A marca Bombril se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais nesta quarta-feira (17), depois de ter sido envolvida em uma polêmica com um produto de seu portfólio que existe há mais de cinco décadas, mas que ganhou visibilidade depois que internautas associaram o relançamento da lã de aço “Krespinha” a uma propaganda veiculada nos anos 1950, exibindo a figura de uma menina negra ao lado do produto. A hastag #BombrilRacista foi um dos assuntos mais digitados no Twitter durante todo o dia.
Ainda nesta quarta-feira (17), a Bombril retirou qualquer alusão ao produto Krespinha do site da empresa e, no final da tarde, divulgou nota onde pede desculpas e dá sua versão sobre o caso:
“Diferentemente do que foi divulgado nas redes sociais e mídia em geral, não se tratava de lançamento ou reposicionamento do produto. A marca estava no portfólio há quase 70 anos, sem nenhuma publicidade nos últimos anos, fato que não diminui nossa responsabilidade. Mesmo sem intenção em ferir ou atingir qualquer pessoa, pedimos sinceras desculpas a toda sociedade”, diz trecho da nota onde a empresa afirma que irá “toda a comunicação da Companhia, além de identificações que possam gerar ainda mais compromisso com a diversidade”.
Para o publicitário Fernando Lima, diretor da Anima, consultoria especializada em inteligência de marcas, o caso da Bombril permite muitas reflexões. “O que se sabe é que a associação do cabelo crespo a esse produto, na década de 50, era muito forte. O preconceito então se popularizou e ficou atrelado ao produto. Com todo esse tempo no mercado, como não se repensou esta marca?”. Para Fernando Lima, a partir do movimento “Vidas Negras Importam”, a sociedade em todo o mundo vem se mobilizando para combatê-lo e está mais atenta ao chamado “racismo estrutural”, o que explica a grande repercussão desse caso.
A gestora cultural e ativista do movimento feminista negro, Geisa Agrício, lembra que a violência simbólica atinge a população negra e não é de hoje. “Como uma campanha como essa passa batido por centenas de pessoas, pessoas que lidam com comunicação, publicidade, e não é questionada? Foi preciso que esse equívoco gerasse prejuízos a imagem da marca para ser reconhecido?”, indaga.
Geisa afirma que falta o olhar da diversidade e lamenta as consequências que esse tipo de produto associado a estereótipos causa sobre os negros. “Toda pessoa negra em algum momento da vida sofreu o racismo recreativo. É quando você pega uma característica natural da raça e faz piada, ou pior, associa a algo feio, ruim ou inferior. Agora que conseguimos construir uma geração de mulheres que assumem seus cabelos crespos sem se odiar, odiar sua própria natureza, vem algo e deslegitima isso?”, questiona. Para Geisa, não houve exagero na grande repercussão do caso nas redes sociais. “O racismo é um elefante na sala que a sociedade evita falar sobre ele”.