Acusação de premiê alemão sobre ameaça russa de ataque à Otan é “completa estupidez”, afirma Peskov

Estudantes alemães contra o armamentismo e incitamento à guerra pelo premiê Merz (Nette Nostlinger-Político)

O Kremlin respondeu às frenéticas declarações do primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz sobre os supostos “planos russos” de “atacar países membros da OTAN”, chamando-as de “uma completa estupidez”, através do porta-voz Dmitry Peskov.

Na segunda-feira (8), Merz, ao propagandear o rearmamento alemão e de outros estados europeus durante uma transmissão na rede pública alemã ARD, acusou o presidente russo Vladimir Putin de “se preparar para atacar a OTAN” e de pretender “restaurar a União Soviética”.

Peskov afirmou que “isso não corresponde à realidade, nem uma coisa nem outra” e considerou ainda “desrespeitoso para com nossos parceiros, nossos aliados da Comunidade de Estados Independentes, avançada forma de integração”.

Durante sua visita de Estado à Índia, respondendo a repórteres, Putin havia assinalado que “nas atuais circunstâncias, é impossível e sem sentido restaurar a União Soviética”, acrescentando que aqueles que estão espalhando essas ideias nos países ocidentais fazem isso “para assustar as populações de seus países” (e para justificar o corte dos direitos sociais dos europeus – não foi o próprio Merz que disse que “não era mais possível na Alemanha bancar o Estado de Bem Estar Social?).

Aliás, se os povos europeus ocidentais podem estabelecer uma forma de Estado multinacional, como a União Europeia, porque o critério também não poderia ser útil aos povos soviéticos?

Além disso, não foi a Rússia que se expandiu para “oeste” e agora estaria prestes a tomar Paris, mas a OTAN que se esparramou até às portas da Rússia, apesar de, quando da reunificação alemã, terem prometido a Gorbachev que não se avançaria “um centímetro” além da linha Oder Neisse, a fronteira com a Polônia.

O que prosseguiram, apesar do célebre discurso do presidente Putin na Conferência de Segurança de Munique de 2007, até incendiarem a, até então, neutra e fraterna Ucrânia.

E são os europeus que insistem, contra todas as evidências da linha de frente, em prorrogar a guerra na Ucrânia “até o último ucraniano”, reiterando sua obsessão em “infligir uma derrota estratégica à Rússia”.

Anteriormente, Putin já aconselhara os líderes europeus a esfriarem a cabeça, acrescentando que a Rússia não tem o menor interesse, ou necessidade, nessa pequena península da Eurásia, e que só precisa de que seja restaurada a segurança comum e indivisível instituída em Helsinki, sem expansão da Otan, sem sanções e sem neonazismo na Ucrânia.

Na verdade, o problema não é só com Merz, mas com os principais chefes de Estado europeus, como o francês Emanuel Macron e o inglês Keir Starmer, açulando uma “ameaça russa” como pretexto para o extenso rearmamento do velho continente, tanto sob o novo patamar de 5% do PIB decretado por Trump para gastos militares na OTAN, quanto pelos maciços créditos que vêm sendo votados para o rearmamento, até prevendo que a guerra será em 2030.

“Entramos em uma era de rearmamento”, alvoroçou-se Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, na cúpula da União Europeia que teve como pauta dobrar anualmente os gastos militares para 800 bilhões de euros [mesmo patamar do Pentágono].

Em paralelo, estão sendo votadas novas regulamentações para facilitar a militarização da Europa, isso depois das tragédias da I e da II Guerras Mundiais.

ESTUDANTES CONTRA O REARMAMENTO E GUERRA

Sob aparições de supostos drones e outras provocações, um clima de histeria vem sendo paulatinamente generalizado no velho continente. O que é mais grave quando se sabe que o Tratado INF que impediu a guerra nuclear no teatro europeu foi rasgado no primeiro mandato de Trump e já não existe, e o tratado de limitação de armas nucleares estratégicas vence no próximo fevereiro de 2026.

Nesse quadro, as manifestações de massa contra a loucura da guerra, que cumpriram um papel decisivo para a paz sob o INF nos anos 1980, começam a se espalhar pela Europa, a começar pela Alemanha, mas não apenas, com protestos também na Bélgica, Itália e França, entre outros.

O mais recente ocorreu na sexta-feira (5) quando dezenas de milhares de estudantes, em mais de 90 cidades alemãs, deixaram as aulas e foram às ruas contra o risco de guerra e a ameaça de restauração do alistamento obrigatório, lei que foi votada e aprovada nesse dia no parlamento federal (Bundestag).

A partir do início de 2026, todos os homens de 18 anos estarão sujeitos a registro obrigatório e exame médico, e assim que o número de “voluntários” for insuficiente, eles também enfrentarão a convocação obrigatória para as forças armadas.

E como o governo Merz prevê que a guerra será no máximo em cinco anos, explica-se que, no país em que a barbárie nazista chocou seu ovo, jovens tomem as ruas para denunciar, com cartazes feitos à mão, “acima a educação, abaixo os armamentos!”, “não somos carne de canhão!” e “envie Merz para a linha de frente”, como visto em Berlim, Dresden, Munique e Stuttgart.

Pais também aderiram ao protesto: “não vamos permitir que levem nossos filhos!”.

Também o Partido de Esquerda – que no início do ano votou pelos créditos para o rearmamento alemão – agora ensaia uma volta às origens e denuncia que Friedrich Merz quer “rearmar-se, ‘custe o que custar’”. “A alegação de que a Bundeswehr está subfinanciada é simplesmente falsa: a Alemanha já está em quarto lugar nos gastos globais com defesa. ”

O partido oposicionista alemão convoca a “em vez de continuar no caminho errado, aprender as lições de duas guerras mundiais e nos opor a elas com todas as nossas forças – precisamos de um forte movimento internacional antiguerra e de pressão social.”

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