Fegalo Nsuke, presidente da organização nigeriana, Movimento pela Sobrevivência do Povo Ogoni, denuncia que “a Shell esteve envolvida em muitos crimes que ocorreram na região do povo Ogoni e, de fato, algumaevidências que a Anistia apresentou estão subestimadas se comparadas com as atrocidades perpetradas pela Shell”. Nsuke deu entrevista para o Sputnik, publicada dia 29.
Os crimes contra o povo Ogoni foram perpetrados pelos militares nigerianos na tentativa de silenciar os protestos contra a poluição e o descaso da Shell.
“As evidências analisadas por nós demonstram que a Shell encorajou, repetidamente, os militares nigerianos a responder aos protestos comunitários contra danos ambientais, mesmo sabendo que os resultados seriam assassinatos, estupros, tortura e aldeias incendiadas”, afirmou Audrey Gaughran, diretora da Anistia Internacional ao discorrer sobre o relatório que pede a abertura de um processo judicial contra a multinacional.
“Nós gostaríamos de ver a abertura de um caso criminal. Eu acredito que algum dia a Shell será levada ao tribunal por conta dos crimes em Ogonilândia, mesmo que seja um longo processo legal. Estou confiante de que algum dia, a Shell pagará pelos crimes em contra os Ogoni”, afirmou Fegalo.
Para Gaughran, “é indiscutível que a Shell teve papel fundamental nos devastadores eventos ocorridos contra o povo Ogoni durante a década de 1990” na região petrolífera do Delta do Níger, na década de 1990. “Acreditamos que existem motivos para uma investigação criminal”, disse Gaughran ao discorrer sobre o pedido da entidade para que os governos da Nigéria, Inglaterra e Países Baixos iniciem investigações contra a petroleira com base na publicação do seu relatório. “Durante a brutal repressão do governo na época, a Shell também providenciou apoio material aos militares, incluindo transporte, e chegou a pagar propinas a um comandante militar conhecido por suas violações contra os direitos humanos. Essas vultuosas evidências são o primeiro passo para levar a Shell à justiça. Estamos trabalhando na construção de um arquivo criminal para enviar às autoridades competentes”.
Os memorandos internos da empresa, referentes a década de 1990, demonstram o as relações da multinacional com o governo e suas ações criminosas, evidenciando todo o processo de lobby e a assistência logística e financeira dada pela empresa aos militares e forças policiais que tomaram parte nos ataques contra aldeões.
A campanha do governo nigeriano contra o povo Ogoni, em 1995, culminou na execução de nove dirigentes Ogoni, incluindo Ken Saro-Wiwa, o destacado escritor que participou ativamente dos protestos. As execuções se deram após um julgamento ilegal e foram respondidas com protestos em nível mundial.