Na matéria do educador venezuelano Javier Antonio Vivas Santana é apontado o crescente isolamento do que ele denomina de ‘madurismo’, em meio à galopante inflação, salários irrisórios, falta de insumos e medicamentos. Seguem os principais trechos do artigo originalmente divulgado pelo portal Aporrea.
JAVIER VIVAS SANTANA*
Se algo ficou em evidência com os fatos dos dias 22 e 23 de fevereiro é que o ‘madurismo’ está tão só que sequer apareceram os diplomatas da Rússia e China para acompanhá-lo nos espaços fronteiriços, ou desde as tribunas midiáticas do país com o propósito de condenar as supostas forças invasoras que vinham se apoderar das riquezas da Venezuela.
De fato, não apenas o ‘madurismo’ apelou a todo seu jeito autoritário e ditatorial para silenciar e sabotar as ações da ajuda humanitária, como, apesar de dizer que conta com mais de 70% de apoio popular, teve que suspender por tempo indefinido, todos os canais que transmitiam o concerto Venezuela Aid Live, via satélite e de cabo, entre os quais estavam o National Geographic. Ainda restringiu os portais informativos, a ponto de ter que bloquear o navegador do Google, incluindo o YouTube, buscando desesperadamente que o povo não tivesse acesso à informação veraz e oportuna, fato que teve início na tarde de 22 de fevereiro, e que se estendeu durante todo o dia seguinte.
E nos perguntamos: se é verdade que eles têm mais de 70% de apoio popular, como dizem os ‘maduristas’, para que suspender tais canais, se além de tudo são um governo “democrático”? Igualmente, se como afirmam eles, esse concerto organizado pela oposição foi um fracasso, para o qual inclusive chamaram artistas “insignificantes”, cantores como Reynaldo Armas – o que dizer de Cristóbal Jiménez? -, como é isso de que o outro evento musical que o ‘madurismo’ havia planejado foi suspenso intempestivamente, se este ia estar abarrotado de “povo”? É algo estranho, primeiro suspender a transmissão evitando que a população pudesse ver o fracasso de um concerto organizado por forças imperialistas e, segundo, suspender o outro concerto que seria um “êxito rotundo”. A verdade é que os ‘maduristas’ não se cansam de justificar suas próprias torpezas.
Na mesma medida, pode chamar-se de “triunfo” e dizer que temos um país em “paz”, quando o ‘madurismo’ tem que fechar todas suas fronteiras para evitar que entrassem alimentos e medicamentos para o país? E, pior ainda, terminar com um saldo de dois indígenas pemones assassinados e mais de uma dezena de feridos no sul do estado Bolívar, sem investigar a informação de que esse grupo indígena assegura ter retidos mais de 35 efetivos militares, entre eles o comandante geral dessa zona, assim como assumir o controle de aeroporto de Santa Elena de Uairén?
Como falar de “triunfo” e “paz”, inclusive chegando ao extremo de dizer que estão “felizes”, quando o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, assegura que houve não menos de 285 feridos? Isso é “paz”? Isso é um triunfo? O insólito é que só neste 23 de fevereiro as autoridades colombianas confirmaram que mais de 60 militares abandonaram seguir as ordens do ‘madurismo’, e estes agora são chamados “infiltrados e terroristas” pela boca de indivíduos como Freddy Bernal que, sem ser autoridade militar, surgia como porta-voz da Força Armada, algo que evidentemente demonstra o nível paramilitar do regime que usurpa o poder na Venezuela.
‘Maduristas’ dizem que “a Venezuela amanhece em paz”. Suponho que à hiperinflação de 2.000.000%, salários e pensões de 0,15 centavos de dólar diários para 4 milhões de funcionários públicos e 3 milhões de homes e mulheres da terceira idade, escolas destruídas, hospitais sem insumos e medicamentos, milhares de dólares em perdas materiais, todas as fronteiras fechadas e bloqueadas, sem energia elétrica e sem água em muitos povoados e cidades, com militares abandonando a vergonhosa cadeia de comando do regime usurpador de Miraflores, mortos e feridos pelas balas dos coletivos armados, grupos indígenas violados em seus mais elementares direitos, incluindo à vida; que seja a isso os ‘maduristas’ chamam de “paz” e “triunfo”.
Se isso é uma maneira de “conseguir a paz e o triunfo”, tendo os coletivos armados como o único grupo claro e visível que lhes acompanha, a única verdade é que embora disfarcem o verbo e a semântica, a derrota do ‘madurismo’ está anunciada. Não poderão evitar o inevitável. A queda do regime é iminente. Não poderão seguir resistindo por muito tempo à imensa pressão internacional e do povo de Venezuela. À propósito de ser cego. Quem tiver olhos que veja.
* Mestre em Ciências Sociais e Língua e Doutor em Educação, professor da Missão Sucre. Escreve no portal Aporrea.org