A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) manifestaram preocupação com o ataque ao repórter Gabriel Luiz, da TV Globo.
O repórter de 29 anos é editor do DFTV, da TV Globo em Brasília e foi esfaqueado por dois homens no fim da noite de quinta-feira (14), na porta do prédio onde mora, na capital federal. Foram 10 facadas e a suspeita é de que tenha sido vítima de um atentado, já que nenhum pertence da vítima foi levado..
“Diante do ataque sofrido na noite desta quinta-feira, em Brasília, pelo repórter da TV Globo Gabriel Luiz, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) pede a apuração rigorosa do crime. Gabriel levou cerca de dez facadas no pescoço, no abdômen, no tórax e na perna e está internado no hospital em estado muito grave”, disse a ABI em nota.
A associação destacou que os pertences do jornalista não foram levados no crime, o que é um indício de que não se tratou de um assalto. A ABI destaca que o atentado acontece em meio a um cenário de hostilidade e violência contra jornalistas que é estimulado diretamente pelo governo Jair Bolsonaro (PL).
“Não se sabe ainda se o crime – gravado por câmeras de vídeo – tem relação com a atividade profissional de Gabriel, mas ele se insere num quadro inaceitável de hostilidade a jornalistas e de crescimento da violência no País, estimulado pelo governo federal”, afirma a ABI.
A Abraji também destacou que “a motivação do crime também não foi esclarecida” e ressaltou que “a violência empregada contra a vítima e o local onde o crime ocorreu, uma região de baixa criminalidade”. “A Abraji repudia a violência cometida contra o jornalista e pede rigor por parte das autoridades do Distrito Federal na apuração do episódio, com especial atenção para a possibilidade de o crime ter ocorrido em decorrência do exercício da profissão. Gabriel Luiz tem histórico de reportagens investigativas”, disse a entidade.
Assim como a ABI, a Fenaj apontou que há uma escalada de violência contra profissionais de imprensa. “Diante da escalada da violência contra jornalistas no Brasil, é preciso uma averiguação criteriosa da motivação do crime, para que seja esclarecido se está vinculado ao exercício profissional. A FENAJ reitera seu repúdio à violência, em especial a praticada contra profissionais da imprensa, que cumprem o importante papel de levar informações verdadeiras à sociedade. Solidarizamo-nos com Gabriel Luiz e seus familiares”, declarou a Fenaj em nota.
ATAQUE
Gabriel foi atingido por diversos golpes no pescoço, no abdômen, no tórax e na perna. Ele teve perfurações no estômago, no pulmão, no pâncreas e no diafragma. Também no braço e no pulso, no pescoço e na perna esquerda, com menor gravidade.
Nesta sexta (15), parentes de Gabriel informaram que ele passou por cirurgias durante a madrugada e pela manhã. Todas as operações foram bem-sucedidas e ele se recupera em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Seu estado é grave, mas estável.
Câmeras de segurança registraram a aproximação dos criminosos. As imagens mostram, primeiro, o jornalista passando pelo local. Um suspeito aparece logo em seguida e outro, atrás. Mais à frente, a dupla atacou Gabriel. Em seguida, os dois saíram correndo em fuga.
Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) detalhou que, ao chegar ao local, Gabriel estava debaixo de uma marquise, tentando conter o sangramento das perfurações no abdômen, no pescoço e na perna esquerda. “Devido à proximidade do Grupamento de Bombeiros do Sudoeste e o local do atendimento, os militares chegaram muito rápido, fato que reduziu consideravelmente a perda de volume sanguíneo”, explicou o CBMDF.
A equipe conteve o sangramento e levou o jornalista para o Hospital de Base, onde ele realizou as cirurgias na madrugada.
A Polícia Civil do Distrito Federal encontrou o celular do jornalista e a carteira no local do crime, nesta sexta. Até então, o aparelho estava desaparecido. O celular foi localizado por um morador da região, caído no chão. O homem repassou o aparelho a um investigador da Polícia Civil, que levou o objeto até a 3ª Delegacia de Polícia, no Cruzeiro, que investiga o crime. A corporação diz que não descarta nenhuma hipótese para o ataque, inclusive a motivação política.
CLUBE DE TIRO
Gabriel fez uma matéria na última segunda-feira (11) denunciando o funcionamento perigoso de um clube de tiro em Brazlândia, uma região administrativa do Distrito Federal. Há suspeita de que os donos sejam apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
A Polícia Civil do DF investiga várias linhas como motivação para o crime e, inclusive a veiculação desta reportagem.
Inaugurado recentemente, o estande de tiro fica às margens da BR-251 e tem deixado moradores da vizinhança desesperados, já que as balas saem do que deveria ser um perímetro de segurança, atingindo lotes residenciais e rurais nos arredores. A população local mostrou dezenas de projéteis de revólveres, pistolas e fuzis, assim como os furos em paredes e árvores dos imóveis.
Um homem que vive num lote vizinho diz na reportagem dirigida por Gabriel que “não vai perder sua vida porque esse pessoal fica aí”, enquanto outro contou a estratégia que usa quando os projéteis cruzam as cabeças de trabalhadores de uma roça instalada atrás do clube. “A gente vê as balas zuando aí e aí só abaixa”, disse o agricultor na matéria.
Gabriel mostra ainda que o fundo do lugar onde ficam colocados os alvos é protegido apenas por um barranco baixo e uma camada de pneus na parte superior, o que não é o suficiente para evitar que as balas atinjam os vizinhos.
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