Sem crédito emergencial, indústria e comércio preveem demissão de 3 milhões de trabalhadores, alertam empresários
Sem acesso à credito para atravessar a crise causada pela pandemia do coronavírus, empresas da indústria e comércio começam as demissões em massa e preveem que o impacto será de, ao menos, 3 milhões de cortes.
“Nenhuma ação de crédito chegou à ponta. Empresas de pequeno e médio porte estão sem capital de giro. Aqueles que recebidos pelos bancos encontram juros no dobro do que tinham. Isso vai empurrar ainda mais as empresas para problemas”, afirma José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
O setor representado pela entidade já demitiu 11 mil funcionários, de acordo com levantamento realizado entre os dias 30 de março e 03 de abril. A decisão de dispensar trabalhadores diante das dificuldades de acesso à crédito para capital de giro foi tomada por 21,5% dos associados da Abimaq; outros 63% informaram ter tomado como medida as férias individuais.
“Nenhuma ação de crédito chegou à ponta. Empresas de pequeno e médio porte estão sem capital de giro. Aqueles que recebidos pelos bancos encontram juros no dobro do que tinham. Isso vai empurrar ainda mais as empresas para problemas”, afirma José Velloso, presidente-executivo da Abimaq
A decisão de dispensar trabalhadores diante das dificuldades de acesso à crédito para capital de giro foi tomada por 21,5% dos associados da Abimaq, outros 63% informaram ter tomado como medida as férias individuais. A estimativa de Velloso à luz dos fatos é que o contingente de trabalhadores demitidos chegue a 50 mil empregados diretamente e 150 mil empregados indiretamente. Isso porque 86% dos fabricantes de bens de capital alegam ter sofrido grande piora nas suas condições financeiras desde o início da pandemia.
“Precisamos de uma enxurrada de recursos imediatamente na ponta. Não podemos enfrentar um problema novo com as velhas fórmulas de análise de crédito”, diz Joseph Couri, presidente do Simpi
Embora o governo tenha emitido 1,2 trilhões de reais para garantir a liquidez dos bancos que, em tese, deveriam oferecer crédito a baixo custo para dar uma sobrevida às empresas, os empresários do setor de máquinas e equipamentos alegam ter encontrado, em termos de condições médias, empréstimos com juros obscenos maiores que 14%, com carência de sete meses e prazo de apenas 26 meses para pagamento. 48% dos que buscaram crédito, o queriam para custear a folha de pagamento – mas apenas 11% finalizaram o processo.
Outro levantamento, este encomendado pelo sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), revela que 71% dos entrevistados não tiveram acesso a qualquer medida do governo e 91% dizem que não têm acesso a crédito. “A empresa ou vai diminuir a carga horário ou vai demitir. Precisamos de uma enxurrada de recursos imediatamente na ponta. Não podemos enfrentar um problema novo com as velhas fórmulas de análise de crédito” diz Joseph Couri, presidente do Simpi.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) calcula que, considerando queda de 41% no faturamento do varejo em março, há potencial para a demissão de 1,8 milhão de trabalhadores em três meses. “Estatísticas mostram cerca de 1,2 milhão de acordos para reduzir jornada ou suspender contrato. É um universo pequeno perto do número de trabalhadores formais, então faz pensar que o grosso do impacto ainda pode vir com demissão”, diz Fabio Bentes, economista da CNC.
Pesquisa realizada no início do mês pelo Sebrae, mostra que seis em cada dez pequenos empresários tiveram pedido de crédito negado pelos bancos. Mas não são só os pequenos e médios empresários que criticam as medidas insuficientes do governo: “Agora, ninguém quer dar dinheiro. O mundo está com medo. Por isso, em tempos assim, os governos têm de agir”, diz o presidente da companhia aérea Azul, John Rodgerson.