“O Banco Central tem que consultar diretamente os formadores de preços. Tem que ir nos produtores, verificar ‘in loco’ se há excesso de demanda em relação à oferta. Tem que parar com achismos”, afirmou o economista Aurélio Valporto, presidente da Abradin
“O Banco Central tem que consultar diretamente os formadores de preços. Tem que deixar de ‘achismos’ para ditar sua política monetária e se conectar à realidade econômica do país. Tem que ir nos produtores, verificar ‘in loco’ se há excesso de demanda em relação à oferta”, afirmou o economista Aurélio Valporto, presidente da Associação Brasileira de Investidores (Abradin), sobre a ata do Copom, divulgada nesta terça-feira (28).
“A indústria automobilística está parando por falta de demanda, vamos ter safra recorde em 2023, a maior varejista de lojas físicas do Brasil, a Americanas S/A, acabou de declarar em seu plano de recuperação judicial que está vendendo muito menos, especialmente produtos de maior valor e que os juros provocaram aumento de preços”, observou o economista, ao contestar a afirmação do BC de que a inflação atual é causada por “excesso de demanda”.
Em artigo publicado esta semana no HP, o economista já havia alertado que não havia excesso de demanda e que os juros do BC é que estão sendo inflacionários. “A mais importante formadora de preços no varejo do país [Americanas] afirmou à Justiça que os juros impostos pelo Banco Central Brasileiro são inflacionários e recessivos! Este é o testemunho prático do quão equivocada é a política monetária executada pelo Banco Central do país”, disse Aurélio Valporto.
“O Banco Central não me parece muito preocupado com o déficit público. Como a dívida pública atual equivale a cerca de 75% do PIB, que se aproxima de R$ 10 trilhões, cada ponto percentual da Selic custa aos cofres públicos aproximadamente R$ 75 bilhões ao ano. Essa taxa não tem nenhum alicerce lógico”, prosseguiu o presidente da Abradin.
“Tenho visto alguns entrevistados dizendo que se o Banco Central baixar as taxas, terá dificuldades em financiar a dívida pública. Isso é opinião de quem nunca sentou em um mesa de open e não tem ideia de como funciona o financiamento da dívida pública. O Banco Central não só é o player dominante como ele legisla sobre o mercado. Ele dita as taxas, tanto que quando as taxas baixaram para 2% ao ano, também equivocadamente, não teve nenhum problema para financiar a dívida, ainda que ela fosse negativa em termos reais”, destacou o economista.
“O BC baixou para 2% no início da pandemia na expectativa que os juros baixos combatessem a recessão que estava se instalando. Ocorre que àquela época a retração na atividade econômica estava ocorrendo por conta da quebra nas cadeias de produção que, por sua vez, eram consequência do “lockdown”. Não precisa ter muitos neurônios operantes para saber que redução nos juros não teria o condão de resolver o ‘lockdown’ e as quebras nas cadeias de produção”, disse Valporto.
“Na verdade o que se conseguiu foi apenas fazer com que o câmbio se superdesvalorizasse, outro erro crasso que acabou sendo importante combustível para a inflação que veio em seguida. Como se vê, a administração da política monetária pelo Banco Central vem sendo desastrosa há muito tempo”, completou.
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