“Eu vim para Sobral (CE) para defender a paz e a tranquilidade do povo”, disse o senador, ex-governador do Ceará e ex-prefeito da cidade, Cid Gomes (PDT), durante discurso antes de ser baleado por um encapuzado amotinado na frente do quartel da PM cearense.
Na quarta-feira (20), Cid Gomes estava participando da mobilização popular quando foi baleado no peito pelos amotinados.
O senador tem seu quadro de saúde estável e não corre risco de vida.
Cid discursava quando levou um soco no rosto
De megafone na mão, Cid Gomes tentou uma negociação com os amotinados para que eles saíssem do quartel. O objetivo era que os policiais pudessem entrar. Do lado de fora a tropa de choque aguardava para entrar no batalhão. No meio das das negociações, provocadores, incitados por bolsonaristas, acertaram um soco no rosto do senador, que, mesmo assim, ainda tentou que os amotinado saíssem pacificamente do local.
Veja o vídeo do momento em que Cid é agredido
Antes de ir até o batalhão onde estavam policiais amotinados, Cid discursou para a população de Sobral e disse estar indignado com o que eles estão fazendo com a cidade da qual foi prefeito. “Eu vi hoje cenas deploráveis. Eu vi carros de polícia com pessoas sem farda dentro mandando comerciantes fecharem suas portas. Eu vi, hoje, quando me enviaram [os vídeos], carros com pessoas, não digo pessoas, digo marginais à paisana com armas em punho amedrontando e querendo intimidar o povo da minha terra, de Sobral”.
“Ninguém vai fazer isso impunemente. Os que fizeram serão responsabilizados”, disse.
“Minha presença aqui é porque o povo dessa cidade não será desmoralizado. Eu vim para defender a paz e a tranquilidade do povo de Sobral. Ninguém será chantageado, ninguém deixará de trabalhar, ninguém deixará de trabalhar, ninguém deixará de abrir suas portas e caminhar com tranquilidade por sobral”, afirmou, sob aplausos, aos presentes no protesto contra o movimento que escapou ao controle e desandou com tiros contra um senador da República, ameaças, desordem e violência.
“Eles adotam a estratégia de se amotinarem. Policial tem uma prerrogativa dada pela Constituição de poder andar armado, enquanto o cidadão não pode andar armado. Mas essa prerrogativa tem um ônus, impõe a ele um dever: ele não pode fazer movimento grevista”, argumentou.
“Movimento grevista pode fazer o professor, o trabalhador, mas quem tem arma, direito de andar armado, não pode, pela nossa Constituição, fazer greve”, continuou Cid.
“Ainda assim, o nosso governador Camilo [Santana, do PT] tem tido toda a tolerância”.
“Uma coisa é se amotinarem no local, outra coisa é os que deveriam garantir a tranquilidade serem os incitadores da violência. Isso nós não vamos admitir. Eu estou aqui desarmado e vou enfrentar, sob o custo da minha vida, mas ninguém vai fazer o que esses bandidos estão fazendo aqui em Sobral”, declarou.
Na manifestação, Cid sugeriu que as pessoas se vestissem de amarelo ou laranja para fazer o policiamento da cidade. “É dever nosso não se intimidar e nem se curvar à chantagem. Eu quero que tudo seja filmado, porque nós agiremos na paz. Nós vamos circular no centro de Sobral e na sequência vamos para o 3º Batalhão e vamos descer de mãos para cima, simbolizando a paz”.
“Não quero que nenhuma pessoa tenha um ferimento sequer, mas eu enfrentarei aqueles que se dispuserem a enfrentar a ordem, a lei, a paz e a tranquilidade”, concluiu.
Retirada da grade permitiu entrada dos integrantes do batalhão de choque
No momento do enfrentamento, Cid pilotava uma retroescavadeira para remover a grade dos amotinados quando foi alvo dos disparos de tiros, sendo atingido por dois. Assim que ele conseguiu arrancar a grade, os tiros começaram a ser disparados.
Ao contrário do que os bolsonaristas inventaram, Cid Gomes estava puxando a cerca para retirá-la com o objetivo que a tropa de choque que estava do lado de fora pudesse entrar no quartel. Tanto assim que ele tinha dado marcha-á-ré para arrancar a grade quando foi baleado.
Assista ao vídeo do momento em que Cid é baleado
Equipes do Comando de Polícia de Choque (CPChoque) da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e do Comando Tático Rural (Cotar) , retomaram o quartel do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM), em Sobral, local é onde o senador e ex-governador do Ceará, Cid Gomes, foi baleado.
Logo após o atentado, o CPChoque realizou incursão no quartel no 3º BPM, mas os policiais amotinados fugiram antes da ação se concretizar. Equipes do Cotar permaneceram no local.
Houve um acordo salarial fechado entre os líderes policiais e o governo de Camilo Santana. Porém dois dias depois voltaram atrás exigindo 21% de aumento.
Em agosto de 2018, durante a campanha eleitoral, Ciro Gomes (PDT), irmão de Cid, em entrevista à Globo News, acusou políticos do Ceará de protegerem as “milícias da Polícia Militar”.
“Hoje você tem soldado vereador, cabo deputado federal, capitão deputado estadual protegendo as milícias da Polícia”, disse Ciro sem citar nomes, mas em clara referência ao deputado federal Cabo Sabino (Avante), o deputado estadual Capitão Wagner (Pros) e o vereador Soldado Noélio (Pros).
O Cabo Sabino é o líder do movimento de parte dos policiais cearenses. O atual deputado federal Capitão Wagner é pré-candidato a prefeito de Fortaleza.
Em entrevista ao UOL, Sabino não reprovou quem deu os tiros que atingiram o senador, muito pelo contrário, ele estimulou ao dizer que foi Cid quem atacou.
A grave situação de segurança provocada pelos amotinados fez com que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, anunciasse que já enviou a Força Nacional para ao Ceará e determinasse reforço para proteção de Cid Gomes. “Determinei à Polícia Federal, à Polícia Rodoviária Federal – PRF e à Força Nacional de Segurança Pública – FNSP que adotem as medidas possíveis com vistas a prestar o apoio necessário ao Estado”, disse o ministro.