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Rodrigo Leste
No episódio 15, vimos que o grupo ficou sem ação diante do roubo do equipamento e da perda quase total de todo material do filme que já foi produzido.
Episódio 16
Pelo zap do grupo, Renato envia uma mensagem: “Pessoal, não tô conseguindo engolir essa. Não podemos aceitar que tudo vá pro ralo desse jeito. Meio que “copiando” o Fredo, escrevi esta cena:
Ao reconhecer o número desconhecido na tela de seu celular, o ministro fica atento, faz uma anotação e imediatamente apaga da memória do aparelho o último registro. O prefixo que indica a origem da ligação — 18 — é seu velho conhecido — Presidente Venceslau — SP —. Com um gesto manda que Dirce, sua secretária, retire-se da sala. Levanta-se e tranca a porta. Pega na gaveta um celular, do modelo mais simples que existe no mercado. Digita o número que anotou em um papel. É prontamente atendido.
— Já era hora. Ontem liguei três vezes e nada!
— Estava viajando, meu caro, a agenda quase me matou, uma tonelada de problemas que tive que administrar.
— Problema o senhor vai ter se não resolver essa parada. O caldeirão tá pra explodir; não posso ficar segurando toda a bronca sem oferecer nada de volta pra rapaziada.
— É preciso agir com calma, ter inteligência. O senhor sabe que é um jogo, portanto, nem sempre o mesmo lado vai ganhar, as derrotas, fazem parte da contenda.
— O senhor é doutor, fala bonito, conheço seu papo, mas não me enrola não. Hora que a porra toda explodir vocês vão pagar caro, vai virar um salseiro, a guerra vai ser pior do que a da Síria, do Iraque.
— A negociação é mais complicada do que vocês pensam. Não depende só de mim, não depende só do governo, a esfera dos nossos acordos tem uma amplitude internacional. Grandes corporações precisam ser ouvidas. A coisa não é feita em um estalar de dedos. Muitos interesses têm que ser contemplados.
— Papo reto, doutor, papo reto. Num vem com treta porque o malandro aqui sou eu. Tem prazo, tá ligado? Se o nosso pedido não for atendido, o trato não cumprido, não vai ter como segurar, a guerra vai explodir. Tô avisando.
— Calma. Nada de precipitação. Estou fazendo todo esforço para tornar esse pedido de vocês aceitável. Mas você há de convir que existe uma grande dose de exagero nesta demanda de agora. Tudo tem limite.
— Calma, calma. Já tô de saco cheio dessa calma. O senhor sabe que se eu quisesse, eu saia daqui a qualquer hora, numa boa, e levava os outros cabeças comigo. Se fosse o caso, até explodia esse muquifo, matava todo mundo e aí ninguém mais me segurava. Ia virar o rei desse país. Seguro a onda porque tem os manos todos, as famílias, todo mundo que depende da gente. Se não fosse isso, não ia querer saber de acordo nenhum, ia pôr pra fuder e boa!
— Meu caro, meu caro, escuta; por favor (nota-se um ligeiro tremor na voz do ministro). — Entendo perfeitamente suas colocações. Sei que o senhor é um homem atribulado, cheio de compromissos, admiro o seu desprendimento e entrega. Mas, volto a dizer: não depende só de mim. Prometo resolver o assunto o quanto antes, mas nada poderá ser feito se o acordo for rompido.
— Aqui, doutor. Chega de papo. O prazo é até amanhã ao meio dia. Se não rolar, prepara o rabo que vem chumbo grosso (desliga).
O ministro olha para o celular com um misto de espanto e impotência. Solta um — caralho! — termo que raramente emprega. Põe o celular no chão e o esmaga com o salto do sapato de cromo alemão. Pega os restos e coloca no envelope que guarda em sua pasta preta. Toma um gole de água. Pelo interfone diz:
— Dona Dirce, manda preparar o escalda-pés. Lembra de pôr as ervas e sais. Pode trazer bem quente.
Fim
Aguardo comentários.
Até amanhã, às dez, lá na Jane.
Abraços, Renato”
Fim do Episódio 16