Informações apuradas pelo portal UOL, baseadas em dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), uma autarquia do Ministério da Fazenda, responsável por monitorar investimentos financeiros, juntas comerciais e cartórios de registro de imóveis, apontam que o Banco Master e outras negociatas envolvendo seu dono, Daniel Vorcaro, preso esta semana pela Polícia Federal ao tentar fugir do país, receberam investimentos bilionários do maior fundo investigado pela Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto último, que apura o uso do sistema financeiro para lavar dinheiro da facção criminosa PCC.
O fundo em questão é o Hans 95, da Reag — uma das gestoras de investimento alvo da Carbono Oculto.
O PCC, aliás, tem atuação forte, principalmente, no estado de São Paulo, governado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas que, coincidentemente, muito recentemente, liberou seu secretário de Segurança, Guilherme Derrite, outro bolsonarista, para reassumir o mandato de deputado federal e relatar o projeto que trata das facções criminosas.
O resultado, diante do apoio de maioria parlamentar e do próprio presidente da Câmara Federal, Hugo Motta (Republicanos-PB), que o designou Derrite como relator, apesar de todas as advertências em contrário, só poderia ser a aprovação de um texto que endurece com os bagrinhos contratados pelas facções criminosas e é, no mínimo, leniente com os cabeças e financiadores dessas organizações, hoje, sabidamente, bastante enredadas com o sistema financeiro, como começou a demonstrar as operações Carbono Oculto e Compliance Zero, esta última que levou à prisão de Vorcaro, entre outros, e o afastamento do presidente do BRB, tornando réus, pela CVM, o governo do Distrito Federal e a chefe de gabinete do governador Ibaneis Rocha.
Segundo ainda as informações apuradas pelo UOL, a maioria dos investimentos do Hans 95 em negócios de Vorcaro não foi feita diretamente pelo fundo, mas por outros fundos detidos por ele, em uma estrutura de fundos em cascata, o que dificulta o rastreamento do real beneficiário do dinheiro. Não são fundos abertos para aportes de qualquer pessoa, mas fundos fechados, detidos por um número restrito de cotistas — muitas vezes, um outro fundo.
A mesma lógica financeira foi detectada na investigação que apura a participação do Hans 95 na lavagem de dinheiro do PCC.
Com patrimônio de quase R$ 35 bilhões, o Hans 95 não enviava dados obrigatórios para a Receita Federal desde 2022. Também não enviou auditorias para a CVM de 2022 a 2024 —embora a entrega de auditoria deva ser feita anualmente.
Os auditores, em 2021, se abstiveram de dar opinião na avaliação do fundo por não terem recebido informações suficientes para avaliar a situação financeira do fundo. Uma das hipóteses da operação que culminou na prisão de Vorcaro, batizada de Compliance Zero, é que o Master buscou “inflar seu patrimônio artificialmente”.
Tratava-se de uma iniciativa considerada importante para enfrentar a crise de liquidez do banco, destituído de recursos para honrar compromissos assumidos, incluindo a venda de debêntures para pessoas físicas.
De acordo com a decisão judicial que autorizou buscas e apreensões pela Compliance Zero, o Master disponibilizava “ao mercado títulos de crédito, valores mobiliários e carteiras de crédito insubsistentes ou ‘podres’, emitidas por empresas de prateleira (fachada ou fantasma) controladas pelo Master e geridas por interpostas pessoas”.
VENDA PARA O BRB: UMA QUESTÃO DE “VIDA OU MORTE” PARA O MASTER
Diante da situação pré-falimentar, a compra do Master pelo BRB estava sendo tratada como uma questão de “vida ou morte” por Daniel Vorcaro.
Foi aí que entrou em cena a figura de outro bolsonarista, o senador Ciro Nogueira.
Segundo o jornalista Luiz Costa Pinto, consumada a negociata, depois de “esboçada com o conhecimento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, de sua vice, Celina Leão (todos bolsonaristas, gr. nosso), por meio de um lobby associativo liderado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI) que pôs todos à mesa e dobrou as resistências do então presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, a ideia central era dar um assento a Daniel Vorcaro no Conselho do banco distrital. O Master ficaria com 36% das ações do seu próprio comprador, o BRB”.
Todos sairiam felizes para sempre.
No entanto, surgiu uma pedra no meio do caminho: o desenho da estrutura acionária do BRB que surgiria depois do processo de aquisição do Banco Master pela instituição financeira pública do Distrito Federal espantou técnicos das áreas de fiscalização e de regulação do Banco Central, o que levou à desautorização da negociata e, posteriormente, à sua liquidação extrajudicial.
Felizmente, ainda existem servidores sérios naquela arapuca que, hoje, sob o biombo da “independência”, continua servindo aos interesses da banca privada e dos rentistas em geral, em detrimento da economia nacional.
Segundo ainda Costa Pinto, “já combalido e com as fragilidades de caixa expostas naquela altura das negociações, que se deram entre o fim de fevereiro e meados de março deste ano, no futuro o banco de Vorcaro poderia se tornar controlador do BRB”.
O ex-banqueiro, impedido de ocupar funções executivas em instituições financeiras em razão da liquidação extrajudicial decretada pelo BC, chegou a desenhar a criação de um banco paralelo ao BRB oficial que seria presidido por ele, que se chamaria “BRB Participações”, que se destinaria a captar recursos para investir em empresas privadas de quaisquer naturezas (inclusive naquelas empresas de fachada nas quais o Master acumulava prejuízos contábeis) e tinha o beneplácito do governo do DF.
SINAIS CLAROS DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
A trajetória do Banco Master é mais um sinal revelador dos liames do financismo com o crime organizado e as facções criminosas, aquelas que Derrite quis poupar ao buscar, em sua lei, agora no Senado Federal, desidratar e descapitalizar a Polícia Federal que está à frente das operações contra essas organizações.
No caso do Master, a Justiça Federal do Distrito Federal detalhou um amplo esquema de irregularidades, cuja atuação, segundo os investigadores, configuraria uma organização criminosa com divisão de tarefas e prejuízos bilionários ao erário.
O detalhamento ajudou a embasar a operação Compliance Zero que resultou na prisão de Vorcaro.
Segundo os documentos analisados pela Justiça, o esquema teria começado em 2021, reunindo um grupo de agentes com o objetivo de fraudar o sistema financeiro, manipular dados contábeis, iludir órgãos de controle e causar prejuízo a investidores e instituições públicas. Entre os envolvidos, estariam dirigentes do BRB, que teriam contribuído para danos à própria instituição que administravam.
De acordo com a investigação conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, o grupo utilizava uma combinação de falsificação de documentos, ocultação de informações, manipulação de registros e operações suspeitas para dar aparência de legalidade às transações.
A apuração revelou que as cúpulas do Master e do BRB teriam “fabricado” ao menos 20 títulos de crédito fictícios, usados para justificar a transferência de R$ 12,2 bilhões do banco estatal para o Master entre janeiro e maio de 2025. Segundo a Polícia Federal, mesmo ciente das limitações legais de exposição financeira, o BRB teria agido movido por “pura camaradagem”, desconsiderando formalidades contratuais e tentando contornar procedimentos de fiscalização.
Fontes ligadas às investigações afirmam que todos os documentos apresentados eram “falsificações grosseiras”. Um lote inteiro de supostos títulos chegou a ser autenticado no mesmo dia e no mesmo cartório, em São Paulo, em abril de 2025, logo após o Banco Central solicitar acesso aos papéis durante auditoria relacionada à compra do Master pelo BRB, anunciada em março.
Mesmo após o início do monitoramento conduzido pelo Banco Central, o BRB continuou realizando repasses bilionários ao Master, dessa vez usando CDBs originados de terceiros. As autoridades estimam que o prejuízo total das operações possa superar R$ 10 bilhões.
Soma-se a isso os “investimentos” significativos da Rioprevidência, sob a administração de outro bolsonarista, Cláudio Castro – conhecido pelos espetáculos eleitoreiros que resultam na morte dos pretos, pobres e favelados capturados pelas facções criminosas -, no Master, que totalizaram R$ 970 milhões entre outubro de 2023 a dezembro de 2024, através de letras financeiras destituídas de cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), entre outros estados e municípios, invariavelmente, governados por bolsonaristas ou seus aliados.
Como se vê, caro leitor, é óbvio que as ligações entre os representantes do bolsonarismo e o crime organizado e suas facções são pura coincidência.
MARCO CAMPANELLA











