“Nós temos um problema com a taxa de juros que está alta”, afirmou o presidente, em entrevista à TV Liberal, do Pará
O presidente Lula criticou, nesta sexta-feira (3), a decisão do Banco Central (BC) de manter o patamar da taxa básica de juros da economia, a Selic, em 15% ao ano, maior patamar de juros em quase 20 anos. A declaração foi dada em entrevista à TV Liberal, do Pará. Lula disse que a atual taxa de juros “é um problema”.
O BC reconheceu que a atividade econômica perdeu força, mas afirmou que vai manter os juros atuais por um longo período.
O setor produtivo vem alertando para a gravidade da situação e o presidente da República mostrou que não está satisfeito com a situação. “Nós temos um problema com a taxa de juros que está alta. E nós vamos ter que cuidar para que ela baixe um pouco mais porque a gente precisa ter consciência de que inflação baixa e juro baixo significam crescimento, significam geração de emprego, significam melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro e, disso, eu não abro mão”, disse o presidente.
A decisão de manter o Brasil com a segunda maior taxa de juros reais do planeta – só perdendo para a Turquia -, mesmo com a atividade econômica em desaceleração, foi justificada pela diretoria do Banco Central com a alegação de instabilidades no ambiente externo e a inflação ainda acima da meta no Brasil. Especialistas consideram a meta de inflação no Brasil de 3% como irreal e defendem que o Conselho Monetário Nacional, composto pela Fazenda, Planejamento e BC, a revise para um nível mais compatível com a realidade brasileira.
Além de impedir que o país retome o crescimento econômico nos níveis que são necessários e urgentes, as elevadas taxas de juros básicos mantidas pelo Banco Central catapultam a dívida pública e, consequentemente, os gastos com pagamento de juros e custos financeiros dessa dívida. Só nos últimos 12 meses, segundo dados do próprio BC, o país transferiu dos cofres públicos para o pagamento de juros R$ 946 bilhões, um montante superior ao orçamento da Educação, Saúde e Assistência Social somados. E o setor financeiro pressiona para que os gastos sociais sejam ainda mais espremidos. O presidente Lula tem toda razão ao afirmar que isso é um problema sério para a economia do Brasil.
Até mesmo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dado declarações na mesma linha do presidente Lula. No fim do mês passado, Haddad afirmou que acredita ter espaço para a Selic cair. Segundo ele, a taxa “nem deveria estar” no patamar que está. “Eu entendo que tem espaço para esse juro cair. Acredito que nem deveria estar em 15% [ao ano]. Ele [presidente do BC, Gabriel Galípolo] tem os quatro anos de mandato dele, e ele vai entregar um resultado consistente ao Brasil”, pontuou na ocasião.