Para o presidente-executivo da entidade, José Velloso, “taxa de investimento precisa se aproximar de 25% na participação do PIB para que o país tenha condições de crescer a 4% ou 5% ao ano”. O indicador encerrou 2022 em 18,8%
Para o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, a alta taxa de juros no país foi responsável pela queda de 1,1% nos investimentos no quarto trimestre do ano passado, em relação ao terceiro trimestre, contribuindo para a variação de apenas 0,9% na Formação Bruto de Capital Fixo (FBCF) no ano. “A FBCF é essencialmente ligada ao crédito”, ressaltou Velloso.
No ano de 2022, a taxa de investimento -proporção entre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e o Produto Interno Bruto (PIB) -encerrou em 18,8%, enquanto o registrado em 2021 foi de 18,9%.
“Todos os economistas, de qualquer linha de pensamento, reconhecem hoje que a taxa de investimento precisa se aproximar de 25% na participação do PIB para que o país tenha condições de crescer a 4% ou 5% ao ano”, afirmou Velloso em entrevista ao Valor Econômico na quinta-feira (2). “Mas, além dessa queda da Formação Bruta de Capital Fixo no último trimestre, causada em grande parte pelo alto custo de financiamento, existe esse problema estrutural que precisa ser resolvido”, declarou.
A FBCF mede o que investe o país em bens de capital, máquinas, equipamentos e material de construção e outros. De acordo com o executivo da Abimaq, cerca de 50% da FBCF no país são representados pela construção civil; o setor de máquinas e equipamentos (bens de capital) responde por 33%; e o restante é resumido por outros investimentos. Nesse contexto, Velloso explica que o crescimento dos investimentos em 2022 foi praticamente todo puxado pela construção civil.
Segundo o IBGE, a participação do setor de máquinas e equipamentos na FBCF no PIB do ano passado caiu -7,3%.
“Do nosso lado, de máquinas e equipamentos, a nossa contribuição foi muito baixa. O motivo principal é a falta de crédito”, afirma Velloso, citando pesquisa interna indicando que, atualmente, 80% das máquinas comercializadas no país estão sendo adquiridas pelo capital próprio de quem compra.
Para o empresário, é uma inversão em relação ao cenário histórico, antes, 80% das máquinas e equipamentos eram financiadas. “Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Em países com crescimento sustentável, quem compra uma máquina quer pagar ela com o tempo equivalente à depreciação dela, que é, em média, 5 anos”, disse Velloso.
“As pequenas e as médias indústrias ficam chupando o dedo e não conseguem investir. Hoje, uma taxa média do Finampe, no BNDES, está em torno de 22% ao ano. Nessa condição, a máquina não se paga”, disse o empresário.
Crítico do alta patamar das taxas de juros cobradas nos empréstimos do BNDES, com a eleição do presidente Lula, José Velloso manifestou no ano passado que as mudanças no banco de fomento renovam a expectativa do setor de máquinas e equipamentos pela redução do custo de se tomar dinheiro emprestado a longo prazo, conforme vem sinalizando Aloysio Mercadante, presidente do BNDES.
Com os juros altos inibindo o consumo de bens e os investimentos no país, a economia brasileira caiu -0,2% no 4º trimestre de 2022 na comparação com o trimestre anterior. No mesmo período, o PIB da Indústria de Transformação recuou 0,3%.
Segundo projeções da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), “diante da expectativa de um período mais longo de juros elevados, com desaceleração da economia brasileira, especialmente no 1º semestre de 2023”, o PIB da Indústria pode encerrar o ano de 2023 com queda de 0,4%, informou a entidade em nota divulgada na quarta-feira (2).