ELDER VIEIRA (*)
Chegou ao conhecimento deste reles escriba que o governador de São Paulo chegou a ter seu vídeo de saudação ao 1º de Maio vetado por uma das centrais sindicais. Considerando o histórico dos dirigentes da referida, não é de estranhar, embora se lamente que persistam nos vícios de origem de que padecem.
O episódio, no entanto, serve de pretexto para, mais uma vez, falar da tática política dos trabalhadores nesses tempos de mandatário alucinado genocida da República. Vamos a isso.
Ora veja, meu preclaro leitor e digníssima leitora: estando o País sob a tutela de um pau mandado do imperialismo, do latifúndio e dos banqueiros, sujeito apoiado pelas milícias, dono de forte simpatia das bases das polícias militares e das forças armadas, incensado pelo pentecostalismo de cassino de pastores do dinheiro alheio, e que sustenta nas pesquisas de opinião algo em torno de 30% de apoio – pouco mais hoje, pouco menos amanhã – estando a Pátria, dizíamos, sob o tacão de um sujeito assim, é lícito que os trabalhadores rejeitem apoios? É razoável que o proletariado – outro nome para a classe dos que labutam – rechace aproximações com aqueles que, não tem muito tempo, andaram a escarrar na legalidade democrática, mas que, hoje, a defendem com unhas e dentes?
O cidadão governa o mais poderoso estado da federação. Saiu nos jornais dia destes pregando união de amplos setores e propondo uma saída pelo meio, tendo o interesse do País por bandeira. Chama o sujeito que infelicita o Planalto Central de tudo que é nome, menos de meu amor. Ou seja, se rejeita o candidato de figurino popular, rejeita igualmente – e este é o dado mais saliente – o carrasco do povo. Não vamos tomar de uma cadeira e puxar prosa com ele? Se ele quer nos enviar um olá, ou pedir ingresso na roda apenas pr’um como vão, vamos impedir que se aproxime sequer?
A tática do veto é o veto da tática inteligente para driblar e golear um adversário mais forte – que não tem o comando do estado mais poderoso da Nação: tem o comando dela inteira. Na situação em que nos encontramos, é preciso desobstruir pontes políticas e, onde não existam, construir.
O momento pede união de muitas e muitas forças num arco amplo, largo, de alianças. O momento exige Frente Ampla em defesa da vida, da democracia, da Pátria, dos direitos do povo. E Frente Ampla é frente com todos aqueles que tenham máximas e mínimas contradições com o capetão da cloroquina.
Isso é longe de significar que acabaram-se as diferenças e as disputas. Nem tampouco as identidades históricas entre os burgueses que se espalham pelas diversas aglomerações partidárias e os antagonismos de classe entre estes e os trabalhadores.
O que tudo o até aqui escrito quer demonstrar é que não é com vetos que se constróem as alternativas que galvanizarão o povo e atenderão os interesses dos trabalhadores. A hora é de ir costurando os retalhos daquilo que foi o pacto que redundou na Constituição de 88 e no ciclo democrático interrompido em 2016. Aqueles que pelejam pelo contrário disso, querendo ou não, traem a classe que dizem defender.
(*) Escritor, autor de Os Anos Verdes de Lindaura (e-book, Editora Serra Azul), gestor e servidor público. É militante comunista desde 1983. Artigo publicado originalmente no Portal Vermelho.
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