General Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, foi monitorado, assim como outros ex-ministros do governo bolsonarista
Segundo veiculou o Jornal da Band, a Abin, durante o governo Bolsonaro, também, espionou ilegalmente ex-governadores, ministros do STF e deputados que se afastaram do ex-presidente.
O caso da chamada “Abin paralela”, do então presidente Jair Bolsonaro (PL), vai ganhando contornos muito parecidos com a época da ditadura militar (1964-1985). A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) espionou ilegalmente, durante o governo do ex-presidente, ministros rompidos com o ex-chefe do Executivo, integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) e senadores que compuseram a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 no Senado.
Na lista de autoridades monitoradas ilegalmente, estão, ainda, deputados que se distanciaram de Bolsonaro e ex-governadores. Por óbvio, tanto o ex-presidente quanto outros alvos da investigação rechaçam a existência de ilegalidades na agência.
A PF (Polícia Federal) investiga se o aparato da Abin foi utilizado, durante o governo Bolsonaro, para espionar adversários políticos e ministros do Supremo.
No último dia 25, o ex-diretor-geral da agência, Alexandre Ramagem, que é deputado federal pelo PL fluminense, foi alvo de busca e apreensão. Ele é suspeito de ter comandado o órgão paralelo.
BUSCA E APREENSÃO NOS ENDEREÇOS DE CARLUXO
Na última segunda-feira (29), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho “02” do ex-chefe do Executivo, teve endereços vasculhados pelos policiais.
Segundo o Jornal da Band, a lista de monitorados inclui 4 ministros que participaram do governo do ex-presidente:
• Abraham Weintraub (Educação);
• Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública);
• Flávia Arruda (Secretaria de Governo); e
• General Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).
Antigos aliados de Bolsonaro, Santos Cruz e Weintraub romperam com o ex-chefe do Executivo após deixarem as respectivas pastas. Só a presença na lista do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, é que desperta curiosidade, se a lista for autêntica. Porque Torres sempre foi muito próximo de Bolsonaro. Está envolvido no decreto golpista e nos atos fascistas de 8 de janeiro. Por que Torres foi monitorado?
SENADORES NA LISTA DA ARAPONGAGEM
A notícia informou que a “Abin paralela” monitorava senadores que fizeram parte da CPI da Covid-19, no Senado, instalada para investigar irregularidades do governo Bolsonaro durante a compra de vacinas e o combate à pandemia.
Os três integrantes da Mesa Diretora do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Sem Partido-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL), estão na lista.
Outros senadores do colegiado monitorados teriam sido Rogério Carvalho (PT-SE), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PI) e Alessandro Vieira (MDB-SE).
A ex-senadora e atual ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB) e a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) estão na lista de autoridades espionadas.
DEPUTADOS ESPIONADOS
O jornal informou ainda que a Abin monitorou o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) e o ex-deputado Alexandre Frota (Sem Partido-SP), que eram aliados de Bolsonaro, mas se afastaram no decorrer do mandato do ex-presidente.
O jornal da Band também citou que o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PSDB-RJ) foi espionado ilegalmente.
MAIS AUTORIDADES ESPIONADAS
A lista das autoridades investigadas pela agência de inteligência inclui o ex-governador do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e o ex-governador de São Paulo, João Doria (Sem Partido).
A espionagem atingiu o STF, com o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, e os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes no balanço de monitorados.
ENTENDA COMO FUNCIONAVA A “ABIN PARALELA”
Segundo a investigação da PF, durante o período em que Ramagem comandou a Abin, servidores usaram indevidamente software israelense de espionagem chamado “FisrtMile”.
O sistema é capaz de detectar indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G.
Em outubro do ano passado, durante a deflagração da Operação Última Milha, a PF identificou que o FisrtMile foi utilizado pela Abin em 33 mil monitoramentos ilegais.
Desses usos da ferramenta de espionagem, 1.800 foram destinados à espionagem de políticos, jornalistas, advogados, ministros do STF e adversários do governo do ex-presidente.
“ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA”
Os investigadores da PF chamaram as pessoas apontadas como responsáveis pelo monitoramento ilegal de “organização criminosa”.
“O grupo teria criado uma estrutura paralela na Abin e utilizado ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal”, está escrito em comunicado divulgado pela corporação.
“ABIN PARALELA”
Na última quarta-feira (31), o novo diretor-adjunto da Abin, Marco Cepik, afirmou que todas as descobertas feitas pela PF apontam a existência de uma “Abin paralela”.
Cepik foi nomeado para o cargo de diretor-adjunto, na última terça-feira (30), após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitir Alessandro Moretti, que era ligado ao ex-presidente. “Temos que aguardar o final dos processos investigatórios nas instâncias para verificar a comprovação não apenas de que se houve, mas de quem estava ali”, afirmou.
Veja a lista das autoridades monitoradas, segundo o Jornal da Band, por determinação de Bolsonaro:
Ex-autoridades:
• Abraham Weintraub – ex-ministro;
• Anderson Torres – ex-ministro;
• Flávia Arruda – ex-ministra;
• General Carlos Alberto dos Santos Cruz – ex-ministro;
Deputados:
Kim Kataguiri;
Alexandre Frota – ex-deputado;
Rodrigo Maia – ex-deputado;
Senadores:
• Otto Alencar;
• Soraya Thronicke;
• Renan Calheiros;
• Rogério Carvalho;
• Omar Aziz;
• Humberto Costa;
• Randolfe Rodrigues;
• Simone Tebet – agora é ministra do Planejamento;
• Alessandro Vieira;
• Roberto Barroso;
• Gilmar Mendes;
• Alexandre de Moraes;
Governadores:
• Joao Dória – ex-governador de SP; e
• Camilo Santana – ex-governador do CE, atual ministro da Educação.