Maior jogador de todos os tempos, Edson Arantes Nascimento, o Pelé, morreu nesta quinta-feira (29) aos 82 anos, em São Paulo.
De menino de Três Corações (MG) a maior jogador do mundo, Edson Arantes do Nascimento nasceu no dia 23 de outubro de 1940 em Três Corações, no sul de Minas Gerais, em uma família humilde, filho de Celeste e de João Ramos do Nascimento, jogador de futebol conhecido como Donadinho.
Desde criança, já com o apelido de Pelé, ele queria seguir os passos do pai no esporte. Sua família se mudou para Bauru, no interior de São Paulo, e lá ele começou a carreira no futebol amador de campo e de salão.
Aos 15 anos, Pelé foi levado para fazer um teste no Santos. Foi contratado pelo clube em 1956 e já começou a se destacar na equipe.
O maior jogador de futebol de todos os tempos estreou na Seleção em 1957, numa partida da Copa Rocca contra a Argentina, quando também fez seu primeiro gol com a camisa amarelinha. Pela equipe brasileira, com apenas 17 anos, venceu a Copa do Mundo na Suécia, em 1958.
O batismo como Rei do Futebol ocorreu ainda em 1958, quando tinha apenas 17 anos, mas o cronista Nelson Rodrigues, já projetava o seu futuro de glórias. O texto foi publicado na revista Manchete Esportiva no dia 8 de março de 1958.
“Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável – a de se sentir Rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”.
Quatro anos depois, em 1962, se machucaria na segunda rodada do Mundial do Chile, também vencido pelo Brasil, com a brilhante atuação do igualmente gênio Garrincha. Após ser caçado em campo com duras faltas na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, ele comandou o lendário time brasileiro ao tricampeonato mundial em 1970, no México – é o único jogador a vencer três Copas.
Pelo Santos, Pelé é dono de marcas impressionantes: venceu dez vezes o Campeonato Paulista, torneio do qual foi o artilheiro por nove temporadas seguidas.
Ainda foi bicampeão da Libertadores e do Mundial de clubes, em 1962 e 1963. Foi também com a camisa branca do Peixe que marcou seu milésimo gol, contra o Vasco, no Maracanã, no dia 19 de novembro de 1969.
GÊNIO DA BOLA:
Segundo números do Santos, Pelé marcou pelo clube 1.091 gols em 1.116 jogos. Com a camisa canarinho, Pelé disputou 113 jogos e marcou 95 gols, de acordo com números da CBF. Nas contas da Fifa, que considera apenas jogos entre seleções, são 77 gols em 91 partidas.
Após encerrar sua carreira no Santos em 1975, Pelé jogou no New York Cosmos, no período de 1975 a 1977, onde apresentou o futebol ao público americano e atuou ao lado de estrelas internacionais, como o alemão Franz Beckenbauer e o italiano Giorgio Chinaglia. O Cosmos fecharia nos anos 1980, mas seria relançado em 2010, com Pelé como seu presidente honorário.
MILÉSIMO GOL
Em toda a carreira, Pelé fez 1.282 gols em 1.364 partidas na contabilização feita pelo Santos. Nas redes sociais, o Rei dizia ter feito um a mais, 1.283.
PAROU UMA GUERRA
Foi também pelo Santos que Pelé tornou-se lenda. Em 1969, durante excursão do time à África, a presença de Pelé fez cessar um conflito armado. “Um dos meus grandes orgulhos foi ter parado uma guerra na Nigéria, em 1969, em uma das várias excursões que o Santos fez pelo mundo. Nós tínhamos um amistoso marcada na Cidade de Benin, que estava no meio de uma Guerra Civil. Só que o Santos era tão amado que as partes aceitaram um cessar-fogo no dia da partida. Ficou conhecido como o “Dia em que o Santos parou a guerra”, contou Pelé nas redes sociais, em 2020.
Em Nova York durante os anos 1970, o Rei do Futebol ganhou status de celebridade. Frequentava eventos na cidade ao lado de grandes astros, do cantor Frank Sinatra ao artista Andy Warhol – o mundo inteiro queria encontrar Pelé e ser fotografado ao lado de seu sorriso. “Você é a única celebridade que, em vez de durar 15 minutos, durará 15 séculos”, disse Warhol a Pelé.
Pelé foi ainda recebido na Casa Branca, tanto pelo presidente republicano Gerald Ford como por seu sucessor, o democrata Jimmy Carter.
Sua condição de estrela global chegou a Hollywood com o filme Fuga para a Vitória (1981), dirigido por John Huston, em que Pelé atuou ao lado do ator britânico Michael Caine, do americano Sylvester Stallone e do sueco Max von Sydow.
A experiência de Pelé como artista também incluiu a música. Pelé sempre disse que, se não fosse jogador de futebol, teria se dedicado à carreira musical, pois adorava escrever sambas. Apesar de admitir não cantar bem, Pelé fez um dueto com Elis Regina, em 1969, e no final dos anos 1970 gravou um disco com Sérgio Mendes, com destaque para a faixa “Meu Mundo É uma Bola”.
Ainda, foi Ministro dos Esportes entre os anos de 1995 e 1998, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. No comando da pasta, mudou a chamada Lei Zico, que passou a ser chamada de Lei Pelé, seguindo em linhas gerais as diretrizes da Fifa para contratação de jogadores.
PELÉ, OU MARADONA?
LUTAS
A grandeza de Pelé vai além dos campos de futebol. Edison Arantes do Nascimento, como foi batizado, teve uma infância humilde, em que chegou a passar fome. Quando se mudou para São Paulo, segundo ele, um dia chegou à sua casa na hora do jantar para encontrar a mãe, Celeste, em prantos porque não havia comida para alimentar a família.
Para ajudá-la, vendeu amendoim e engraxou sapatos – sendo que sua caixa de engraxate, além de ser um de seus orgulhos, é uma das peças fundamentais do Museu Pelé, criado em 2014.
Uma questão necessária na discussão que envolve Pelé é a racial. Pelé não entrava muito na discussão, mas já afirmou que sofreu diversas vezes racismo enquanto jogava.
Em uma discussão, a jornalista Angélica Basthi explorou o tema em seu livro Pelé: estrela negra em campos verdes. A jornalista mencionou que mesmo sem o Rei falar sobre a questão, a trajetória do jogador contribuiu para a questão racial brasileira mesmo sem seu engajamento.
“O talento e a trajetória do Pelé foram fundamentais para arrancar o espaço e o reconhecimento para o negro no futebol brasileiro, mesmo que ele nunca tenha se envolvido diretamente no combate ao preconceito racial”, completou.
Em um episódio mais recente, sobre o jogador Vinicius Junior, Pelé se manifestou sobre as falas racistas do empresário Pedro Bravo direcionadas ao atacante do Real Madrid. O Rei do Futebol condenou o caso de racismo ao brasileiro e ressaltou que as pessoas negras precisam continuar lutando pelos seus direitos.
“É mais que isso. É uma verdadeira festa. Apesar de que, infelizmente, o racismo ainda exista, não permitiremos que isso nos impeça de continuar sorrindo. E nós continuaremos combatendo o racismo todos os dias desta forma: lutando pelo nosso direito de sermos felizes e respeitados”, escreveu Pelé, nas redes sociais.
O MELHOR TIME DA HISTÓRIA
Sem Pelé, a Seleção não teria essa força
Na última semana, Durante o programa “Os Donos da Bola” da TV Band, o comentarista Neto, defendeu Pelé de críticas sobre a falta de posicionamento do Rei do Futebol na luta antirracista.
“O Pelé, que tá lá no Albert Einstein, sempre foi crucificado pela mídia geral por não falar do racismo. Mas ele não precisava, e nunca precisou. Por que em todos os lugares que ele entrou, as pessoas que eram brancas, que eram ‘reis’ e ‘rainhas’, abaixavam a cabeça para o Rei. Ele nunca precisou. E ele foi o maior, e continua sendo, em relação ao racismo, porque nenhum outro negro entraria onde ele entrou. Então ele já fazia isso sem ter que falar, como hoje a gente tem que falar”.
O comentarista defendeu que Pelé é o maior jogador de futebol de todos os tempos e que o Santos é o maior time do mundo por ser a equipe em que ele se consagrou. “O Pelé foi crucificado por muita gente nesse país que não sabe que a camisa amarela só foi forte por causa dele. Respeito todos os outros, mas sem ele, (a seleção brasileira) não seria essa força toda”.
Da mesma forma, na última semana, a foto de Pelé com a camisa da campanha “Diretas Já” viralizou nas redes sociais. No Twitter, a foto começou a repercutir na noite do último sábado (24) e foi parar nos assuntos mais comentados da plataforma.
A fotografia em questão foi captada no Complexo Pavão, Pavãozinho Cantagalo (PPG) no Rio de Janeiro em 1984, pelo fotógrafo Ronaldo Kotscho, da Revista Placar.
A ideia da foto veio de uma junção de forças do fotógrafo Alemão e do Rei do Futebol, que visava estampar revistas e mostrar o apoio do craque à redemocratização. A imagem foi capa do então principal periódico esportivo do país.
Apesar da imagem ter sido divulgada internacionalmente e ter chamado atenção na época, ela é pouco falada, já que Pelé nunca teve engajamento político significativo.
Na web, internautas levantaram a questão e foram em busca de dizer ou não se o ex-jogador de fato falou sobre o assunto ou se foi apenas um ‘momento vago’ de sua vida.
“Política se faz com e sem a bola. Com a bola, o rei do futebol parou duas guerras na África, decretou feriado no México. Sem a bola, com a camisa amarelinha e escudo da CBF pedindo DIRETAS JÁ e a redemocratização do país. Essa é pra quem diz que o Rei Pelé nunca se posicionou!”, defendeu um internauta no Twitter.
Nos últimos tempos, durante a pandemia do coronavírus, Pelé manteve-se isolado em casa, conversando com familiares por meio de encontros virtuais, disse seu filho Edinho, em novembro de 2020, ao SporTV. Quando voltou a fazer exames de rotina, em setembro de 2021, acabou identificando um câncer no cólon e submeteu-se a uma cirurgia para sua retirada. Ele continuou recebendo tratamento de quimioterapia, o que exigiu internações em 2021 e 2022.
Pelé driblou como pôde os problemas de saúde, mas mesmo a lenda emblemática do futebol é feita de carne e osso. No entanto, como disse diversas vezes em entrevistas, fazendo um trocadilho com sua cidade natal: “Nunca tive medo de morrer, sou um homem de Três Corações”. Seu legado continua.