Na última quinta-feira (18), a União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes) deu início a exibição do Cinema com Partido – 2ª Mostra Democrática. De forma remota este ano em decorrência da pandemia, todas as quintas ocorrerá a exibição de filmes, seguidos por debates sobre as obras e os temas apresentados.
“Em tempos de pandemia, em que o obscurantismo e o negacionismo são utilizados como arma contra a ciência e a razão, o Cinema com Partido busca oferecer uma alternativa real de debate democrático sobre os mais diferentes que influenciam a sociedade brasileira”, diz a Umes.
A estreia da mostra contou com a exibição do filme ‘A vida de Galileu (1975)’, com a apresentação e debate realizado por Lucas Chen, presidente da Umes e Valério Bemfica, presidente do Centro Popular de Cultura da Umes (CPC-UMES).
O filme conta as observações astronômicas de Galileu que, utilizando o recém-inventado telescópio, reforçaram a teoria de Copérnico de que a Terra gira em torno do Sol – e não o oposto, como queria a Igreja. Em 1616 a Inquisição começa a julgar o cientista por “prejudicar a Fé Sagrada ao tomar a Sagrada Escritura como falsa”. O filme adapta a peça de Bertolt Brecht, que Losey dirigiu na Broadway, em 1947, com Charles Laughton no papel de Galileu.
Ao abrir o debate, o presidente da Umes, Lucas Chen, relembrou que o filme em questão e a mostra como um todo, tornou-se ainda mais contemporânea e necessária na atual situação do país. “ A Mostra Democrática Cinema com Partido é uma atividade muito importante nos dias atuais. Ela fala de retrocesso, pandemia, crise sanitária, um presidente negacionista, que joga contra a ciência, contra a vacina. Todos esses temas foram retratados ao longo da história do cinema, das mais diferentes narrativas. Temas como esse, fazem parte da nossa proposta de exibição e debate, para que o nosso país consiga superar este momento de crise”, disse.
“Quando exibimos o filme pela primeira vez há alguns anos atrás, nós não tínhamos ainda presenciado firmemente, a política criminosa, arbitrária e anti-povo de Bolsonaro, que não só se atenta aos crimes a saúde, a crise sanitária, a ciência e tecnologia, mas que também já realizou diversas atrocidades com os estudantes, como os cortes das verbas na Educação e na Ciência. Temos um presidente que nega a ciência e que hoje fortalece ainda mais o discurso do obscurantismo e da perseguição”, destacou Chen.
Valério Bemfica, começou sua fala introduzindo aspectos do filme e da peça de Bertold Brecht em que foi baseada o filme até chegar nas discussões do negacionismo e nas questões atuais, propriamente ditas.
“O filme, baseado em uma obra de Bertold Brecht, chamada A Vida de Galileu, sendo uma história bem recorrente. Em muitos momentos da história da humanidade, cientistas e pessoas que pensavam e duvidavam de alguma questão recorrente ou verdade absoluta, passam a ser vistas como inimigas e logo, tendo que ser combatidas”.
“O filme oferece ao público uma analogia entre o processo de perseguição vivido por Galileu e os tempos atuais. Essa obra traz questões muito semelhantes às que a gente vive hoje. Nos altos escalões do governo, a mentalidade criacionista e anti ciência é dominante, principalmente vista com a pandemia. Além das discussões de anticiência, antivacina que já perpetuava na época, encontramos a mesma discussão, fervorosa no país, que nos deixa à mercê da maior catástrofe sanitária já vista. Veja também, há 2,5 mil anos, já se considerava que a Terra era esférica. Mas hoje também tem gente dizendo que a Terra é plana, ou seja, um retrocesso de mais de 2 mil anos de conhecimento da humanidade”, disse.
“O filme traz uma questão importante, sobre o papel da ciência e como ela pode ser transformadora para abalar as estruturas. Além disso, o filme mostra as análises das verdades e de como elas se projetam como absolutas, levando em conta as crenças ou as opiniões. Tem coisas que podem ser opiniões, mas tem outras que são as verdades lógicas, embasadas em conteúdo e estudos”.
“A discussão que temos que fazer é onde está a ciência e onde está o obscurantismo e o negacionismo. Acreditar somente na palavra que foi ‘revelada’ era o instrumento de dominação da época. E o conhecimento abala as estruturas. É isso que temos que ter consciência e é o conhecimento que precisamos preservar. Também faz parte que uma entidade como a Umes, que defende a Educação, que defende a ciência, o saber e a Cultura, tem um papel fundamental neste momento que é fazer a defesa do conhecimento contra o obscurantismo e o negacionismo”, apontou Valério.
Veja o debate na íntegra:
https://www.facebook.com/UMES.SP/videos/888196248417029
O Cinema com Partido – 2ª Mostra Democrática acontece todas as quintas-feiras pontualmente às 19 horas na sala virtual do Cine-Teatro Denoy de Oliveira. Para participar das sessões do Cinema com Partido, basta entrar em contato conosco pelo nosso Whatsapp: +55 11 94662-6916 – ou pelo nosso email: cineteatro@umes.org.br
A próxima sessão será em 25 de março, com “O julgamento do Macaco”, de Stanley Kramer (1960). O debate que acontece logo após o filme será com Walter Neves, professor do Instituto de Biociências da USP, é conhecido como o “pai” de Luzia, o mais antigo crânio humano encontrado nas Américas.