“Pode-se dizer que a conferência da OTAN desta semana foi o equivalente a uma conferência de planejamento de guerra. O eixo liderado pelos Estados Unidos criou uma nova guerra fria global”, alerta o artigo. “A Rússia e a China, mantendo-se firmes, podem ser suficientes para empurrar o eixo dos EUA para a sepultura que merece”, acrescenta o centro de estudos
Este artigo da Strategic Culture Foundation (SCF), centro de estudos russo censurado no ocidente, faz uma análise da conferência de Madri da OTAN, realizada na semana passada, e alerta o mundo para o fato de que os Estados Unidos e seus vassalos europeus e asiáticos mostraram seu verdadeiro caráter: o belicismo e a dominação.
A diferença para as outras é que esta conferência tirou a máscara enganadora em que há muitos anos tem se escondido e apontou claramente as suas ambições globais. A última vez que a OTAN publicou um documento estratégico foi em 2010. Nessa altura, a Rússia era descrita como um “parceiro” e a China nem sequer era mencionada.
Desta vez ela lançou um novo Conceito Estratégico que declarou a Rússia como uma “ameaça direta” e a China como um “desafio” aos “nossos valores e interesses”. Quais são exatamente esses valores e interesses? O belicismo e a dominação! A procura de uma nova guerra fria tem sido implacável e largamente implícita. Agora, porém, o eixo liderado pelos EUA declara abertamente a sua hostilidade. Confira!
A NOVA GUERRA FRIA MUNDIAL DA OTAN AGORA É OFICIAL
STRATEGIC CULTURE FOUNDATION
Finalmente, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, denominada OTAN, tornou explícitas as suas ambições globais em relação à guerra fria. Finalmente, a organização belicista saiu do armário enganador em que há muitos anos se tem escondido. E, portanto, doravante será condenada por todas as pessoas de bem do mundo.
Numa conferência realizada esta semana em Madrid, a Organização do Tratado do Atlântico Norte lançou um novo Conceito Estratégico que declarou a Rússia como uma “ameaça direta” e a China como um “desafio” aos “nossos valores e interesses”. Quais são exatamente esses valores e interesses? O belicismo e a dominação!
A última vez que a OTAN publicou um documento estratégico foi em 2010. Nessa altura, a Rússia era descrita como um “parceiro” e a China nem sequer era mencionada.
Durante a última década, o bloco militar dominado pelos EUA tem adotado cada vez mais uma política hostil tanto em relação à Rússia como à China. A procura de uma nova guerra fria tem sido implacável e largamente implícita. Agora, porém, o eixo liderado pelos EUA declara abertamente a sua hostilidade.
Os 30 membros da OTAN convidaram formalmente dois novos Estados europeus a juntarem-se às suas fileiras, a Finlândia e a Suécia. Os dois países nórdicos estão dando fim a décadas de neutralidade nominal no que só pode ser visto como um movimento provocatório calculado contra a segurança nacional da Rússia. Os novos membros irão duplicar a fronteira terrestre da OTAN com a Rússia e aumentar a já crescente presença da aliança com armas nucleares na região do Ártico. Moscou advertiu contra uma tal expansão da OTAN como uma desestabilização irresponsável do equilíbrio estratégico. O fato de o bloco estar avançando com a expansão é demonstrativo do desrespeito imprudente pelos esforços de encontrar segurança mútua e manter a paz internacional.
A conferência da OTAN desta semana também deixou claro que o eixo militar liderado pelos EUA está adotando uma base de guerra contra a China. Por que outra razão uma organização atlântica convidaria pela primeira vez a presença de quatro nações do Pacífico que têm debitado cada vez mais a retórica americana anti-China? Líderes da Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul estiveram em Madrid para formar os chamados “Quatro da Ásia-Pacífico” (AP4). Tal como com o Diálogo Quadrilateral de Segurança liderado pelos EUA, ou Quad, e o pacto AUKUS, o Pacífico está se transformando numa zona de combate da OTAN contra a China, da mesma forma que o Atlântico é dominado pela hostilidade da OTAN em relação à Rússia. Em última análise, são os Estados Unidos e os seus interesses imperiais que estão a ser prosseguidos e a definir orientações. É isto que realmente se pretende dizer com a vaga e aparentemente benigna formulação dos “nossos valores e interesses”.
Este culminar em 2022 é em tudo coerente com o papel histórico da OTAN. Foi formada em Washington em 1949 como um instrumento ofensivo para a agressão dos EUA contra a União Soviética. A ideologia de soma zero do imperialismo americano é necessariamente baseada na hegemonia e dominação. Outras nações ou são vassalos ou inimigos. Um mundo multipolar de parceria mútua é um anátema. De fato, o próprio conceito das Nações Unidas é um anátema. O mundo tem de ser demarcado em “aliados e inimigos” para que o capitalismo militarista dos EUA possa sobreviver.
Quando a anterior guerra fria terminou em 1991, devido ao colapso político e econômico da União Soviética, a euforia inicial da suposta vitória americana rapidamente se dissipou. O autor e comentarista John Rachel analisou a forma como as conversas sobre o fim do militarismo e os gastos militares excessivos e a antecipação de um “dividendo de paz” maciço e transformador foram cruelmente postas de lado. Por quê? Porque os governantes americanos e os seus vassalos da OTAN perceberam que, sem militarismo e guerra, terminaria o seu jogo de extorsão capitalista empresarial.
Surgiu então a Doutrina Wolfowitz e o “domínio de todo o espectro”, em que os Estados Unidos e os seus lacaios europeus declararam literalmente guerra ao planeta para capturar os recursos naturais e manter sob controle as potências concorrentes. Uma Rússia ressurgente e uma China ascendente não seriam toleradas, pois seriam impedimentos às ambições hegemônicas americanas.
Nos últimos 30 anos desde o fim da primeira guerra fria, tem havido nada menos do que uma orgia de belicismo dos EUA e da OTAN, na qual nações mais fracas, umas atrás das outras, têm sido destruídas pelo militarismo liderado pelos americanos. O direito internacional e os direitos humanos no planeta foram esvaziados e saqueados por um ataque relâmpago liderado por Washington.
Pessoas com princípios como Julian Assange, que expôs tal criminalidade, foram perseguidos e torturados. A liberdade de expressão e o pensamento crítico independente e genuíno têm sido perseguidos e assassinados.
Com incrível hipocrisia, arrogância e ilusão, o presidente dos EUA, Joe Biden, e outros cúmplices da OTAN exaltam princípios de democracia, ordem baseada em regras e direito internacional. Quando a verdade é esta: os EUA e os seus lacaios da OTAN são os inimigos da paz mundial. Martin Luther King fez uma observação semelhante há quase 60 anos. Foi posteriormente assassinado pelo estado securitário dos EUA. Washington e os seus cúmplices ocidentais ou do Pacífico são a maior ameaça a tudo o que supostamente, cinicamente, acarinham.
Os Estados Unidos e o seu bando de fracassados imperialistas na OTAN têm ansiado por uma nova guerra fria durante as últimas três décadas. Quando a Federação Russa, sob a liderança do presidente Vladimir Putin, desafiou o unilateralismo vilão dos EUA e os seus sátrapas com o seu discurso histórico de Munique em 2007, ele foi marcado como inimigo. A intervenção militar russa em 2015 para ajudar a Síria sob ataque dos EUA e da OTAN numa guerra encapotada pela mudança de regime, foi uma resposta à orgia do gangsterismo imperialista liderado pelos EUA. Essa intervenção marcou ainda mais a Rússia como um inimigo que tinha de ser enfrentado e abatido.
O golpe de Estado de Washington e da OTAN na Ucrânia em 2014 foi outro acontecimento marcante. Foi uma expansão, de fato, do tratado militar até às fronteiras da Rússia com uma ponta de lança nazi. Poderia haver maior provocação? Mas Moscou traçou a sua linha vermelha. Apesar dos repetidos apelos a uma resolução diplomática sobre a Ucrânia e à expansão da OTAN, a Rússia foi forçada a tomar “medidas militares técnicas”, neutralizando a ameaça colocada pelo regime de Kiev.
A China também demonstrou corajosamente que não está disposta a subordinar a sua independência às ordens imperiais de Washington. É por isso que Washington está abandonando caprichosamente a sua política de meio século “Uma China”, com o objetivo ulterior de antagonizar Pequim. A provocação contra a Rússia, sob a forma de Ucrânia armada pela OTAN, é a mesma face da moeda usada na provocação contra a China com uma Taiwan armada pelos EUA e um crescente cerco da OTAN na Ásia-Pacífico.
Assim, e sem recorrer à hipérbole, pode-se dizer que a conferência da OTAN desta semana foi o equivalente a uma conferência de planejamento de guerra. O eixo liderado pelos Estados Unidos criou uma nova guerra fria global.
Isso, por si só, é condenável. Num mundo assolado pela pandemia, doenças, degradação ecológica, pobreza, fome e desemprego, as potências capitalistas estão a canalizar bilhões para máquinas de guerra e a provocar uma febre de confrontação baseada no medo, fobia e demonização. A sua mentalidade é demoníaca. O imperialismo liderado pelos EUA criou grande parte das crises atuais do mundo, incluindo uma nova guerra fria.
No entanto, o mundo mudou dramaticamente desde que a OTAN foi fundada há 73 anos ou mesmo desde que a última guerra fria terminou há cerca de três décadas. Existe, de fato, um perigo terrível de uma guerra catastrófica. No entanto, existe também um perigo bem-vindo: que a OTAN cave a própria sepultura das suas atividades criminosas e contradições deploráveis. A Rússia e a China, mantendo-se firmes, podem ser suficientes para empurrar o eixo dos EUA para a sepultura que merece.
Publicado originalmente em Strategic Culture Foundation (Censurado)