Jair Bolsonaro, acuado pelas investigações da CPI no Senado e em crescente isolamento, anunciou que fará uma “pequena reforma ministerial” que recria ministérios, para lotear entre sua abalada base no Congresso, e se entregar mais ainda para o Centrão.
Até agora, sinalizou que vai entregar a Casa Civil para o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e recriará o Ministério do Trabalho para acoitar Onyx Lorenzoni (DEM). Ciro Nogueira é presidente nacional do PP.
O atual ministro da Casa Civil é o general Luis Eduardo Ramos, que deverá ir para a Secretaria-Geral da Presidência, hoje chefiada por Onyx Lorenzoni.
Ramos disse que ficou sabendo da mudança através da imprensa. “Eu não sabia, estou em choque. Fui atropelado por um trem, mas passo bem”, declarou.
Atualmente, a Secretaria Especial do Trabalho faz parte do Ministério da Economia, de Paulo Guedes. O ministro Guedes já falou em diversas ocasiões que é contra o desmembramento de seu ministério.
Bolsonaro está novamente entregando parte de seu governo para parlamentares, tentando desesperadamente afastar ameaça cada vez maior de um impeachment.
Pela primeira vez desde o começo de seu governo, a maior parte da população é a favor da abertura de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro, aponta pesquisa Datafolha divulgada no dia 10 de julho.
54% da população é a favor do impedimento, enquanto 46% é contra. A impopularidade de Bolsonaro cresce por conta da criminosa gestão da pandemia e das denúncias de corrupção na compra de vacinas, que estão sendo investigadas pela CPI da Pandemia.
Segundo a pesquisa Datafolha, 70% da população acredita que o governo de Jair Bolsonaro é corrupto. 23% acreditam na idoneidade e 7% não souberam responder.
A CPI da Pandemia está investigando a contratação de 20 milhões de doses da Covaxin, tendo a Precisa Medicamentos, que já deu um golpe de R$ 20 milhões no Ministério da Saúde através da Global, como atravessadora.
Os senadores também investigam o pedido de propina do ex-diretor de Logística do Ministério, Roberto Dias, para a empresa Davati Medical Supply, que oferecia doses de AstraZeneca. A compra não caminhou por causa das denúncias.
HELENO
Em 2018, na reunião do PSL que oficializou a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência da República, o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, zombou da aliança de Geraldo Alckmin (PSDB) com o Centrão.
E cantou: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, substituindo a palavra “ladrão”, da letra original, pelo nome dado ao bloco partidário, uma paródia da música “Reunião de Bacana (Se Gritar Pega Ladrão)”, de Ary do Cavaco e Bebeto Di São João.
Depois, com a aliança cada vez maior de Bolsonaro com o grupo parlamentar, o general Heleno modulou sua política e recuou da crítica ao Centrão.
“Sobre Centrão, aquela brincadeira que eu fiz foi numa convenção do PSL, na época da campanha eleitoral. Naquela época existia à disposição na mídia, várias críticas ao Centrão. Não quer dizer que hoje haja Centrão. Isso foi muito modificado ao longo do tempo”, disse Heleno em 19 de maio deste ano.
E prosseguiu: “E eu não tenho hoje essa opinião, e nem reconheço hoje a existência desse Centrão. Naquela época é uma situação. A evolução de opinião faz parte da vida do ser humano. Então isso aí faz parte do show. Do show político”.
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