O juiz federal Sergio Moro observou que “há, é certo, quem se oponha ao movimento anticorrupção, normalmente quem dele se beneficia. A vergonha está com eles”. Ele frisou que “não se pode afirmar que não houve mudanças no quadro de impunidade” para crimes de “poderosos” após a deflagração da Operação Lava Jato.
O juiz federal Sergio Moro afirmou que, apesar da permanente sombra do retrocesso, “não se pode afirmar que não houve mudanças no quadro de impunidade” para crimes de “poderosos” após a deflagração da Operação Lava Jato.
O magistrado observou que “há, é certo, quem se oponha ao movimento anticorrupção, normalmente quem dele se beneficia. A vergonha está com eles. É claro, também há pontuais críticas desinteressadas, nenhuma ação pública está imune a elas. Em relação a elas, cumpre debater e eventualmente acolher. Mas quem mais importa são os amigos e, ainda que sob a sombra do retrocesso, são eles inúmeros”.
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o juiz, que é responsável na Justiça de primeira instância pelos processos decorrentes da investigação, falou sobre as semelhanças entre operação Mãos Limpas, investigações de combate à corrupção ocorrida na Itália há 25 anos, e a Lava Jato.
“Em ambas, as investigações revelaram não um ou alguns grandes crimes de corrupção, mas um sistema organizado de corrupção, na prática, a captura do Estado para o favorecimento de certos grupos empresariais privados, em detrimento da competição, tendo por contrapartida o pagamento habitual de vantagem financeira a agentes públicos e a agentes políticos para enriquecimento pessoal e financiamento ilícito eleitoral”, disse.
Sergio Moro avaliou que, apesar das causas da corrupção sistêmica ainda não terem sido enfrentadas, há que se manter a esperança de que a Lava Jato abriu “um caminho sem volta e que a impunidade dos barões da corrupção está com seus dias contados”. Ele acrescentou ser necessário que haja mudanças, “como a execução da pena a partir de uma condenação em segunda instância”, para a consolidação dessa perspectiva.
“O loteamento político de cargos públicos e que está na origem dos crimes na Petrobrás permanece forte como sempre, por exemplo. Se houver uma contínua pressão da opinião pública, imagina-se que até mesmo nossas lideranças políticas emperradas terão que adotar uma postura reformista quanto a esses temas. Mas é frustrante ver como isso é demorado”, completou.
Uma pesquisa do Instituto Ipsos Pulso Brasil divulgada pelo jornal, na segunda-feira (23), mostra que 94% dos brasileiros defendem que a Operação Lava Jato avance, o que significa que “as investigações deveriam continuar até o fim, custe o que custar”.