O Museu Nacional abrigava um acervo com mais de 20 milhões de itens que abrangia áreas como antropologia, arqueologia, etnologia, geologia, paleontologia e zoologia.
Fundado em 1818, por Dom João VI, era um importante centro de pesquisa que foi incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1946, que completou 200 anos em agosto.
O acervo do museu contava com peças históricas, como o fóssil de Luzia, o mais antigo esqueleto das Américas, além de sarcófagos e múmias do Egito Antigo e uma coleção de aves empalhadas com quase 200 anos de idade.
De acordo com a diretoria do Museu, cerca de 90% do acervo foi destruído pelas chamas. Algumas peças, como meteoritos e fósseis, têm maior chance de resistir ao fogo. Mas a maioria do acervo deve ter se deteriorado.
Do vasto acervo que a instituição possuía as áreas correspondentes a arqueologia, paleontologia, antropologia e invertebrados (no caso dessa última, cerca de cinco milhões de insetos) foram total ou quase totalmente perdidas. O mesmo vale para laboratórios e salas de aula.
O acervo paleontológico incluía fósseis de dinossauros, animais e plantas. Dentre eles o Maxakalisaurus Topai, descrito originalmente em 2006 por pesquisadores do museu, era um dinossauro quadrúpede e herbívoro de pescoço longo, pertencente ao grupo dos titanossauros, que viveu há cerca de 80 milhões de anos e media cerca de 13 metros. Os titanossauros, cujo couro era adornado por “calombos” ósseos, eram os grandes herbívoros dominantes do Brasil durante a fase final da Era dos Dinossauros. Os fósseis da espécie foram descobertos em Prata (MG).
Além do titanossauro, Oxalaia Quilombensis o maior dinossauro carnívoro já descoberto no Brasil, com até 14 metros de comprimento (comparável ao célebre Tyrannosaurus rex), focinho semelhante ao de um jacaré e hábitos semiaquáticos, estava no museu, foi descrito por pesquisadores em 2011. Fora do museu, não havia outros fósseis da espécie.
No acerto do Museu Nacional está o Meteorito Do Bendegó que foi descoberto no sertão da Bahia no fim do século 18, objeto vindo do espaço foi levado para o Rio de Janeiro em 1888 e adornava a entrada do museu, sendo a primeira peça do acervo a ser vista pelos visitantes.
A Múmia Do Atacama, um cadáver mumificado de um homem que morreu há cerca de 4.000 anos no deserto do Atacama (Chile). Sua morte pode ter sido causada por uma fratura nos ossos da face.
Com mais de 700 peças, a coleção de arqueologia egípcia do Museu Nacional é considerada a maior da América Latina e a mais antiga do continente – com múmias e sarcófagos. O caixão de Sha Amun en su era uma das atrações mais populares da seção. Trata-se de um presente que Dom Pedro 2º recebeu, em 1876, em sua segunda visita ao Egito.
Outra raridade do acervo é o trono do rei africano Adandozan (1718-1818), doado pelos embaixadores do rei ao príncipe regente Dom João 6º, em 1811.
O Museu Nacional conservava também um importante conjunto de aproximadamente 1.800 artefatos produzidos pelas civilizações ameríndias durante a era pré-colombiana, além de múmias andinas.
Uma das coleções mais valiosas do museu é a de arqueologia clássica, composta por 750 peças das civilizações grega, romana e etrusca. Devido ao tamanho e ao valor, foi considerada a maior do gênero na América Latina.
ESFORÇO
Dezenas de funcionários do Museu Nacional estiveram na Quinta da Boa Vista para tentar salvar o acervo atingido por um grande incêndio na noite do domingo.
“O prédio principal (Palácio da Quinta da Boa Vista) foi perda total, com a possível exceção da coleção de material tipo de moluscos que pude ajudar a salvar graças ao Claudio (técnico da Coleção) que nos guiou em meio à escuridão”, contou o coordenador do departamento de Ictiologia do Museu Nacional Paulo Andreas Buckup.
Os prédios dos Departamentos de Vertebrados, Botânica, Biblioteca Principal, Pavilhão de Salas de Aulas, Laboratório de arqueologia na Casa de Pedra, Anexo Alipio de Miranda Ribeiro, e anexo da coleção do Serviço de Assistência ao Ensino não foram atingidos.
Nesta segunda, um grupo de aproximadamente 15 funcionários entrou no prédio em busca de objetos e peças que possam ter escapado às chamas. Eles entraram pela porta principal, acompanhados por soldados do Corpo de Bombeiros.
Os funcionários removiam cuidadosamente restos de escombros, como pedaços de madeiras, telhas e mesmo vigas metálicas, na esperança de encontrar algum objeto de valor histórico.
Uma das primeiras peças retiradas foi um grande quadro, ainda emoldurado, carregado por quatro funcionários. O trabalho é lento e minucioso, pois muitas peças ainda podem estar em condições de recuperação, abaixo de toneladas de madeiras queimadas e telhas de barro. Os três andares do museu desabaram um por cima do outro até o chão.