“Em seu escritório em Londres, em 2 de novembro de 1917, [Lord Arthur] Balfour assinou uma carta prometendo a terra da Palestina à Federação Sionista, um movimento político recém estabelecido cujo objetivo era a criação de um Lar Nacional para os europeus judeus. Ele prometeu uma terra que não era sua, ignorando os direitos políticos de quem já morava lá”, declarou em carta aberta o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abbas.
Ao entregar a carta a quem seria pouco mais de 30 anos depois o primeiro presidente de Israel, Chaim Weissman, presidente da Federção Sionista Internacional, atendendo ao lobby do banqueiro Rotschild, Balfour, então secretário de assuntos estrangeiros do governo britânico, iniciou o processo de legitimação do movimento sionista que viria a implantaria o atual regime de apartheid israelense em meio à uma das mais odiosas limpezas étinicas da história.
O presidente palestino e também líder do movimento de libertação, Al Fatah, criado por Yasser Arafat, lembra os 100 anos “desta política britânica, que apoiou a imigração sionista na Palestina ao mesmo tempo em que negava o direito árabe-palestino à autodeterminação, criou tensões severas entre os imigrantes judeus europeus e a população palestina nativa. A Palestina (o último ponto da agenda de descolonização) e nós, sua gente, que procuram nosso direito inalienável à autodeterminação, sofremos nossa maior catástrofe, em árabe al Nakba”.
LIMPEZA ÉTNICA
Abbas denuncia a limpeza étnica que possibilitou a implantação de Israel, e a instalação de um regime de apartheid sobre o povo palestino: “Em 1948, as milícias sionistas expulsaram pela força de mais de 800 mil homens, mulheres e crianças de sua terra natal, perpetrando massacres horríveis e destruindo centenas de aldeias no processo”.
“A declaração de Balfour não é algo que pode ser esquecido. Hoje em dia, os palestinos somam mais de 12 milhões e estão espalhados por todo o mundo. Alguns foram expulsos de sua pátria em 1948, com mais de 6 milhões vivendo no exílio até hoje. Aqueles que conseguiram permanecer em suas casas são aproximadamente 1,75 milhões e vivem em um sistema de discriminação institucionalizada no que é hoje o estado de Israel”.
Ele ressalta ainda que “aproximadamente 2,9 milhões de pessoas vivem na Cisjordânia sob uma ocupação militar – converteida em colonização, dos quais 300 mil são os habitantes nativos de Jerusalém, que até agora têm resistido às políticas destinadas a expulsá-los da cidade. Dois milhões vivem na Faixa de Gaza, uma prisão a céu aberto sujeita a uma destruição regular através da força total do aparelho militar de Israel’.
“O ato físico de assinar a declaração Balfour é algo do passado, não é algo que possa ser alterado”, reconhece Abbas, mas adverte que “é algo que pode ser feito melhor. Isso exigirá humildade e coragem. Será necessário chegar a um acordo com o passado, reconhecendo os erros e tomando medidas concretas para corrigir esses erros”.
Abbas destaca “os commissos profundamente dolorosos por causa da paz, começando com a decisão de aceitar um Estado em apenas 22% de nossa pátria histórica, passando pelo reconhimento do Estado de Israel, sem qualquer reciprocidade até este momento”.
“Temos apoiado a solução de dois estados nos últimos 30 anos, uma solução cada vez mais impossível a cada dia que passa. Enquanto o Estado de Israel continuar a ser celebrado e recompensado, ao invés de prestar contas frente às normas universais por suas contínuas violações do direito internacional, não terá incentivo para acabar com a ocupação. Isto é agir de forma míope”.
Na carta, Abbas adeverte que: “Israel e os amigos de Israel devem perceber que a solução de dois estados pode desaparecer, mas o povo palestino ainda estará aqui. Continuaremos a lutar pela nossa liberdade, quer essa liberdade venha através da solução de dois Estados ou, em última análise, pela igualdade de direitos para todos os que habitam a Palestina histórica”.
Ao governo inglês exige: “É hora de o governo britânico fazer sua parte. Passos concretos para acabar com a ocupação com base no direito internacional e as resoluções, incluindo a mais recente, a resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU, bem como o reconhecimento do Estado da Palestina na fronteira de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital, podem contribuir, para os direitos políticos do povo palestino”.
E conclui: “Somente quando que esta injustiça seja aceita como tal, teremos as condições para uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, para o bem dos palestinos, dos israelenses e do resto da região”.
A premiê inglesa, Theresa May recebeu o chefe do apartheid israelense, Bibi Netaniahu e declarou que a Inglaterra se sente orgulhosa pela declaração Balfour. Manifestações de religiosos judeus em Londres e de palestinos em Gaza e Cisjordânia repudiaram a carta e as celebrações sionistas em sua homenagem.
NATHANIEL BRAIA