Fechada há quase 15 meses e completamente abandonada, a Cinemateca Brasileira – espaço que guarda o maior e mais importante acervo cinematográfico do país – pode já ter perdido 1.000 filmes.
A informação é de fontes ouvidas pelo colunista Ricardo Feltrin, do Uol, que afirmam que o acervo da Cinemateca está em estado avançado de deterioração. O espaço está fechado (e sem gestão nem mesmo de segurança) por consequência da decisão do governo federal de romper o contrato de administração e manutenção do espaço e seu acervo com a Associação de Comunicação Educativa Roquete Pinto (Acerp).
Apesar de incalculável, já que o galpão histórico que abriga a Cinemateca continua inacessível, estima-se que de 600 e 1.000 películas podem já ter sido perdidas completamente.
O espaço localizado em São Paulo tem cerca de 90 mil filmes catalogados e abriga mais de 250 mil rolos – um acervo que conta a história do audiovisual no Brasil desde 1897 e é considerado um dos maiores do mundo. Parte deste acervo é composto de películas de nitrato de celulose, material que, além de precisar de cuidados de conservação constantes, é altamente inflamável e de difícil contenção.
O desastre anunciado pode ir além da perda de um inestimável bem histórico e cultural. Técnicos afirmam que um incêndio no local coloca em risco pelo menos 15 residências próximas.
Abandono
O governo de Jair Bolsonaro através da sequência de secretários de cultura terraplanistas decidiu unilateralmente romper com o contrato de gestão com a Acerp (que venceria apenas em maio desde ano) em 2019.
Abandonada e sem administração, a Cinemateca permaneceu sob os cuidados da Fundação e da Associação dos Amigos da Cinemateca até abril do ano passado, sem que o governo concordasse em firmar nem mesmo um contrato de trabalho temporário com os funcionários que permitisse a manutenção mínima da instituição.
Enquanto a disputa passava para o campo jurídico, a Acerp declarou que a dívida com da União com a gestão (inclusive salários) passava dos R$ 14 milhões, e então interrompeu as suas atividades.
Desde setembro, uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) visa a estabelecer um acordo para que sejam implementadas medidas emergenciais pela preservação do acervo e do prédio histórico localizado na Vila Mariana.
Entre as ações de emergência pleiteadas pelo MPF-SP está o restabelecimento do Conselho Consultivo da Cinemateca; e a recomposição do quadro de funcionários e da zeladoria do edifício, permitindo, assim, o funcionamento da instituição dentro de normas de segurança.
O governo federal, que já declarou a intenção de transferir o acervo da Cinemateca para Brasília, promete “reabrir” o espaço sob a batuta da ex-secretária de Cultura Regina Duarte em agosto deste ano.
“A Cinemateca já enfrentou muitas crises, mas este abandono total, este descaso e esta vontade do governo em atacar um órgão que cuida da memória audiovisual é assustadora. […] Nós queremos mobilizar a sociedade, porque a Cinemateca pertence a ela, não aos cineastas. A Cinemateca constitui um patrimônio da sociedade civil”, diz o cineasta Roberto Gervitz, Representante da Associação dos Amigos da Cinemateca.