
Ex-ministro do Turismo é investigado por suposto plano para tirar do País o ex-ajudante de ordens do ex-presidente. Cid é o colaborador da Justiça que deu detalhes da trama golpista de Bolsonaro
A PF (Polícia Federal) prendeu Gilson Machado, ministro do Turismo no governo de Jair Bolsonaro (PL), na manhã desta sexta-feira (13), em Recife (PE). Ele é suspeito de integrar esquisito plano de fuga do tenente-coronel Mauro Cid, que nega ter feito qualquer pedido nesse sentido ao ex-ministro.
Na última terça-feira (10), a PF pediu a abertura de investigação de Gilson Machado, sob suspeita de ter agido para tentar obter passaporte português para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O objetivo da ação seria facilitar eventual saída de Cid do País. O militar é réu na ação penal no STF (Supremo Tribunal Federal), que investiga a trama golpista após as eleições de 2022. A investigação também mira Bolsonaro e outros aliados.
Machado até dia desses estava em campanha para arrecadar recursos para Bolsonaro por meio de PIX, sob alegação que o chefe precisa de recursos para se defender das acusações de ter liderado tentativa de golpe de Estado.
SUSPEIÇÕES
Essa movimentação do ex-ministro causa muita estranheza. Cogita-se e especula-se que a atitude de Machado foi orientada e não é isolada. Isso, porque ele não teria essa iniciativa sem que fosse orientado a fazê-lo. Quem teria orientado essa patranha?
Sobretudo, neste momento em que os réus que comandaram e executaram ações para tentar desfechar golpe de Estado são ouvidos por meio de depoimentos no STF.
Especula-se que esse fato não teve o consentimento de Cid, que está todo enredado pela Justiça e é o que tem mais a perder diante dessa patranha executada, sem sucesso, por Machado.
Suspeita-se, ainda, que esse movimento do ex-ministro seja para descredibilizar e desacreditar o chamado acordo de delação premiada, amparado pela Corte Suprema, que Cid fez com o STF.
Por essa razão, o Supremo suspendeu o pedido de prisão de Cid, que chegou a ser elaborado, mas não foi expedido. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro foi convocado, nesta sexta-feira, para depor na PF, a partir das 11 horas.
PGR FAVORÁVEL À INVESTIGAÇÃO
A PGR (Procuradoria-Geral da República) se manifestou favorável ao início da apuração. Segundo indícios coletados pela PF, Gilson Machado foi em maio ao Consulado de Portugal em Recife, onde mora, para viabilizar o passaporte para Mauro Cid, mas sem sucesso.
No entanto, a PF apontou a possibilidade de ele procurar outros consulados ou mesmo a Embaixada portuguesa, em Brasília, com o mesmo objetivo.
Segundo a PGR, há “elementos sugestivos” de que o ex-ministro tenha atuado para “obstruir a instrução” da ação penal que investiga se Cid, Bolsonaro e outros tentaram aplicar golpe de Estado no País, além de outras investigações, como o caso das joias.
TENTATIVA DE EVITAR PRISÃO
“Possivelmente para viabilizar a evasão do País do réu MAURO CESAR BARBOSA CID, com o objetivo de se furtar à aplicação da lei penal, tendo em vista a proximidade do encerramento da instrução processual”, completa a PGR.
Machado nega que tenha tentado obter o documento para Cid e diz que procurou o consulado para tratar do passaporte do pai dele. Ele se diz “surpreso” com o pedido de investigação.
Gilson Machado foi ministro do Turismo de 2020 a 2022. Era auxiliar muito próximo de Bolsonaro e tornou-se conhecido também por tocar sanfona nas “lives” semanais do então presidente.
REUNIÃO COM BOLSONARO
O ex-ministro se reuniu com o ex-presidente, nesta quinta-feira (12), na véspera de ser preso pela PF. Machado recepcionou a chegada de Bolsonaro no aeroporto de Natal (RN) e depois almoçou com ele e outros aliados.
Estão em campanha para 2026. Machado registrou o encontro nas redes sociais. Nos vídeos, ele anuncia que Bolsonaro está “recuperado” e vai iniciar de novo a “rota 22” pelo Nordeste. “É fundamental a receptividade que estamos tendo no Nordeste”, declarou.
M. V.