CARLOS LOPES
Em relação a Deodoro, a monarquia não seria tão leve quanto, provavelmente, pensou Júlio de Castilhos ao escrever o artigo que citamos (v. A República e a formação do caráter nacional (11)).
O marechal, membro do Partido Conservador, fora nomeado, pelo Gabinete do barão de Cotegipe, além de Comandante das Armas, presidente da província do Rio Grande do Sul – isto é, acumulava o governo civil com a administração militar, tal como Caxias em 1842.
Por isso, é o próprio presidente do Conselho de Ministros quem lhe escreve. Diz Cotegipe que “há exploração política” entre os militares: “Vossa excelência, como o primeiro dos militares da Província, e responsável pela disciplina, podia e pode representar e pedir explicações. Recomendo a vossa excelência, como comandante das armas exercendo a presidência, empregue sua autoridade e influência para pôr termo a essa agitação dos espíritos. Aguardo comunicação oficial do ocorrido, cujos pormenores o governo ignora”.
A comunicação de Deodoro veio mais cedo do que Cotegipe esperava. Mas não foi a que ele esperava. Trata-se de um dos documentos mais importantes da História do país:
“Não há exploração política, nem exaltação de ânimos. Todos os oficiais generais e outros se mostram muito sentidos, inclusive eu, com a nova e vexatória imposição de os privar de pronta e imediata defesa, e têm para isso sobeja razão. Todos reconhecem, porque são disciplinados, a conveniência da judiciosa proibição de discussões pela imprensa sobre fatos de qualquer natureza, mesmo particular, que envolvam superiores. Ser, porém, privado e punido por discussões com pessoas alheias à classe e que não estejam revestidas de caráter superior pelo mando administrativo, é duro, humilhante e prejudicial. Peço a leitura do meu ofício de 3 de setembro ao ajudante-general. Justa é a dor pela imposição com que querem amesquinhar o Exército, sempre subordinado e sempre pronto. Sofre o que tem o calo pisado e não aquele que pisa. Se, como presidente e comandante das armas, tenho deveres, como soldado ofendido pela ingratidão para com a classe também os tenho, porque assim o exige a disciplina, moralidade e o brio dos soldados que defendem a monarquia. Afianço a vossa excelência que há calma e afianço, também, que será uma desgraça a imposição ilegal com que se quer oprimir o Exército. A corporação militar da Província deposita em mim, como seu intérprete, suas justas queixas e pede o valimento de vossa excelência.”
A reação de Cotegipe – enquanto os oficiais e cadetes no Rio, liderados por Benjamin Constant, apoiavam, em manifesto, os militares do Sul – foi destituir Deodoro da presidência do Rio Grande do Sul e acusá-lo de permitir a “indisciplina”.
A resposta de Deodoro:
“O tema em questão é ‘reuniões indisciplinares – tumultuosas – sediciosas – por parte dos militares‘ [Deodoro cita o ofício de Cotegipe].
“Se bem que houvesse, pelas forçosas e especiais circunstâncias, justo motivo para reuniões assim qualificadas, todavia os militares, por disciplinados e criteriosos, bem patentearam os seguintes atributos característicos dos soldados – união fraternal, ordem, respeito, calma, firmeza e amenidade – e limitaram-se, como lhes cumpria pelo assentimento, a uma reunião pacífica, sem discussões, com o fim de pedirem providências sobre os seus direitos.
“Houve motivo para tumultuosas reuniões, porque os militares não podem, nem devem, estar sujeitos a ofensas e insultos de Francos de Sá e de Simplícios [o deputado que atacara o coronel Cunha Matos], cuja imunidade não os autoriza a dirigir insultos, nem os isenta de precisa e conveniente resposta.
“E que houve, Exmo. Sr., por causa desses insultos dirigidos por eles contra os militares?
“Por parte do governo, permita-me V. Ex.ª dizer, muita consideração aos insultantes, e assim, não só aprovou os insultos, como foi além – ofendeu ainda mais, com pública repreensão, para conhecimento do mundo, a um velho servidor, homem criterioso, homem decente, homem correto e homem distinto, somente por satisfação a quem nenhuma autoridade tinha sobre militares!
“Achará V. Ex.ª nisso coisa de pouca monta?
“Não será amesquinhar-se o Exército; tirar-se-lhe o brio, a dignidade e o amor próprio, requisitos esses sem os quais não haverá soldados, mas sim vis e desprezíveis escravos?
“Por parte do Exército – uma reunião calma, respeitosa e pacífica pedindo a reparação de direitos violados e da dignidade ofendida. A ferida foi forte, cruel e mortal e com justa razão sangrará enquanto Madureira e Cunha Matos estiverem sob a pressão da injustiça de que foram vítimas.
“Transcrevo o seguinte trecho da carta de V. Ex.ª – ‘Hoje protesta-se contra atos da primeira autoridade militar, que é o ministro da Guerra; amanhã protestar-se-á contra os dos chefes, ou sejam generais ou comandantes de corpos, teremos, portanto, um Exército deliberante, o que é incompatível com a liberdade civil da Nação’.
“Assim parece, Exmo. Sr., em teoria, mas, condicionalmente, não na prática.
“E por que a sugestão que motivou a matéria desse trecho?
“Por uma coisa que não lhe tem completa aplicação. Pelos repetidos fatos, Exmo. Sr., tendentes à humilhação da classe pelo seu enfraquecimento moral, para o que hoje ofende-se gravemente, sem motivo para isso, a um oficial superior, amanhã ofender-se-á um brigadeiro e depois os da última patente e assim conseguir-se-á aquilo que é notório, que é sabido desde muitos anos.
“Se ainda vivesse Caxias fatos de tal natureza certamente não se dariam.
“E o que motivou o castigo a dois oficiais superiores, ambos bem conceituados? A repulsa que fizeram aos insultos de um deputado e de um senador! Foi o quanto bastou.
“Não teremos, Exmo. Sr., Exército deliberante e assim incompatível com a liberdade civil da Nação, nem V. Ex.ª quererá Exército desbriado e assim fácil à ação de qualquer especulador para atirá-lo contra a liberdade civil da Nação.
“Acredito que, pela amizade e dedicação de meus camaradas, teria força moral para conter impaciências; mas também acredito que o meu valimento não seria de tal ordem, nem o governo tão condescendente, que com facilidade obtivesse a nulificação dos castigos injustamente infligidos aos dois oficiais.
“A política não influiu nem interveio na questão – toda especial e militar – cuja classe nada tem com o que estranhos dizem e escrevem. O Exército é o que sempre foi – leal e subordinado -: não cuida de política e tem em vista, antes de tudo e por tudo, a grandeza da pátria, e o que mais é – quando ela sujeita à sorte das armas.
“Muito se fala em Exército, em disciplina, em patriotismo; e se bem que, competentemente, disso se trata no parlamento, todavia entre seus membros figuraram, infelizmente, vultos que, sem a faculdade de distinguir simples datas, se metem a questionadores, julgando-se bons censores e melhores legisladores; verdade é que, para maior glória, ficarão seus feitos perpetuados nos respectivos anais.
“E falam em Exército e em disciplina!
“Sabe precisamente o que é Exército, o que é disciplina, somente aquele que pertence às suas fileiras; aquele que comparte de seus duros e rigorosos sacrifícios; aquele que toma parte ativa em suas glórias; aquele, enfim, que esquece mãe, mulher e filhos para lembrar-se, dentro das fileiras militares, somente da Pátria e que para felicidade dela oferece o corpo ao ferro inimigo. Sabe precisamente o que é disciplina militar somente aquele que, no horrível do combate, tem a responsabilidade – a mais elevada, a mais difícil – a incompreensível – que é a do soldado; e se a este faltar brio, dignidade e amor pátrio o que restará? Vis e cobardes escravos vergonhosamente surrados!
“Se a sorte determinar o rebaixamento da classe militar, no dia em que eu desconfiar que na frente de soldados não passarei de um comandante superior da Guarda Nacional – especial – e simples vulto político, quebraria minha espada, e, envergonhado, iria procurar, como meio de vida-, a exemplo de muitos, uma cadeira de deputado para também poder insultar a quem quer que seja.
“Sou eu o único culpado de toda questão atualmente levantada, porque se, em março de 1884, quando o Sr. Franco de Sá, assumindo a direção dos Negócios da Guerra, ofendeu brutalmente os oficiais, na ocasião da apresentação, com grosseiras alusões a Apulcro de Castro, não tivesse abafado o calor dos oficiais consequente da injúria que lhes foi lançada em rosto, privando assim de levar-se a efeito a bem merecida repulsa, certamente ele, no parlamento, não daria motivo para os fatos que hoje tanto incomodam o Exército.
“Concluindo, Exmo. Sr., direi: é fora de toda dúvida que os oficiais, ao primeiro insulto, ultimamente dado, tiveram resignação tal que foram sopitados seus sentimentos de dor; que calaram-se ao segundo, convictos de que outra reclamação não seria aceita, importaria em baixeza e dariam a mais exuberante prova de que abandonaram o companheiro distinto, o digno irmão, no campo de batalha, onde difícil é a proteção, como o abandonaram na paz, deixando-o só e entregue aos embates da injustiça e da perseguição.
“E é, Exmo. Sr., o governo do Brasil que, às glórias de ter, com o máximo sacrifício de dinheiro e sangue, libertado um povo que gemia por causa da própria inação e tirania de seu chefe, quer hoje juntar o ato inglório de escravizar homens ilustres, – seus concidadãos, – aos destemperos e fatuidades de Simplícios, cujos sentimentos, pelas galas do poder, fizeram explosão, ferindo a quem tinha direito incontestável ao respeito; é, porém, verdade que a farda brasileira do soldado torna-o imérito da paz.
“Pelo que fica expendido, conhecerá V. Ex.ª que prefiro ser desagradável levado pela verdade do que agradável pela reserva ou mentira: são os sentimentos de quem, com a maior consideração e subido respeito, é –
De V. Ex.ª At.º e Ven.ºr. Am.0 e Cr.º Obr.º – Deodoro” (NOTA: A divisão em parágrafos é nossa).
Esta carta é de 16 de novembro de 1886, três anos antes da Proclamação da República.
***
Enquanto essa ebulição tomava o país, onde estavam os monarquistas?
O conde de Afonso Celso tem merecido nos últimos tempos alguma atenção acadêmica (o título do conde é da quase extinta, hoje, nobreza do Vaticano; foi concedido pelo Papa Pio X em 1905; ao contrário de seu pai, que foi enobrecido por Pedro II, com o título de visconde de Ouro Preto, no apagar das poucas luzes da monarquia).
Na década de 60 do século passado, quando o autor destas linhas era adolescente, Afonso Celso era lembrado apenas por um livro perfeitamente ridículo, “Por que me ufano de meu país”, que tem tanto a ver com o patriotismo quanto o puxassaquismo baboso tem a ver com a verdadeira admiração.
Os capítulos mais engraçados desse livro são aqueles sobre os elementos que formaram o povo brasileiro – o sexto motivo, segundo o conde de Afonso Celso, da “superioridade do Brasil”.
O índios eram “bondosos, serviçais, confiantes, sociáveis”; os negros africanos, que foram “importados desde os primeiros tempos do descobrimento” (sic), ficaram tão entusiasmados com a própria importação, que “contribuíram tantos serviços para que no Brasil jamais houvesse preconceito de cor”.
O “preconceito de cor”, portanto, é um problema da conduta dos negros. A sorte deles é que se comportaram bem…
Quanto aos brancos, “onde quer que os portugueses fixem domicílio, na Ásia, na África, na Oceania, dão belos exemplos de união, patriotismo, amor ao trabalho, filantropia; elevam monumentos à caridade e à instrução. Em parte nenhuma é infecunda a sua passagem”.
A vida de Afonso Celso (Júnior) foi uma coleção de poses. Filho do último presidente do Conselho de Ministros da monarquia – e eleito deputado aos 22 anos, como ele mesmo esclarece, às custas do pai – jamais os republicanos levaram a sério as suas supostas tendências republicanas, manifestadas sob a monarquia.
Mesmo assim, é necessário perguntar por que ele escolheu o republicanismo para fazer pose, antes da Proclamação da República; logo ele, filho de um dos principais – e mais desastrosos, desde a Revolta do Vintém, em 1880 – políticos da monarquia (v. O nascimento da República e os jabutis em cima das árvores; e, também, A revolta dos escravos e o fim do Império).
A resposta nos parece ser a de que tornou-se impossível, até para os monarquistas, defender a monarquia – o que, até maio de 1888, significava defender, também, a escravidão.
Certamente, havia alguns trogloditas, que a defendiam; mas Afonso Celso (Júnior) pretendia-se um homem refinado…
Para o “poseur”, o importante é aparecer. Mas daí não se conclui que ele possa aparecer com qualquer pose. É necessário levar em conta a realidade.
A defesa da monarquia, na segunda metade do século XIX, tornou-se, cada vez mais, uma prerrogativa de escravocratas à beira da alucinação, como Cotegipe e Martinho Campos, gente, aliás, muito pouco refinada.
Joaquim Nabuco, um monarquista mais inteligente que o conde de Afonso Celso, percebeu essa questão com nitidez, em seu panfleto de 1886, “O erro do Imperador”, sobre a derrubada do Gabinete Dantas e a aprovação da lei Saraiva-Cotegipe (a mal chamada “lei dos sexagenários”):
“O Brasil voltou a ser um mercado de escravos, em alta; os cativos perderam o começo de apoio que iam encontrando na magistratura; a agitação dos espíritos está sendo substituída pela sombria resignação ao triste destino presente do brasileiro; as finanças ficaram reduzidas ao que lhes pôde dar o espírito conservador, que é unicamente uma liquidação ruinosa, porque somente grandes reformas sociais podem restabelecer o crédito público; a centralização terminará sua obra de ruína das províncias, ao passo que a intolerância facciosa do governo tratará em toda a parte, na Marinha como no Exército, na engenharia como na magistratura, na vida pública como na privada, os Liberais Independentes como excomungados da Idade Média.”
Para Nabuco, a destituição do senador Dantas e da Câmara pelo imperador – para entregar o governo aos escravocratas – fora um “Golpe de Estado que restituiu ao espírito escravista a posse da geração contemporânea, que se havia quase libertado dele” (maiúsculas no original, grifo nosso).
Mais, escreve Nabuco. O imperador cometera uma “infinidade de crimes”:
“É possível porém que a história, contemplando a soma incalculável de injustiças, sofrimentos, opressões e martírios, que hão de assinalar à sombra da Nova Lei esta fase da recrudescência da escravidão, e observando diante desse espetáculo enlouquecedor a tranquilidade olímpica de quem preside a ele diariamente, pense que o erro político quando envolve uma infinidade de crimes dessa ordem, é o maior de todos eles” (cf. Joaquim Nabuco, “O erro do Imperador”, G. Leuzinger & Filhos, 1886, grifo nosso).
Porém, voltemos ao conde de Afonso Celso, que, durante a República, seria uma das “perpétuas da Lapa” (aliás, seu presidente), isto é, um integrante do núcleo monarquista que constituiu, após a morte do Barão do Rio Branco, em 1912, a diretoria do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
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Afonso Celso não foi autor apenas de “Por que me ufano de meu país”.
Ao contrário, escreveu muito, em geral tão inutilmente quanto em seu livro mais conhecido (nem é bom falar da sua poesia, onde há odes fetichistas como: “A prima do meu amigo/ Tem pés de tamanho tal./ Que não são pés, são perigo,/ Não fazem bem, fazem mal”).
Em que pese tudo isso, suas memórias de deputado, “Oito Anos de Parlamento: Reminiscências e Notas”, apresentam bastante interesse, inclusive nas distorções.
Eis como, nesse outro livro, ele conta o que ocorreu na sessão da Câmara de 22 de junho de 1886:
“A Monarquia mantinha-se por tolerância, exclamei – sem um único esteio ou ponto de apoio na alma nacional. Esta minha declaração provocou alguns não-apoiados, mas nenhum protesto veemente” (Afonso Celso, “Oito Anos de Parlamento”, ed. Senado Federal, 1998, p. 129, grifos nossos).
Dois anos depois, na sessão de 6 de junho de 1888, “assinalei ser francamente republicana a mocidade que surgia das academias, dos seminários, do Exército e da Armada. O partido republicano, continuei, é hoje um partido militante em São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. ‘Há 10 anos ninguém falava em República. Hoje raro é o dia em que na tribuna e na imprensa não se clame por ela, e o Governo ouve os brados sem os poder reprimir’” (idem, pp. 130-131).
Depois de outro deputado dizer que “ninguém acredita nessas profecias de mau agouro”, Afonso Celso respondeu:
“‘Nas de Thiers, anunciando os desastres da guerra de 1870’, finalizei, ‘também ninguém acreditava. O que está patente é que a monarquia não dispõe nesta Casa de defensores entusiásticos e ardentes que se irritem e se inflamem, ao ouvir que todos os elementos conspiram contra sua permanência’” (idem, p. 131).
Algo extraordinário, se examinado sob o ângulo dos resultados eleitorais, pois, como nota Afonso Celso, entre 1881 e 1889, houve apenas cinco deputados eleitos pelo Partido Republicano: Prudente de Morais (SP), Campos Sales (SP), Álvaro Botelho (MG), Monteiro Manso (MG), Lamounier Godofredo (MG) – e não na mesma legislatura.
Simplesmente, o sistema eleitoral não tinha a mínima correspondência com a realidade – isto é, com o país. Quanto ao Senado, era vitalício, escolhido pelo imperador. A lista tríplice era uma burla à pouca democracia possível, como descobriu, da maneira mais dura, o deputado cearense José de Alencar.
A ideia de que seria possível implantar a República por via eleitoral é, portanto, não somente estúpida, mas reacionaríssima.
Por fim, sobre essa questão, Afonso Celso lembra algo importante, dito por ele na Câmara:
“No meu citado discurso de 22 de junho de 1886, proferido perante o presidente do conselho, Barão de Cotegipe, acentuei que, tenho viajado bastante pelo interior do país, ainda não encontrara um homem disposto a pegar em armas para defender a Monarquia” (cf. idem, p. 132, grifo nosso).
Realmente, registra a ata daquela sessão da Câmara:
“O orador tem viajado bastante pelo interior do país: ainda não encontrou um monarquista de convicção, um homem disposto a pegar em armas e derramar seu sangue para defender o governo. Junte-se a este fato inegável a natural expansão do ideal democrático, que mostra ser uma anomalia absurda a permanência de um trono na América e concordar-se-á em que faz-se mister ir preparando o espírito público para uma nova forma de governo” (cf. Annaes da Camara dos Srs. Deputados do Imperio do Brazil, 1886, Volume II, p. 460).
Este era, nada mais nada menos, que o filho do último presidente do Conselho de Ministros do Império – três anos antes da Proclamação da República.
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Todo o material explosivo que se acumulara desde a Guerra do Paraguai – e mesmo antes, com a quebra econômica de 1864 – extravasaria na erupção que se chamou Proclamação da República.
Não foi apenas o meio militar – como mostrou a Revolta do Vintém e a própria Abolição.
Mas é evidente que os militares tiveram uma participação decisiva na Proclamação.
Existem muitas lendas reacionárias sobre essa participação, em especial, sobre a posição do marechal Deodoro da Fonseca. A mais comum – e mais rasteira – é a de que ele mudou de posição, até então a favor da monarquia, no próprio dia 15 de novembro, e até mesmo gritou ou tentou gritar “viva o imperador!”, quando, então, Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva, e outros, gritaram “viva a República!”, e o marechal se conformou – ou aderiu.
Somente se Deodoro fosse maluco esses supostos acontecimentos seriam possíveis. Afinal, ele reunira-se com os republicanos (Benjamin Constant, Aristides Lôbo, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Francisco Glicério, etc.) no dia 11 de novembro. Certamente, como já vimos na parte anterior deste trabalho, não foi para estudar fórmulas de manter a monarquia…
Já no dia quatro de novembro, ele declarara a um grupo de militares que “da monarquia nada mais se pode esperar em benefício da Pátria”. Ouviram essa declaração os oficiais Adolfo Mena Barreto, Joaquim Inácio Cardoso, Sebastião Bandeira, Tasso Fragoso e o sobrinho republicano do marechal, Clodoaldo da Fonseca.
É apenas um pouco menos enfática essa declaração, que aquela que fez na reunião do dia 11 de novembro: “… que leve a breca a monarquia! Não há mais o que esperar dela… Façamos a República. Benjamin e eu cuidaremos da ação militar. O Senhor Quintino e seus amigos organizem o resto…” (cf. R. Magalhães Júnior, “Deodoro, a Espada contra o Império”, Volume II, CEN, 1957, p. 38 e p. 47).
Porém, existe documento um pouco mais precoce, indicando a tendência de Deodoro.
A 19 de setembro de 1889 – dois meses, portanto, antes da Proclamação – ele foi entrevistado, quando passava por Santos, pelo “Diário da Manhã”, um jornal local:
“As eleições me surpreenderam. Eu sempre contei que o Governo fizesse dois terços da Câmara e que os conservadores e republicanos fizessem o terço”, declarou Deodoro.
A surpresa era porque, usando os métodos eleitorais (ou pseudo-eleitorais) a que já aludimos, o visconde de Ouro Preto fizera uma Câmara em que, dos 139 deputados, somente nove eram da oposição (conservadores ou republicanos).
Houve até mesmo um deputado governista, Carlos de Laet, que foi eleito por dois Estados diferentes (Paraíba e Mato Grosso), apesar de, na época, ser um desconhecido exceto por uma particularidade: era auxiliar de gabinete do visconde de Ouro Preto.
Dos nove oposicionistas, apenas dois eram republicanos, com os principais líderes do partido (Quintino Bocaiuva, Campos Sales e Silva Jardim) derrotados.
Essa eleição foi a 31 de agosto de 1889, a dois meses e meio da Proclamação da República.
Deodoro, que era marechal, fora enviado pelo governo para Mato Grosso, província em que o presidente era um coronel. Depois de saber que um desafeto – Silveira Martins – fora nomeado presidente do Rio Grande do Sul, ele chegara a uma conclusão: basta.
Saiu de Mato Grosso e foi para o Rio de Janeiro, sem pedir autorização.
Quando passou por Santos, foi entrevistado:
DIÁRIO DA MANHÃ: Que fim levaram os republicanos?
DEODORO: Nas províncias do Sul, pelo menos, o Partido Republicano foi o único que se apresentou em campo, disputando galhardamente a vitória às forças do Governo. É exato. Os conservadores mostraram-se medrosos, fracos e traidores.
DIÁRIO DA MANHÃ: V. Exª é conservador?
DEODORO: Era conservador porque só os conservadores protegem o Exército. Não a mim, porque só tive um protetor – Solano López; devo a ele, que provocou a Guerra do Paraguai, a minha carreira. Era conservador, mas votei sempre nos homens que estimava. Votei em Osório, em Porto Alegre, e Beaurepaire Rohan [ambos liberais]. Há três republicanos em quem votaria de bom grado, três moços distintos da província do Rio Grande do Sul: Assis Brasil, Ramiro Barcelos e Júlio de Castilhos. Não tenho aspirações. Com dois outros anos de vida terei chegado ao mais alto posto do Exército e cantarei no Império como galo na torre.
DIÁRIO DA MANHÃ: E se fosse chamado para a pasta da Guerra?
DEODORO: Aceitaria, com uma condição: é que nenhum dos colegas de Gabinete interviria nos negócios da minha pasta. Levaria a despacho os meus decretos, se os quisessem examinar, eu deixaria a pasta e tiraria o miolo (cf. Ernesto Sena, “Deodoro: Subsídios para a História”, SF, 1999, p. 31).
Já analisamos o significado da menção a Solano López: Deodoro não devia a sua carreira ao Império ou ao imperador. Quanto a votar em Júlio de Castilhos (ou Assis Brasil), não era um sinal de apego à monarquia.
O resto dos acontecimentos, sobretudo a revolução de Quinze de Novembro, mostram a que ponto Deodoro foi consequente.
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Esta é a última parte deste trabalho.
Portanto, resta justificá-lo.
Levei muito tempo para saber o que significava, realmente, “ethos”. Pode ser difícil de conceber, mas foi a literatura norte-americana que me ajudou a compreender a questão – por sua ausência, não por sua presença.
Durante muitos anos não consegui entender aqueles personagens-escritores da literatura norte-americana que parecem ter como objetivo escrever algo chamado “o grande romance americano” (p. ex., a Kit Sargent, em “What Makes Sammy Run?”, de Budd Schulberg).
O que seria isso?
Há algum tempo, lendo uma entrevista de Norman Mailer, finalmente, entendi: “Nós não temos um romance quer expresse o nosso ethos, tal como os russos têm ‘Guerra e Paz’. Aquele de nós [escritores dos EUA] que mais se aproximou foi Dreiser”. Ou seja, o que mais se aproxima disso seria “Uma Tragédia Americana”, de Theodore Dreiser.
Uma afirmação estranha em um país onde nasceram – e escreveram – Hawthorne, Cooper, Melville, Twain, Faulkner, Fitzgerald, Hemingway, Salinger.
Entretanto – e algo inacreditavelmente – Mailer está certo. Não há, entre os romances norte-americanos, algum que expresse, em seu conjunto, aquilo que um crítico chamou “a alma americana” (a rigor, estadunidense). Existem, apenas, expressões parciais, algumas delas com genialidade.
Somente cito essa história porque facilita a compreensão do que é “ethos” sem gastar muitas palavras ou teorias. Às vezes, o melhor a fazer é, simplesmente, contar como tomamos consciência da alguma questão, para facilitar o caminho de outros.
O motivo pelo qual esse problema existe nos EUA, naturalmente, não é assunto para este trabalho.
Voltemos à nossa terra.
No Brasil, se olharmos por esse ângulo, há vários livros que expressam o nosso ethos – “Os Sertões”, “Vidas Secas”, “Grande Sertão: Veredas”, “Mar Morto”, “O Continente”, “Fogo Morto”, etc.
Mas… e a literatura do século XIX?
Ferreira Gullar mencionou, a esse respeito, os romances indigenistas de Alencar.
Realmente, não apenas “os índios de Alencar”, mas toda a sua obra é uma tentativa de expressar o brasileiro, em língua “brasileira”. E ele fez o que pôde, numa época em que o nosso ethos, pode-se dizer, ainda não estava constituído, mas ele queria contribuir para que se constituísse.
Essa, aliás, era a grande preocupação dos artistas, diz o crítico Machado de Assis, após a Independência (v. o artigo de Machado, publicado em março de 1873, “Notícia da atual literatura brasileira. Instinto de nacionalidade”).
Os artistas brasileiros do século XIX (além dos escritores, alguns pintores, pelo menos um escultor de talento, e um músico excepcional: Carlos Gomes) não conseguiram uma síntese do que é nacional, porque isso não era possível com uma parte da população submetida à escravatura.
Somente uma observação, de passagem. É significativo que um autor como Bernardo Guimarães tenha sobrevivido, com “A Escrava Isaura”, publicado em 1875, pelos motivos opostos àqueles que Monteiro Lobato, em “Cidades Mortas”, apontou em sua obra: “No concerto dos nossos romancistas, onde Alencar é o piano querido das moças e Macedo a sensaboria relambória dum flautim piegas, Bernardo é a sanfona. Lê-lo é ir para o mato, para a roça – mas uma roça adjetivada por menina de Sion, onde os prados são amenos, os vergéis floridos, os rios caudalosos, as matas viridentes, os píncaros altíssimos, os sabiás sonorosos, as rolinhas meigas. Bernardo descreve a natureza como um cego que ouvisse contar e reproduzisse as paisagens com os qualificativos surrados do mau contador. Não existe nele o vinco enérgico da impressão pessoal. Vinte vergéis que descreva são vinte perfeitas e invariáveis amenidades. Nossas desajeitadíssimas caipiras são sempre lindas morenas cor de jambo. Bernardo falsifica o nosso mato. Onde toda a gente vê carrapatos, pernilongos, espinhos, Bernardo aponta doçuras, insetos maviosos, flores olentes. Bernardo mente”.
Neste sentido, existe um autor em tudo oposto a isso: Manuel Antônio de Almeida, que, em 1854, publicou “Memórias de um Sargento de Milícias”, uma obra, diz Machado, que conheceu bem o escritor, “bem conhecida, e aquela vigorosa inteligência, que a morte arrebatou dentre nós, bastante apreciada, para ocupar-me neste momento com essas páginas tão graciosamente escritas”.
Machado referia-se à segunda edição do livro de Manuel Antônio de Almeida, promovida por outro amigo do autor, Quintino Bocaiuva, em 1863.
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Érico Veríssimo considerava a poesia brasileira, em seu conjunto, mais importante do que a prosa, também considerada em conjunto.
Ainda que ele, um dos maiores prosadores brasileiros, estivesse se referindo ao século XX, é certo que os dois grandes poetas brasileiros do século XIX – Gonçalves Dias e Castro Alves – conseguiram, no sentido que estamos abordando, melhor resultado: não surpreendentemente, ao colocar as etnias “não dominantes” (os índios e os negros, isto é, os escravos) no centro de sua obra.
Quanto ao grande Machado, o que expressa o nosso “ethos” nos romances a partir de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” – e nos contos – é a própria atitude do escritor, ao dissecar uma classe dominante putrefata.
Então, é inevitável a conclusão de que o nosso “ethos” se constituiu, sobretudo, na luta pela República.
Mesmo um monarquista como Joaquim Nabuco, ao escrever “O Abolicionismo” (1883), livro essencial em nossa formação, estava, rigorosamente, lutando contra a monarquia.
Como já vimos, não foi o único monarquista a tomar esse caminho.
Que outras obras – além, evidentemente, das que já citamos – expressam o nosso “ethos”?
Sem a pretensão de ser exaustivo (desse ridículo, não morreremos), mencionaremos “Queda do Império”, de Rui Barbosa; “Capítulos de História Colonial”, de Capistrano de Abreu; “Canaã”, de Graça Aranha; o extraordinário (e subestimado) “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto; “Costumes Africanos no Brasil”, de Manuel Querino; “A Evolução Industrial do Brasil”, de Roberto Simonsen; “Literatura Oral no Brasil”, de Camara Cascudo; “Educação Não É Privilégio”, de Anísio Teixeira; “Introdução Crítica à Sociologia Brasileira”, de Guerreiro Ramos; “Memórias de um Soldado”, de Nelson Werneck Sodré; “A Pedra do Reino” (aliás, “Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”), de Ariano Suassuna; “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro; e uma obra de filosofia que é inseparável da nossa nacionalidade: “Consciência e Realidade Nacional”, de Álvaro Vieira Pinto.
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Não estamos, aqui, polemizando com as listas de “construtores” (ou “intérpretes”) do Brasil apresentadas por alguns autores. Embora, a polêmica sobre esse assunto seja saudável – nada mais desanimador do que aqueles artigos, agora habituais, em que, para se criticar, antes despeja-se um container de elogios, como se a crítica fosse algo contra a vontade de quem a faz.
Mas, realmente, o nosso objetivo, aqui, não é a polêmica, ainda que esta seja inevitável. Nosso objetivo é definir uma vertente que expressa o nosso caráter nacional – que somente a luta pela República foi capaz de constituir.
Quando se diz, seja um respeitado acadêmico, seja um degenerado ideológico, como Weintraub, que a Proclamação da República foi um “golpe”, é esse caráter nacional que se está atacando.
É certo que a parte mais avançada daqueles que proclamaram a República não conseguiu, depois, predominar. Aliás, não conseguiu ficar unida para implementar um processo de industrialização e desenvolvimento (o conflito de Rui, e outros, com Floriano sintetiza esse drama para o país).
Naquilo que Nelson Werneck Sodré chamou de “luta interna [dentro da República] entre a componente territorial e a representação de classe média”, predominou, a partir do governo Prudente de Moraes, a primeira – os “senhores territoriais” vinculados “ao comércio externo, pela colocação no exterior do produto principal do País, o café”.
Se era inevitável ou não esse desfecho é quase sem importância. Diremos apenas que não houve um projeto para o país que unisse os mais avançados republicanos. Porém, a verdadeira questão é se era possível elaborar esse projeto na época. A tentativa de Rui Barbosa, como ministro da Fazenda de Deodoro, e a reação dos demais republicanos durante a crise que se conhece com o nome de “encilhamento”, parece indicar que não.
Entretanto, foram esses republicanos mais avançados, ou seus sucessores, que, 40 anos depois, fizeram a Revolução de 1930, dando início à industrialização e ao desenvolvimento que perduraram por cinco décadas – com as interrupções conhecidas.
Derrotados no final do século XIX, eles varreram com o domínio da oligarquia cafeeira em 1930 – e a derrotaram, outra vez, em 1932.
Mas, quanto ao que chamamos “interrupções”, existe, aqui, uma questão que permeia este trabalho desde o seu início:
É possível destruir, total ou parcialmente, o caráter nacional de uma população?
As interrupções em nosso processo de desenvolvimento nacional, a começar pelo golpe de 1964, são capazes de destruir o que se chama o “ethos”, constituído na luta pela República?
Na história, como sabemos, há povos que desapareceram. Aprendemos na escola que os hunos chegaram até Roma. Onde estão os hunos agora? Ou aquele povo que vivia na vizinhança dos latinos, os etruscos?
Se povos podem desaparecer, quanto mais o caráter nacional de uma coletividade. Talvez, aliás, seja a mesma coisa.
Entretanto, é forçoso convir que o nosso caráter nacional tem resistido a ataques contínuos e violentos. Certamente, não incólume.
No início de “Spartacus”, de Howard Fast, no meio da estrada para Cápua, em que, dos dois lados, estão crucificados os escravos que se rebelaram, aparece um estrangeiro, um mercador, oriundo de um país ocupado pelos romanos:
“Shabaal sentia-se mais do que honrado em conhecer qualquer romano, pois nutria a mais profunda admiração pelos romanos, todos os romanos, sobretudo um romano bem nascido e bem situado como Caio obviamente o era. Alguns orientais não compreendiam certas coisas dos romanos, por exemplo a liberdade de movimentos das mulheres; mas Shabaal não era destes. Toque de leve num romano e logo encontrará sua tempera de ferro, era o que provavam os símbolos ao longo da estrada e agradava-lhe que seus escravos aprendessem a lição vendo aquelas cruzes tão instrutivas.
“– É inacreditável, meu jovem senhor – comentou Muzel Shabaal em seu latim fluente de sotaque pitoresco -, mas, no meu país, havia muita gente que tinha a certeza de que Roma cairia nas mãos de Espártaco. Houve mesmo um pequeno levante entre os nossos próprios escravos, mas logo o dominamos com medidas severas. ‘Como compreendeis pouco Roma’, dizia eu aos meus compatriotas. ‘Quereis medir Roma pelo que sabeis do passado e pelo que vedes em vosso redor. Esquecei-vos de que Roma é algo de novo nesta terra.’ Mas poderia eu descrever-lhe Roma? Por exemplo, digo gravitas. Que significa isto para eles? Na realidade, que significa isto para quem quer que não tenha visto Roma por si mesmo, que não tenha desfrutado da companhia e das palestras dos cidadãos de Roma? Gravitas – as pessoas atentas, com senso de responsabilidade, capazes de levar a vida a sério e ter intenções sérias. Levitas compreendemos melhor, pois é um defeito nosso; somos levianos, ansiamos pelos prazeres. O romano não é leviano; é um estudante da virtude. Industria, disciplina, fruguiitas, clementia [zelo, disciplina, temperança, clemência]… para mim estas palavras esplêndidas são Roma. Este é o segredo da paz da estrada romana e do domínio romano. Mas como se explica isto, meu jovem senhor? De minha parte, vejo com séria satisfação estes símbolos de castigo. Roma não relaxa. A punição corresponde ao crime, e eis aí a justiça de Roma. A desfaçatez de Espártaco foi ter desafiado tudo o que há de melhor. Ofereceu rapina e assassínio e desordem; Roma é a ordem… e, portanto, Roma o rejeitou” (tradução de Tati de Moraes).
Assim eram os “ceciliers” e “farialimers” daquela época (v. a primeira parte deste trabalho).
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Certamente que a preservação e desenvolvimento do caráter nacional depende do que os brasileiros façam – na política, na economia, na cultura.
Este trabalho pretende ser uma contribuição nesse sentido: não é possível assumir e desenvolver o nosso caráter nacional se o seu elemento constitutivo é considerado “um golpe”.
Sobre isso, em algumas obras recorre-se ao artigo de Aristides Lobo para o “Diário Popular”, de São Paulo, sobre a Proclamação, especialmente à frase: “O povo assistiu àquilo bestializado”.
Porém, diz Aristides Lobo nesse artigo:
“O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava.
“Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada.
“Era um fenômeno digno de ver-se.
“O entusiasmo veio depois, veio mesmo lentamente, quebrando o enleio dos espíritos” (grifo nosso).
O que era inevitável por várias razões. O notável é que nenhuma tentativa de restauração da monarquia, real ou suposta, contou com apoio popular.
Pelo contrário, contou com o repúdio do povo.
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Este trabalho estava planejado para um pouco mais de 12 partes. Pretendíamos tocar em outros assuntos – inclusive no abafamento, no final da República Velha, da literatura e historiografia republicanas.
Além disso, prometemos aos leitores abordar mais detidamente alguns temas – por exemplo, a figura histórica de Francisco Solano López.
Porém, entenderá o leitor, com um louco fascista na Presidência da República, temos pouco tempo para nos estender sobre assuntos históricos, além daqueles que são imprescindíveis para a nossa luta atual, para a luta do nosso bravo povo contra a morte e pela democracia.
Assim, com as nossas escusas, desejamos que a leitura seja de alguma valia.
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