(HP 29/04/2015)
Sujeitos que nasceram na década de 50 do século passado, como o autor destas linhas, foram criados e cresceram com, pelo menos, duas certezas: a primeira, que a eleição de Marta Rocha à Miss Universo foi roubada pelos americanos em 1954; a segunda, que a Petrobrás é uma empresa que jamais tem prejuízo.
Mesmo quando a primeira tornou-se irrelevante (quer dizer, bem… digamos assim: menos importante do que parecia), a segunda continuou a ser um norte em nosso orgulho de brasileiros – e para todas as gerações que vieram a seguir.
Foi preciso o governo Dilma para que essa certeza fosse, aparentemente, abalada. Depois dos 7×1 para a Alemanha dentro do Brasil, na “melhor de todas as Copas” (apud Dilma Rousseff), era só o que faltava.
Quando alguns próceres governistas lembram que também houve prejuízo da Petrobrás no governo Collor – coisa que, realmente, todos haviam esquecido – só podemos dizer: bem escolhido o governo com o qual vocês comparam o vosso. Não é à toa que a vossa presidente revelou seu “respeito” por Collor (v. HP 10/09/2014). Provavelmente, devem achar que o levante popular contra aquele desgoverno renegado foi “golpismo”. Ou que PC Farias era um ideólogo da “realpolitik”.
Quando se começa, para se submeter aos inimigos do país, a reescrever sua própria história, é inevitável que até os momentos de glória do seu passado lhes pareçam pecaminosos. Aliás, principalmente esses.
Como se pode explicar que a companhia que opera a maior reserva de petróleo do mundo tenha prejuízo?
O prejuízo atual da Petrobrás não é, a rigor, um prejuízo da Petrobrás, mas um prejuízo imposto à Petrobrás. Primeiro, pelo roubo – calculado, segundo a própria diretoria atual da empresa, em R$ 6,2 bilhões.
Porém, também há mais R$ 4,5 bilhões que são resultado direto da encenação e demagogia de Dilma no setor elétrico. São dívidas do combustível vendido às termelétricas da Eletrobrás, que a própria Dilma deixou sem como pagar. Os leitores devem se lembrar daquela agradabilíssima voz na televisão:
“… nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar” (Dilma Rousseff, 23/01/2013).
No mesmo momento em que Dilma falava na TV, sua medida (MP nº 579/2012) já abrira um rombo na Eletrobrás (R$ -6,9 bilhões) e em suas subsidiárias: na Chesf (R$ -5,3 bilhões), em Furnas (R$ -1,3 bilhão) e na Eletronorte (R$ -739 milhões). Todos os dados são do Ministério do Planejamento (v. “Perfil das Empresas Estatais Federais Ano-base 2012”).
Em suma, a redução das tarifas de eletricidade era baseada em depredar as estatais que geram eletricidade em prol das multinacionais que atuam no setor – e a conta do combustível ficou com a Petrobrás. Eis uma forma de enganar o povo que nem Collor tentou. O estouro atual nas tarifas ainda não é tudo. Infelizmente, mais está por vir.
Nem vamos comentar o que Dilma disse sobre a sensacional baixa dos juros. Continuemos na Petrobrás.
A imprensa publicou que Dilma, agora, recusa-se atender aos telefonemas da senhora Graça Foster. Mas isso é apenas cinismo de deixar o velho Caifás com inveja. Bem disse alguém que a especialidade de Dilma é apontar os outros como culpados pelo que ela própria fez.
Quem não sabia que a senhora Foster não estava preparada para o cargo de presidente da Petrobrás? Nós mesmos advertimos várias vezes que essa nomeação era um erro – e um erro grave. Mas, nem precisamos recordar o que publicamos: o ex-presidente Lula também fez um esforço para evitar essa nomeação, e não foi porque considerasse a senhora Foster um primor da indústria do petróleo. Que credencial tinha ela para ser presidente da Petrobrás, senão ser amiga de Dilma? Foi com essa única e exclusiva credencial – só essa e nenhuma outra, passando por cima da competência, experiência e patriotismo de outros brasileiros – que ela foi nomeada para amofinar a vida dos profissionais da Petrobrás e prejudicar sua produção, para não falar dos projetos de refinarias.
Mas não foi a senhora Foster que abriu o maior campo petrolífero do mundo – Libra, no pré-sal – para as multinacionais do petróleo. Este golpe na Petrobrás, que não tinha como não ter repercussões financeiras na companhia, quem o deu foi Dilma.
Também não era a senhora Foster que presidia o Conselho da Petrobrás – e, depois, o país – enquanto se perpetrava, sob a batuta dos senhores Vaccari, Duque e Barusco, a gatunagem bilionária nas finanças da empresa.
Da mesma forma, foi Dilma quem nomeou quatro aprochegados ao cartel estrangeiro do petróleo para a diretoria da Pré-sal Petróleo (PPSA).
Ainda agora, foi também Dilma quem nomeou para presidente do Conselho da Petrobrás o sr. Murilo Ferreira, por ser presidente de uma empresa privatizada – a Vale. Aliás, uma empresa que, sob a direção de Ferreira, tem como especialidade a pilhagem de nossas reservas minerais para vendê-las a preço de banana no exterior, sem mencionar seus crimes contra o meio ambiente – os paraenses que o digam.
Esse, pelo visto, é o modelo que Dilma quer, na indústria do petróleo, impor à Petrobrás e ao país. Se não, por que nomear Ferreira para presidir o Conselho da Petrobrás?
Estamos numa época em que a traição à Pátria, a tentativa de esfolar o povo brasileiro, é travestida com alguns andrajos supostamente progressistas. Por isso, resolvemos publicar o texto abaixo, do jornalista Borba Tourinho, aparecido na Revista da Petrobrás, em dezembro de 1961. É o oitavo e último de uma série dedicada à história do petróleo no Brasil.
Apenas duas observações sobre o texto: a primeira é que o presidente Getúlio Vargas tinha inteiro conhecimento de que o deputado Euzébio Rocha iria lançar um substitutivo ao projeto do governo – e, mais, sabia do conteúdo. A história nos foi contada pelo próprio Euzébio – um dos homens mais dignos da História de nosso país e, mais que um amigo, um entusiasta do HP. Euzébio também a relatou em sua entrevista para o CPDOC/FGV. Ao consultar o grande presidente, Euzébio narra, “ele me disse que quanto mais nacionalista fosse o projeto e mais impedisse o enriquecimento de poucos, mais corresponderia ao desejo dele” (Euzébio Rocha, depoimento, 1987, Rio de Janeiro, CPDOC/FGV – SERCOM/Petrobrás, 1988).
A segunda questão é a seguinte: qual o grau de sinceridade dos udenistas ao votarem no projeto de criação da Petrobrás? Teriam eles votado apenas para contrariar o projeto original de Vargas? Que a UDN de 60 anos atrás estava muito à esquerda dos próceres do PT que hoje defendem abertamente que a Shell, e outras multinacionais no pré-sal, é um avanço para o Brasil, não há dúvida. Mas a questão não é essa.
Achamos dificílimo conceber que apenas para se opor a Getúlio, a UDN tenha votado e defendido o monopólio estatal e a Petrobrás. É sabido que um dos principais udenistas, Juracy Magalhães, tinha, nessa época, uma notória posição nesse sentido. E não era o único.
Juracy, aliás, seria o primeiro presidente da Petrobrás. Passar-se-iam ainda vários anos – e um golpe de Estado – até que Juracy se tornasse, por fim, aquele sujeito deprimente, conhecido pela frase: “O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”.
Não foi o primeiro, nem o último, a jogar a própria biografia no lixo.
C.L.