Rodrigo Leste
No episódio 10, o senador Cheiroso e um eminente ministro comemoram o êxito do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Episódio 11
Além de Jane, estão no apartamento Alfredo, Gui, Geleia, Renato e Sabrina, que reluta em aceitar a proposta de Alfredo de “interpretar” a Tatá, irmã do senador Cheiroso que foi presa, acusada de corrupção ativa.
— …Detesto a minha voz, Fredo. E sou travada, entende? Travadaça.
— Qual é, Sabrina? — diz Renato. — Já vi uma foto sua numa peça, acho que é Liberdade, Liberdade, não era isso?
— Eu era criança, Renato, não sabia o que estava fazendo… E a Jane? Ela podia fazer a cena.
— Tá forçando amizade, Sabrina — fala Alfredo. — Você sabe, a Jane é morena demais pro papel.
Jane ri, apontando a pele do braço. Sabrina faz caretas involuntárias, mostra que não está gostando nem um pouco da ideia.
— Tá. OK. Mas e a Tayná? Ela é branca igual a um fantasma, Fredo — diz Sabrina. — Por que não chama ela?
— Tayná?! Tá de sacanagem, Sabrina — diz Alfredo, rindo. — Ela é a maior mosca morta, aí é que não sai nada mesmo. Sem chance.
— Ninguém é ator de verdade nesse filme, Sabrina — insiste Renato. — Tudo é na base do faz de conta, é tudo fake mesmo, Fake Film, como disse o Gui.
— Fake Film! Um a zero pra mim — Gui ri e ergue o dedo indicador.
— Aqui, Sabrina, do jeito que eu vejo a cena você não vai ter que falar muito — explica Alfredo. — É mais a situação da Tatá apavorada no presídio, cagando de medo das outras presas, deprimida e tal. E não foi você que falou que temos que pôr mulheres no filme?
— Engraçadinho! E como é que você vai conseguir filmar num presídio? — pergunta Sabrina.
— Tô pensando em fazer num ambiente neutro, aqui mesmo, um plano fechado mostrando mais a figura da “coxinha” sentada na cama tremendo, talvez rezando. Podemos usar efeitos de edição pra criar o ambiente. Pôr a sombra da grade da cela projetada na cama, no seu corpo, um troço assim, né, Gui?
— De boa, Fredo, dá pra fazer — responde Gui.
— Legal, Fredo, bela sacada — diz Geleia, brincando de enquadrar Sabrina na tela do iPad.
— Vira isso pra lá, Geleia, porra, num enche o saco! — reclama Sabrina.
— O forte da tomada vai ser o áudio — prossegue Alfredo. — Podemos produzir sons que remetam ao ambiente do presídio: cachorros latindo, barulho de sirene, máquinas diversas, lavanderia, muita falação ao longe, alguém varrendo o pátio. Aí a gente grava vozes das presas gritando: “Tatá, sua burguesinha de merda, tá gostando do ‘hotel’?” — Vamos montar o som de mulheres rindo, xingando a prisioneira recém chegada, um troço assim.
— Porreta! — comemora Renato. — Vamos escrever essa cena. Se quiser, Fredo, faço um rascunho agora mesmo e você dá uma finalizada. Temos que ir resolvendo tudo, devo viajar na semana que vem, tá pintando um trampo em Curitiba pra mim.
Sabrina recorre a um antigo cacoete, começa a tatear as pontas do cabelo, mas já não diz que não.
Fim do Episódio 11