Amigos e parentes despediram-se da cantora e compositora Miúcha na tarde desta sexta-feira. O velório foi realizado em cerimônia no Cemitério de São João Batista, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Heloísa Maria Buarque de Hollanda, nome de batismo dado a uma das vozes mais conhecidas da música brasileira, faleceu nesta quinta-feira (27), aos 81 anos, em decorrência do tratamento de um câncer. Ela foi internada às pressas e teve uma parada respiratória.
A morte da cantora e compositora foi lamentada por diversos artistas e amigos. Sua contribuição para a música foi ressaltada.
A cantora Bebel Gilberto, filha única de Miúcha, declarou amor à mãe. “Pra sempre no meu coração. Te amo muito. Descansa meu amor… Saudades”.
“Ela me ensinou a aproveitar tudo de bom na vida. Sorrir pra todo mundo sempre. O mais importante era aproveitar a vida. Ela sempre ia viajar e ficava, nunca voltava no dia planejado. Só amor. Ela foi uma grande mãe. Eu vou morrer de saudade dela”, declarou a filha, após a cerimônia de despedida, onde cantou a música Correnteza.
“Na música, na alegria, no otimismo e na vontade de pensar sempre no lado positivo da vida, Miúcha é um modelo. Ela deixou isso de bom para a gente”, declarou emocionada sua irmã Ana de Hollanda, também cantora e compositora.
Um dos grandes parceiros de Miúcha, Toquinho falou sobre a “grande amiga”. “Miúcha era uma pessoa muito musical, tão querida, que conhecia há mais de 50 anos. Começamos nossa carreira juntos. É uma grande perda pela sua sensibilidade, musicalidade e sua visão generosa em relação à música. Além de ser um grande ser humano”.
“É mais uma Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Miúcha e Toquinho pessoa ligada a gente que vai embora na música brasileira. Agora, daqueles shows, só restou eu. Essa sensação é muito ruim, você vai ficando muito sozinho na suas memórias, e isso é inevitável”, disse o cantor, em referência ao histórico show “Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha”, que lotou o Canecão, no Rio de Janeiro, por mais de um ano.
“Mais do que ser cantora, ela queria estar na música. Lembro do show no Canecão com Tom, Vinicius e Toquinho. Ela não estava ali querendo dinheiro, e sim pela música, por fazer parte daquilo. Ela exalava música”, afirmou Roberto Menescal outro grande parceiro musical da cantora e compositora.
CONHECIMENTO
O maestro e amigo de Miúcha, Marcus Vinicius de Andrade, relembrou a busca da cantora pelo conhecimento. “Queria conhecer aquilo que cantava”, destacou.
“Eu acho que a mistura do conhecimento, da cultura da oralidade do samba e da cultura acadêmica que a Miúcha pegou da sua origem familiar é uma coisa que está se perdendo hoje em dia. No passado isso foi bastante comum, mas, a gente está perdendo. Eu não consigo deixar de registrar isso porque a Miúcha tinha esse viés de quem queria conhecer aquilo que cantava. Ela cantava muito bem e era uma grande intérprete e com essa postura, que sem arrogância nenhuma conhecia esse repertório. Eu acho que sua morte é uma perda para o Brasil muito grande”, afirmou o maestro Marcus Vinicius ao HP.
“Nós não perdemos apenas uma figura humana extraordinária, uma figura humana alegre, simpática, carismática… Perdemos principalmente uma cantora que conhecia o que cantava. Que conhecia o repertório de música brasileira, que conhecia muito daquilo que a nossa música produziu de melhor, sabia disso, transmitia isso com muito entusiasmo e muita facilidade e por isso mesmo ela vai fazer muita falta como a personalidade que foi”, declarou.
“Uma amiga querida. Foi na casa dela que conheci João Donato. Foi para ela que fiz, com Donato, a canção ‘Lugar Comum’. Saudade danada dela. Miúcha de Bebel, de Chico, de todos os irmãos, da mãe, do pai, de todo mundo, e também de João Gilberto, passagem importantíssima na vida dela. Amiga querida, vai me fazer falta”, afirmou o também cantor e compositor Gilberto Gil.
Miúcha é filha do historiador e jornalista Sérgio Buarque de Holanda e da pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Ela lançou 14 álbuns ao longo de sua carreira de mais de 40 anos. Chico Buarque, Ana de Holanda e Cristina de Holanda são seus irmãos.
Ela nasceu no Rio de Janeiro em 30 de novembro de 1937, com oito anos mudou-se para São Paulo com a família. Desde pequena Miúcha cantava e seu primeiro contato com o violão aconteceu junto ao poeta Vinícius de Moraes.
Estudou História da Arte em Paris, na École du Louvre na década de 1960. Nesta época em que morava na Europa, Miúcha foi apresentada em Roma, pela cantora chilena Violeta Parra, a João Gilberto com quem se casou, em 1965, em Nova York e teve sua única filha, Bebel Gilberto.
Em 1975, ela iniciou sua carreira artística profissionalmente, cantando no disco “The best of two worlds”, de João Gilberto e Stan Getz.
No mesmo ano, Miúcha se apresentou no Newport Jazz Festival, participou de shows com Stan Getz, gravou a faixa “Boto” e o LP “Urubu” com Tom Jobim.
Em 1977, gravaram o LP “Miúcha e Antonio Carlos Jobim”, e as músicas “Maninha” (composta especialmente para ela por Chico), “Pela luz dos olhos teus” e “Vai levando” fizeram grande sucesso no país. Ainda naquele mesmo ano estreou o show “Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha”, que ficou quase um ano em cartaz no Canecão antes de percorrer América do Sul e Europa. O espetáculo foi gravado ao vivo e lançado em disco de tanto sucesso que fez.
Ainda em 1977, Miucha participou do musical “Os Saltimbancos”, adaptado para o Brasil por Chico, interpretando a Galinha, com a filha Bebel no coro infantil.
Dois anos depois, Miúcha gravou com Tom o LP “Miúcha & Tom Jobim”, que ficou muito famoso pelas músicas “Triste alegria”, de autoria da cantora, “Falando de amor” (de Tom).
No ano seguinte, 1980, ela lançou o disco “Miúcha”, com arranjos de João Donato e com a participações da filha Bebel (cantando na faixa “Joujoux et Balangandans”), e de João Gilberto (violão em “All of me” e “O que é, o que é”).
Em 1989, a cantora voltou ao disco com “Miucha”, LP no qual contou com a participação do cantor e compositor cubano Pablo Milanés e em que gravou o compositor Guinga. Seguiram os discos “Rosa amarela” (1999), “Vivendo Vinicius ao vivo” (1999, com Baden Powell, Carlos Lyra e Toquinho), “Miucha.compositorees” (2002), “Outros sonhos” (2007, dedicado a Tom Jobim, Chico Buarque e Vinicius de Moraes) e “Miúcha ao vivo no Paço Imperial” (2015, com show gravado 15 anos antes).
MAÍRA CAMPOS
COMO É GRATIFICANTE Saber POR DETALHES COISAS SOBRE A BOSSA NOVA, PARABÉNS MENESCAL, MIUCHA, Vc FOI PÉROLA EM FORMA DE MUSICA NESSA TERRA
VOCÊ VOLTO PARA DEUS..
Eclesiastes Cp 12:7