A liberdade, afinal, só virá na garantia da igualdade de oportunidade para todos os brasileiros, inclusive agora, os Amazônidas, que lutam por ter seu petróleo explorado na exuberante Margem Equatorial.
(*) Professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry). Foi presidente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e secretário de Educação na gestão do ex-prefeito de São Luís (MA), Edivaldo Holanda Júnior.